HOJE NO
"OBSERVADOR"
Distritais insatisfeitas.
Como Passos perdeu 20% do congresso
Espinho deu a pior votação a Passos na lista para a direção. Mais do que pela promoção de Maria Luís, distritais ficaram incomodadas com falta de representação e com as "escolhas pessoais" do líder.
O congresso do PSD de Espinho pode até ter sido um passeio para Pedro
Passos Coelho, que já tinha sido reeleito com 95% dos votos e que
chegou ao fim da reunião magna do partido sem que vozes muito altas se
tivessem levantado. Mas se no palco pouco descontentamento se viu, o
mesmo não se pode dizer na hora das votações, onde a lista do líder para
a comissão política nacional teve apenas 79,8% dos votos, o pior
resultado de sempre de Passos. Porquê? Porque não agradou as distritais.
.
Várias foram as secções que ficaram “incomodadas” com as “escolhas
pessoais” do líder e isso, mais do que a promoção de Maria Luís
Albuquerque, esteve na base da fraca votação.
“Houve quem ficasse
incomodado porque alguns dos nomes escolhidos não foram indicados pelas
distritais”, diz ao Observador um dos delegados que se apercebeu do
desconforto que ficou na sala depois de terem sido conhecidos os nomes
escolhidos por Passos Coelho para a comissão política nacional, que é o
órgão de direção política do partido mais próximo do presidente. Além
dos seis vices, onde se estreia Maria Luís Albuquerque, Teresa Morais e
Sofia Galvão, fazem também parte daquele órgão dez vogais, que, esses
sim, estão a levantar mais ondas nas bases do partido.
É o caso de Leiria, Santarém ou Braga. Admitindo que o
presidente do partido tem “legitimidade” para escolher as equipas com
quem quer trabalhar, o sentimento geral é de que Passos jogou mais uma
vez sozinho e não teve atenção à representatividade das distritais nas
urnas nem à representatividade geográfica na direção. “O problema não
está na comissão permanente (órgão mais restrito), mas nos restantes
cargos da comissão política”, diz ao Observador o líder da distrital de
Leiria, Rui Rocha, defendendo que “devia haver maior abrangência política do ponto de vista territorial”.
A comissão política nacional é uma escolha do presidente mas deve estar de alguma forma garantida a representatividade geográfica, porque é o principal órgão de definição da estratégia politica nacional. Se fosse eu tentaria garantir essa representatividade tanto quanto possível”, afirma Rui Rocha, que foi eleito vice da Mesa do Congresso.
Um
dos novos vogais escolhidos por Passos, Miguel Goulão, pertence à
secção de Leiria, mas Rui Rocha sublinha que “não foi indicado por nós”.
Ou seja, foi mais uma vez uma “escolha pessoal” que causou alguma
irritação nas hostes e que terá pesado na hora de os congressistas irem
votar: de um total de 794 delegados apenas 594 votaram na lista de Passos.
“Claro que a votação tem a ver com a apreciação que cada delegado faz
da composição integral da lista”, justifica Rui Rocha, lembrando que o
voto é secreto.
Outra das novas apostas de Passos para a cúpula do
partido foi a ex-deputada Francisca Almeida, que pertence ao círculo de
Braga mas cuja escolha, ainda assim, não agradou a distrital. “Quantas
pessoas da distrital de Braga estão efetivamente nos órgãos de
direção?”, questiona ironicamente um dirigente, sugerindo que a
ex-deputada não aparece ali em representação de Braga. “Foi
provavelmente uma indicação do Paulo Rangel”, ouviu o Observador de
outro congressista.
Já o líder da distrital de Braga, o
eurodeputado José Manuel Fernandes, é mais recatado: “Respeitamos a
estratégia do líder, são escolhas pessoais, não vamos discordar delas”,
disse ao Observador, sublinhando que “não andamos atrás de lugares”.
Em
causa está, não só o facto de Passos Coelho não ter procurado ouvir as
várias estruturas do partido, mas também a falta de proporção em função
da representatividade que tiveram nas urnas.
Um dos exemplos que é dado é
o do Algarve. “Basta olhar para o Algarve, ver a representação que tem
na comissão política ou na mesa do congresso e ver o resultado
desastroso que teve nas eleições”, ouve o Observador de um dirigente do
partido. “Há gente chateada com o Passos porque ele é teimoso e isso também se nota nestas escolhas”, diz outro delegado, este de Santarém.
Nuno
Serra, presidente da distrital de Santarém, admite o incómodo. “Há
distritais que têm mais representatividade nos órgãos nacionais e que
não tem tanta representatividade nas urnas”, diz ao Observador,
afirmando no entanto que se trata de escolhas pessoais do presidente do
partido e, como tal, não pode pôr em causa os critérios. “Não sei quais
foram os critérios, o líder saberá as razões pelas quais escolheu quem
escolheu. Se fosse pelo critério dos votos podíamos criticar, mas como é
uma assunção pessoal dele…”.
Certo é que o momento em que Passos
anunciou a composição dos órgãos nacionais foi o momento que causou
maior tensão no congresso. Ora pelo desconforto das distritais menos
representadas, ora pela promoção de Maria Luís Albuquerque ou de Sofia
Galvão, uma figura próxima de Marcelo Rebelo de Sousa mas mais apagada
no partido desde que fez parte da direção de Manuela Ferreira Leite.
Apesar das críticas feitas em surdina
pela evidente falta de renovação e pelo incómodo da escolha da
ex-ministra das Finanças, não terá sido esse o principal motivo da perda
de votos. “Alguns criticam mas no geral ela é acarinhada”, ouve o
Observador de um deputado, que lembra como Maria Luís foi bastante
aplaudida em Espinho quando foi chamada a subir ao palco.
Em todo o
caso, a lista de Passos para a direção teve a pior votação desde que é
presidente do partido. Em 2010 tinha conseguido 87,2% dos votos (677 em
774 delegados), em 2012, 88% dos votos (657 em 745) e, em 2014, 85% (660
em 773).
Nos restantes órgãos, as coisas correram melhor a
Passos. A lista que apoiava ao conselho nacional, encabeçada pelo
ex-ministro Marques Guedes, conseguiu eleger 33 conselheiros (num total
de 70), mais do que os 18 conseguidos há dois anos, quando era Miguel
Relvas o cabeça-de-lista. Também a lista para a Mesa do Congresso, que
concorria sozinha, foi eleita com 88% dos votos (655 votos em 744
votantes), um resultado semelhante ao de há dois anos. O resto foi um
passeio, com os supostos críticos a fazerem uma oposição muito pouco
ruidosa e sem apresentarem listas concorrentes. José Eduardo Martins,
por exemplo, até chegou atrasado ao congresso no domingo e, por cinco
minutos, foi impedido de votar…
* Se Passos Coelho se passeou no congresso então foi um passeio ao pé coxinho.
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