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"DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
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Chefe do Estado-Maior do Exército
sai em choque com o ministro
Presidente da República e comandante supremo das Forças Armadas aceitou o pedido de demissão do Estado-Maior do Exército
O
caso de alegada discriminação de alunos homossexuais no Colégio
Militar, com o ministro da Defesa a exigir publicamente explicações e
medidas ao Exército, terá sido a gota de água que levou o comandante do
ramo a bater ontem com a porta.
Foram
"motivos pessoais" que levaram o general a pedir "a resignação" ao
Presidente da República, disse ao DN o porta-voz do Exército,
tenente-coronel Góis Pires.
O general
Carlos Jerónimo - que se escusou a falar ao DN sobre as razões da sua
decisão - viu o Presidente da República aceitar o seu pedido de
exoneração, agradecendo "os relevantes serviços prestados ao País"
durante os pouco mais de dois anos em que exerceu as funções de chefe do
Estado-Maior do Exército (CEME).
Sem
explicações públicas e oficiais sobre a decisão do ex-CEME, fontes
militares explicam-na como consequência das declarações públicas do
ministro da Defesa - respondendo a questões do DN - a dizer que
requerera explicações sobre o que um subordinado do general (o
subdiretor do CM, tenente-coronel António Grilo) afirmara sobre a
exclusão de alunos homossexuais do colégio. Que medidas seriam adotadas
pelo Exército para evitar algo que contraria a Constituição e a lei foi
outra exigência do governante.
"O
Ministério da Defesa considera absolutamente inaceitável qualquer
situação de discriminação, seja por questões de orientação sexual ou
quaisquer outras, conforme determinam a Constituição e a Lei", disse
Azeredo Lopes ao DN, adiantando: "Foi solicitado ao Comando do Exército
[...] o devido esclarecimento sobre o teor de tais declarações, bem como
sobre as medidas que pretende adotar, enquanto responsável pelas
orientações superiores" do CM.
Segundo o Ministério da Defesa, o gabinete
do ex-CEME "foi informado por ofício" sobre a decisão de Azeredo Lopes e
"antes das declarações serem prestadas ao DN".
Note-se,
contudo, que o general Carlos Jerónimo reafirmou esta semana uma
posição contrária à assumida por Azeredo Lopes na última edição do
Expresso, sobre a capacidade das Forças Armadas em combaterem o Estado
Islâmico. "Todos os chefes militares têm dito que estamos perfeitamente à
vontade para participar em todo o espetro de conflitos atuais", afirmou
ontem ao DN o tenente-coronel paraquedista Miguel Machado, assinalando
que isso foi repetido segunda-feira, dois dias após o ministro garantir
que Portugal "não está em condições de participar no combate na Síria".
Agora,
adiantou Miguel Machado, "a ser verdade que a demissão se deve ao
"caso" Colégio Militar dos últimos dias, é bem possível" que o ex-CEME
tenha considerado "a apressada posição pública assumida pelo ministro
antes de qualquer investigação" como representando "uma absoluta falta
de respeito pelo Exército e um erro de avaliação dos factos".
Com
antigos alunos do CM a inundarem as redes sociais de críticas contra o
ministro Azeredo Lopes por causa do ocorrido, o BE anunciou ontem já ter
entregue um requerimento para ouvir o general Carlos Jerónimo na
Comissão parlamentar de Defesa.
"Conhecendo-o há mais de 30 anos, sei que
[o ex-CEME] nunca esteve agarrado a cargos ou mordomias e que agiu de
acordo com a sua consciência perante aquilo que certamente considerou
uma desconsideração para com o Exército e os seus militares", assegurou
Miguel Machado, responsável pelo site especializado www.operacional.pt.
Para
o coronel do Exército na reserva Nuno Pereira da Silva, Carlos Jerónimo
"assumiu as responsabilidades" pelas afirmações do subdiretor do CM
"como um bom chefe militar deve fazer. Assumiu a culpa como deve ser",
na medida em que "a culpa não pode morrer solteira".
Pereira
da Silva, oficial de Infantaria como o ex-CEME, argumentou que "o CM
não pode ser governado por um grupo de antigos alunos [como é o
tenente-coronel António Grilo], que reagem sempre emocionalmente" ao
falar do CM.
O subdiretor do CM "terá
reagido como um ex-aluno do tempo dele" e para os quais "o colégio é
algo de intocável, que deve permanecer inalterável mesmo que a sociedade
mude", assinalou Nuno Pereira da Silva, insistindo que "o facto de a
maioria dos oficiais do colégio serem ex-alunos não ajuda a que a
instituição se abra". O CM e os antigos alunos "são um grupo coeso que
age sempre de acordo com o seu lema, "um por todos todos por um"",
reconheceu o coronel na reserva.
Em termos de sucessão, as fontes ouvidas
pelo DN coincidem em indicar um dos seguintes quatro tenentes-generais:
José Carlos Calçada (que acumula as funções de comandante do Pessoal e
de secretário do Conselho Superior de Defesa Nacional, em Belém),
Fernando Serafino (comandante da Logística), Rovisco Duarte (Inspetor
Geral) e Faria Menezes (comandante das Forças Terrestres).
O primeiro, oficial de Cavalaria, é visto como o candidato mais forte na atual conjuntura política: além de ter sido escolhido por Marcelo Rebelo de Sousa para secretário do Conselho Superior de Defesa Nacional, terá vantagem sobre o outro nome mais forte, Fernando Serafino, que foi diretor-geral de Armamento num governo PSD/CDS (2002/2005) e acaba por ser associado às polémicas aquisições de material militar feitas pelo então ministro da Defesa Paulo Portas.
* O ex-Chefe do Estado maior do Exército não deu explicações públicas sobre o pedido de demissão, sabe-se que é um homem idóneo. Foi posta a hipótese de se ter demitido pelas afirmações xenófobas do sub-director do CM, se a razão é essa fez mal, o tenente -coronel Grilo é que devia ter sido demitido por decisão do CEME.
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