Brincar com o fogo
Aos 18 meses, Andrew Rios começou a tomar Risperdal, um medicamento
usado para tratar adultos com esquizofrenia e doença bipolar. O
antipsicótico foi-lhe receitado pelo médico para combater o
comportamento agressivo - provocado pelo antiepilético que tomava para
aplacar as horríveis convulsões de que sofria desde antes de fazer 6
meses.
A história de Andrew, que vive na Califórnia, é contada pelo The
New York Times, mas o seu caso não é único. Nos Estados Unidos, foram
passadas no ano passado 20 mil receitas deste tipo de medicamento a
bebés de 2 anos ou menos. Por cá, ainda não se chegou a esse extremo,
mas o problema existe: há cada vez mais médicos a receitar
antipsicóticos a crianças. Não é à toa, são miúdos a quem é
diagnosticado défice de atenção e hiperatividade. Mas a própria
Direção-Geral da Saúde reconhece que há um excesso de medicamentação e
que os médicos são muitas vezes pressionados por pais, psicólogos ou
professores para receitarem antipsicóticos aos miúdos. O objetivo é
acalmá-los, ajudá-los a concentrar-se - tanto mais quanto evoluem na
escola e na exigência de obter bons resultados. Mas estes remédios são
feitos para adultos, para casos de saúde mental - imagine-se o que
poderão fazer a cérebros ainda em formação. Os efeitos colaterais, esses
são conhecidos: insónias, apatia, alucinações, tiques.
No caso de
Andrew, mais alguns - ataques de pânico quando adormecia, falar com
pessoas que não estavam lá, pegar em objetos que não existiam. A mãe não
demorou muito a procurar mais informação sobre o medicamento e a
retirar-lho. Em Portugal, no ano passado foram dispensadas 276 mil
embalagens de metilfenidato (conhecido como ritalina) - usado em
crianças e adolescentes entre os 5 e os 19 anos -, em 2010 não chegavam
nem a metade. Estamos mesmo dispostos a arriscar brincar com os cérebros
dos nossos filhos desta maneira?
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
14/12/15
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