Ao serviço do Mal
Podia ter ido ver os Minions ao cinema quando
estreou, mas não me apeteceu sair de casa, comprar o bilhete e estar
numa sala cheia de gente a tossir, a comer e a falar.
Sim, eu sei. Estão a passar-se coisas
extraordinariamente importantes em Portugal. A importância destas coisas
espectacularmente importantes exige que nos preocupemos com solenidade
sobre questões como “o futuro do país”. Sim, vai tudo mudar com um
governo à esquerda que não foi eleito. Sim, haverá dinheiro a rodos.
Sim, a despesa publica aumentará e o défice ficará abaixo dos 3%, porque
como sabemos 2+2=1. Milagre! Sim, eu sei. Mas enquanto não somos todos
felizes, ricos e magros, mais vale ver um filme. Assim, quando o mundo
mudar estaremos descansados para viver essa gloriosa mudança.
Podia ter ido ver os Minions ao cinema quando estreou, no Verão, mas
não me apeteceu sair de casa, comprar o bilhete e estar numa sala cheia
de gente a tossir, a comer e a falar. Meses depois, o filme estreou no
videoclube e pude vê-lo deitada no sofá, a rir à gargalhada, a fazer
pausas, a sair e a entrar da sala, a atender o telefone pelo meio, a ver
o e-mail e a fazer pesquisas sobre a linguagem estranha dos Minions,
uma mistura de italiano e espanhol, com meias palavras inglesas e
sílabas soltas. Ver filmes em casa não obriga ao cumprimento dos rituais
próprios de uma sala de cinema, mas o melhor desta liberdade é
integrarmos o filme no nosso quotidiano, como se fosse um animal de
estimação. Já não dizemos “casamento” porque “la boda” nos parece mais
adequado e nunca mais agarraremos no gato como se fosse uma pessoa. A
partir de agora há-de andar pendurado no braço como a ratazana adoptada
por Bob, que a carrega como o urso de peluche. É um pormenor divertido
dos muitos detalhes engraçados de que vive este filme para crianças e
adultos.
A história dos Minions, todos do sexo masculino, porque como afirmou o
seu criador, Pierre Coffin, “os Minions são tão tontos que não os
imagino como raparigas”, não é complicada. A sua espécie é composta por
criaturas amarelas e baixinhas parecidas mas com ligeiras diferenças
entre elas. Todos têm nomes comuns, como Bob ou Dave, e ambicionam o
mesmo: servir o maior vilão que existe à face da terra. Antes do homem
das cavernas, os Minions serviram peixes esquisitos e agressivos e
dinossauros. Depois passaram a faraós, vampiros, a Napoleão e os russos.
Em todas as situações são os Minions que ajudam a enterrar o vilão,
até ao momento em que se vêem sozinhos numa caverna gelada. O tempo
passa e o tédio instala-se. À falta de um vilão, a vida dos que servem o
mal torna-se um aborrecimento profundo. E é aqui que surge o primeiro
problema da tese que diz que os Minions são todos iguais: Kevin, um
Minion expedito, resolve ir à procura do vilão que dá sentido à vida.
Daí a chegarem a Scarlett Overkill (Sandra Bullock) é uma viagem
atribulada mas breve. O segundo problema surge quando os Minions cumprem
as ordens de Scarlett mas roubam a coroa da Rainha de Inglaterra
(Jennifer Saunders) e ficam com ela, subvertendo a ordem natural dos
Minions, que não lideram.
Mas voltemos às coisas espectacularmente importantes do país, desta
vez para descrevermos a situação numa linguagem mais clara: Po ka la
boda? Sa la ka... Stopa! Tank yu. Banana para tu! (Tradução: “Que
casamento? Como se atrevem... Parem! Obrigado. Banana para ti!”)
IN "i"
09/11/15
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