ESTA SEMANA NA
"SÁBADO"
"SÁBADO"
Só faltam 230 belezas para a exposição
São sete metros quadrados de luxúria. Neste quarto, num primeiro
andar da rua Diário de Notícias, no Bairro Alto, menos é mais. O
inquilino desabafa que é a "lei do menor esforço" – mas a decoração
despojada impressiona as mulheres. Não há cama, só um colchão coberto
por uma colcha de veludo, azul-escuro, comprada na Feira da Ladra. Ao
lado destaca-se uma coluna partida de estilo neoclássico, encontrada
numa rua próxima de Cascais, onde pousa um calhamaço do fotógrafo
norte-americano David La Chapelle.
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A condizer com esta peça dourada, o ex-líbris:
a cómoda repleta de assinaturas femininas. As modelos assinam depois de
posarem em roupa interior, às vezes durante 40 minutos, outras pela
noite fora. Ele também assina a preto no corpo de algumas – no peito ou
numa nádega.
O resultado de uma das sessões está emoldurado
num lugar de destaque: junto à janela com cortinados negros
transparentes e por cima de um painel de azulejos do século XVIII. A
foto foi tirada em Junho a uma morena de cabelos encaracolados, com 18
anos, que exibe uns glúteos bem definidos. É aspirante a actriz e uma
das 70 mulheres que participa no projecto "Girls in my bedroom"
(raparigas no meu quarto, http://www.girlsinmybedroom.nu ), de Ivo Lázaro, 28 anos, nove deles dedicados à fotografia. Quando atingir as 300 tenciona fazer uma exposição.
"Começou
no meu quarto por comodismo, dado o pouco tempo que tinha para
fotografar. Fiz uns testes porque tinha uma luz bonita e desenvolveu-se
tudo a partir daí", explica o autor à SÁBADO.
Namorados ciumentos
O título do projecto é
elucidativo: se elas forem atraentes, desinibidas e tiverem cerca de 20
anos, podem passar pelo quarto do fotógrafo para uma sessão sensual. Ivo
encontra-as, sobretudo, no Facebook, por recomendação de amigos ou
através de agências de modelos que querem promover novos rostos. A
actriz Vanessa Martins já participou. A parceria aconteceu em Janeiro e
depois disso ela recrutou-o para fotógrafo oficial do seu blogue Frederica. As sessões no seu quarto também abriram portas para a Playboy: através do projecto, a edição portuguesa da revista entrou em contacto com Ivo e convidou-o para colaborar em regime free-lancer – já fez dois editoriais.
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A maioria das girls são
estudantes universitárias e não recebem cachê, mas Ivo também não cobra
às convidadas. No pré-acordo, estabelecem-se os limites da exposição:
ele explica-lhes que as imagens serão publicadas nas redes sociais (só
no Instagram tem mais de 23 mil seguidores, 60% do sexo masculino); elas
só mostram o que entenderem.
Com frequência, Ivo tem de lidar
com namorados ciumentos. "São poucos os que percebem. Já perdi dez
sessões por causa deles." Quando sai à noite, há quem ameace agredi-lo
por causa do projecto, mas Ivo ignora.
Ao longo destes três anos de Girls in my Bedroom,
tantos quantos está solteiro, Ivo não nega que já se envolveu com
amigas e teve umas quantas paixões passageiras. "Fotografei modelos com
quem já tinha uma relação íntima antes da sessão. Como noutro trabalho
qualquer, criam-se relações e no meu não é diferente", relativiza.
Namorada dispensa. "É difícil encontrar alguém que consiga respeitar o
que faço." Apesar de a última, com quem namorou cinco anos, ter sido a
primeira a incentivá-lo a fotografar mulheres com pouca roupa.
Ivo estudou escultura em Belas-Artes, mas ao fim do primeiro ano
percebeu que queria ser fotógrafo e foi para o Instituto Português de
Fotografia. Usa com parcimónia o Photoshop, gosta do registo cru e é
fiel há cinco anos à máquina Canon 5D MK2.
Tem uma técnica para
quebrar o gelo no início da sessão: música ambiente, ao gosto delas. Os
primeiros 20 minutos são de aquecimento, para as que têm complexos com o
peito pequeno ou a celulite (as queixas mais comuns) perderem os
constrangimentos. Ivo é peremptório: "Sou contra implantes." Só lhes
pede descontracção e que levem três conjuntos de lingerie. O resto vai por instinto. "Apaixono-me todos os dias, conheço mulheres lindíssimas."
Festa na varanda
Às
vezes serve vodka às participantes. Uma delas estava muito envergonhada
quando entrou no quarto dele: tinha 21 anos e uma imagem exótica. Às
cinco da tarde, já mais desinibida, protagonizou uma das melhores
sessões de Ivo. "Parece a Adriana Lima [top model brasileira]", compara.
Outra
candidata foi recomendada por uma amiga em comum. Queria recuperar a
sensualidade, depois de superar uma doença oncológica. Prova superada.
A vizinhança não entende estas movimentações no quarto de Ivo. E numa
noite até teve de interromper a festa quando uma vizinha ameaçou chamar a
polícia. Eram três da manhã quando 11 participantes do projecto ficaram
em lingerie e foram para a varanda. "Como era sábado e vivo no
Bairro Alto, juntou-se uma multidão na rua com os telemóveis a filmar e
a tirar fotos, ao ponto de me virem bater à porta a perguntar se podiam
entrar. Obviamente que a resposta foi não", recorda.
Carreiras a seguir
A inspiração vem de alguns dos mestres da fotografia
Entre
os fotógrafos que Ivo prefere estão o americano Terry Richardson, que
tanto fotografa Obama como modelos nuas, e o exuberante japonês Araki Nobuyoshi, célebre
pelas fotos de modelos nuas atadas com cordas. Entre os portugueses,
elege Bruno Cantanhede aka Kid Richards, que faz fotos eróticas com grão
para dar efeito antigo.
* Uma bela aventura fotográfica.
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