HOJE NO
"OBSERVADOR"
Direita avalia prós e contras de moção
de rejeição ao Governo de Costa
É apenas uma questão de “afirmação política”, sem efeitos práticos,
mas neste momento tudo conta.
Numa altura em que a linha argumentativa
que percorre toda a direita é a “ilegitimidade política” do Governo de
António Costa, o PSD e o CDS ponderam uma moção de rejeição ao programa
do novo Executivo, que vai ser apresentado e discutido na Assembleia da
República já na próxima terça e quarta-feira. Qualquer moção de rejeição
tem chumbo garantido pela maioria de esquerda, mas pelo menos fica
registado, para memória futura, que a direita rejeita o atual programa
de governação.
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Ao que o Observador apurou, a decisão ainda não
está fechada, mas é admitida por alguns deputados e definirá de alguma
forma o modo como PSD e CDS vão estar na oposição – chumbando tudo (ou
quase) o que venha do Governo socialista partindo do pressuposto de que é
um Governo sem legitimidade. “Não seria a primeira vez que
apresentávamos uma [moção de rejeição]”, diz fonte da bancada
social-democrata.
Se é certo que uma eventual moção de rejeição ao programa de
Governo do PS não teria quaisquer efeitos práticos, uma vez que seria
rejeitada imediatamente pela maioria de esquerda no Parlamento, a
verdade é que sujeitar o programa de governo a votação (e ser aprovado)
pode em si mesmo ser visto como uma forma de reforço de credibilidade do
novo Executivo. O programa de governo tem obrigatoriamente de ser
apresentado no Parlamento, e discutido pelos deputados durante dois
dias, mas só tem de ser votado se houver moções de rejeição em cima da
mesa. Em todo o caso, fonte da bancada social-democrata afirma que não
faz “essa leitura”, ou seja, que sujeitar o programa a votação e vê-lo
ser aprovado pela esquerda não será sinal de maior legitimidade do
Governo.
Não é habitual o PSD apresentar moções de rejeição ao
programa de Governo, mesmo que se trate de governos socialistas de
maioria relativa. Mas não seria a primeira vez. Já em 1999, aquando da
discussão do programa de Governo de António Guterres (o segundo mandato
sem maioria absoluta) o PSD apresentou uma moção de rejeição, assim como
o BE, apesar de ambas terem sido, como já se sabia, chumbadas. Muito
antes, em 1978, também o PSD avançou com a rejeição do II Governo
Constitucional, liderado por Mário Soares, e em 1979, as duas bancadas
da direita, do PSD e do CDS, juntaram-se para rejeitar o Governo de
Maria de Lurdes Pintasilgo, numa moção conjunta que acabaria mesmo por
ser aprovada, mas não pela maioria absoluta dos deputados em efetividade
de funções.
Do lado do CDS, a ordem é “um dia de cada vez”. Só a
partir de sexta-feira, primeiro dia em que o novo Governo do PS estiver
em funções é que os centristas irão preparar a discussão do programa de
Governo e, nomeadamente, a apresentação ou não de uma moção de rejeição.
Quando
o programa de Governo for discutido esta terça e quarta-feira no
Parlamento já os ex-governantes do PSD e CDS, incluindo Passos Coelho,
Paulo Portas e Maria Luís Albuquerque, estarão de volta à oposição e ao
seu lugar de deputados, devendo participar ativamente no debate.
No
passado dia 10 de novembro, quando a esquerda se uniu para derrubar o
Governo do PSD/CDS, apresentando cada partido uma moção de rejeição, foi
apenas a segunda vez na história que um executivo caiu às mãos da
rejeição do Parlamento. A primeira vez aconteceu em 1978, com o Governo
de iniciativa presidencial encabeçado por Alfredo Nobre da Costa.
* A acontecer poderá ser uma preocupante manifestação de "micose neural" patologia que ocorre frequentemente em fantoches.
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