RELATÓRIO DO OBSERVATÓRIO
DAS MULHERES ASSASSINADAS
(OMA) 2015
Assinala-se a 25 de Novembro o Dia Internacional pela Eliminação da
Violência contra as Mulheres.A UMAR divulga os dados do seu Observatório
de Mulheres Assassinadas (OMA) relativos ao período entre 1 de Janeiro
de 2015 e 20 de Novembro. Fazendo uma leitura transversal dos dados
registados pelo Observatório de Mulheres Assassinadas até 20 de Novembro
de 2015, podemos concluir, em síntese, o seguinte:
Os registos do
OMA identificam no período de 11 (onze) anos um total de 426 femicídios e
de 497 tentativas de femicídio. Das 426 mulheres assassinadas nestes 11
anos de OMA, 359 foram-no no âmbito das relações de intimidade
presentes ou passadas (84,3%).
O OMA contabilizou entre 1 de Janeiro e 20 de Novembro
de 2015 um total de 27 mulheres assassinadas e 33 mulheres vítimas de
tentativa de femicídio. Conclui-se assim que, em Portugal, em média e
por mês, 6 mulheres vêem as suas vidas serem atentadas, principalmente
por pessoas com quem mantinham uma relação de intimidade. Destas
mulheres, uma média de 2,6 a cada mês, perdem a vida.
Pese
embora as categorias aqui apresentadas respeitem a forma como
jornalisticamente foram referidas, a UMAR entende que o femicídio tendo
por base o ciúme ou o não aceitar o fim da relação ou o femicídio por
compaixão, incluem-se todos na grande categoria de VIOLÊNCIA NAS
RELAÇÕES DE INTIMIDADE (VRI). Assim sendo concluímos que 81% dos
femicídios ocorreram no âmbito de relações de intimidade violentas.
De
notar que em 2015 regista-se um menor número de femicídios consumados e
tentados se comparado com período homólogo de 2014. Não obstante, da
análise temporal a 11 anos, não podemos afirmar que o femicídio está em
tendência decrescente. Na realidade este tipo de criminalidade contra as
mulheres e em particular nas relações de intimidade presentes ou
pretéritas mantém uma estabilidade, contrariando a tendência decrescente
verificada em Portugal do homicídio praticado noutros contextos.
Dos
dados aferidos concluímos que o femicídio consumado ou tentado ocorre
com particular incidência nas relações de intimidade presentes ou
passadas. Embora o femicídio ocorra ao longo de todo o ciclo de vida das
mulheres, a maior incidência verifica-se sobretudo em mulheres com
idades superiores a 36 anos de idade. 56% das mulheres assassinadas
estavam empregadas (41%) ou em situação de reforma (15%).
.
Em 2015 mais de um quarto dos femicídios ocorreu no distrito do Porto. Lisboa
surge como o distrito mais fatídico no que concerne às tentativas de
femicídio. Ao longo de 11 anos de OMA cerca de metade do total dos
femicídios consumados e tentados ocorreram nos distritos de Lisboa,
Porto e Setúbal. (46,7% e 43,6%, respectivamente)
Em 2015 e uma
vez mais, o contexto de violência doméstica, a não-aceitação da
separação, a atitude possessiva, os ciúmes e a compaixão pelo sofrimento
da vítima representam 81% da motivação ou suposta justificação pela
prática do crime (22 dos 27 femicídios registados).
Já a totalidade
das tentativas de femicídio registadas ocorreram num contexto de
violência doméstica, a não aceitação da separação, atitude de possessão e
ciúmes.
O local mais utilizado pelos homicidas/agressores para a
prática do crime é: a residência das mulheres (63%; n=17 femicídios/
64%; n=21 tentativas de femicídio). A arma de fogo foi o meio mais
utilizado (em 14 das 27 situações registadas no femicídio e em 12 das 33
tentativas de femicídio).
História de Violência Doméstica na relação
foi identificada em mais de metade dos femicídios consumados e tentados
(59% e 53%, respectivamente). Do total das situações em que foi
noticiada a existência prévia de violência doméstica na relação (59%;
n=16 femicídios e 53%; n=21 tentativas de femicídio), cerca de 1/3
destas decorria/decorrera processo crime (30%;n=8 femicídios e 33%; n=11
tentativas de femicídio).
Para além das vítimas diretas de
femicídio analisados pelo OMA registaram- se ainda 21 vítimas associadas
sendo que destas, 6 foram também vítimas mortais. Registam-se aqui
situações de pessoas que assistiram ao crime e que foram, por este facto
também vítimas dele, quer de forma indirecta uma vez que não eram as
vítimas pretendidas mas sim vítimas circunstanciais, sendo que do total,
6 delas pereceram fatalmente.
Até 20 de Novembro de 2015
o OMA contabilizou um total de 40 filhas/os das vítimas de femicídio e
tentativa de femicídio. Os dados analisados pelo Observatório de
Mulheres Assassinadas levam-nos a concluir que o femicídio deve também
ser contextualizado nas questões e discussões em torno da violência
doméstica e das políticas públicas em matéria de violência doméstica e
de género e igualdade de género.
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