HOJE NO
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G20.
Putin revela que o Daesh é financiado
por 40 países, alguns do G20
Escusando-se para já a apontar o dedo a nações específicas, presidente russo diz ter provas que sustentam acusações.
Com os trabalhos de casa feitos, Vladimir
Putin tomou o palco da cimeira do G20 em Antália, Turquia, e disse que o
rasto dos financiadores do Estado Islâmico (Daesh) tem origem em mais
de 40 países, alguns deles presentes no encontro que, na sequência dos
ataques de Paris que causaram até ao momento 132 mortos, ficou dominado
pela estratégia de combate aos jihadistas. O dedo não foi apontado a
governos mas a privados, e embora o presidente russo não tenha
mencionado nomes garantiu aos jornalistas que tinha partilhado as provas
recolhidas pelas secretas russas com os restantes estados durante a
cimeira.
Não é novidade que alguns dos patrocínios que os radicais sunitas que
controlam amplas faixas de território na Síria e no Iraque vêm de
alguns dos bolsos mais fundos de países do golfo Pérsico alinhados com a
política externa e os interesses norte-americanos. São aliados
importantes como o Koweit, o Qatar e a Arábia Saudita, mas Putin não
quis ir mais longe e revelar pormenores do mapa do dinheiro que alimenta
o monstro e as suas actividades. Mas, além de pôr na mesa a necessidade
de cortar o fluxo de doações para o Daesh, o líder russo tocou no
aspecto nuclear do financiamento dos extremistas: o comércio ilegal de
petróleo.
“Mostrei aos nossos parceiros fotografias tiradas do espaço e por aeronaves que mostram claramente a enorme escala do comércio ilegal de petróleo”, disse Putin, adiantando que “a coluna de veículos de reabastecimento se estende por dezenas de quilómetros, a ponto de, a uma altura de quatro a cinco mil metros de altitude, ir para além do horizonte”.
De acordo com dados dos serviços de informação iraquianos e
norte-americanos, estima-se que o Daesh obtenha 50 milhões de dólares
(cerca de 46,6 milhões de euros) todos os meses com a venda do petróleo
extraído dos poços que capturou no Iraque e na Síria. Reiterando a
disponibilidade da Rússia para combater os radicais sunitas nos seus
bastiões na Síria, Putin disse que há já “alguns grupos armados da
oposição que equacionam iniciar operações contra o Daesh com o apoio da
Rússia”. “Estamos preparados para oferecer apoio aéreo. Se isto
acontecer, poderá criar-se uma boa fundação para o esforço subsequente
de estabelecer um acordo político”, afirmou.
O líder russo insistiu assim na possibilidade de encontrar um compromisso entre todos os países envolvidos no conflito sírio e sugeriu que a pacificação regional terá de passar por um processo de transição do poder em Damasco. “Nós necessitamos do apoio dos EUA, dos países europeus, da Arábia Saudita, da Turquia e do Irão”, frisou.
Putin aproveitou ainda para se congratular por os EUA em princípio terem alterado a sua posição relativamente à cooperação com a Rússia no esforço para travar os jihadistas após o massacre nas ruas de Paris. “Temos de organizar os esforços com a preocupação específica de prevenir ataques terroristas e combater o terrorismo à escala global. Oferecemo-nos para cooperar com os EUA na luta contra o Daesh. Infelizmente, os nossos parceiros norte- -americanos recusaram. Apenas nos enviaram uma nota a dizer: ‘Rejeitamos a vossa oferta’”, contou Putin. “Mas a vida está sempre a evoluir e a um ritmo muito rápido, e muitas vezes ensina lições. Julgo que a noção de que uma luta eficaz [contra o terrorismo] só pode existir se nos juntarmos está agora a tornar-se clara para todos”, acrescentou.
Vale a pena notar que no início da semana os EUA lançaram o primeiro ataque aéreo contra uma das linhas de abastecimento petrolífero do Daesh. Até então o argumento usado pela Casa Branca para não atingir os mais de mil camiões-cisterna controlados pelos radicais sunitas era o receio de causar baixas civis. O “New York Times” citava ontem fontes da Casa Branca anunciando que, num esforço “para intensificar a pressão sobre o Estado Islâmico, os caças norte-americanos bombardearam pela primeira vez na segunda-feira centenas de camiões que o grupo extremistas tem usado para contrabandear o crude produzido na Síria”.
A notícia adiantava que, segundo uma avaliação inicial, 116 camiões foram destruídos no ataque, que ocorreu perto de Deir al-Zour, uma área no Leste da Síria controlada pelo Daesh.
Como notaram alguns analistas, ainda que Washington garanta que estas operações foram planeadas com bastante antecedência em relação aos ataques terroristas em Paris, não deixa de ser curiosa a coincidência desta importante mudança na táctica norte-americana. Como é curioso que a maioria dos jornais de grande circulação ocidentais tenham ignorado ou secundarizado a intervenção de Putin na cimeira e o facto de os últimos acontecimentos parecem ter forçado o Ocidente, particularmente França, a aproximarem-se da posição russa na tentativa de resolver as tensões no Médio Oriente.
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