A pobreza
não é uma fatalidade
O emagrecimento do Estado social, a precariedade e a insegurança laboral são perspectivados com muita preocupação.
Os dados recentemente divulgados mantêm-se desanimadores: o risco de
pobreza ou exclusão social atinge cerca de 2,8 milhões de pessoas (27,5%
da população portuguesa) em 2014, registando-se um agravamento entre as
mulheres.
Na linha das orientações da Declaração e da Plataforma de Acção de
Pequim (1995), alguns estudos têm integrado uma noção multidimensional
da pobreza. Além dos recursos económicos e da privação material,
procuram apreender a complexidade do fenómeno à luz das várias dimensões
em que a privação de bem-estar pode ocorrer: mercado de trabalho,
saúde, educação e formação, habitação, segurança, protecção social,
família e participação social.
É ainda crucial atender a variáveis que permitam descortinar a
realidade intra-agregado familiar e analisar o ciclo de vida individual.
Com efeito, tal como evidenciámos num estudo publicado pela Comissão
para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG), a condição de pobreza é
moldada pelas especificidades inerentes às trajectórias e condições de
vida de mulheres e de homens.
O aumento da pobreza e das desigualdades sociais é inaceitável. O
emagrecimento do Estado social, a precariedade e a insegurança laboral
são perspectivados com muita preocupação.
Como há anos vem sublinhando a economista Manuela Silva, a
desigualdade e a pobreza não são fatalidades do crescimento económico,
mas sim o resultado do modelo de crescimento dominante e das políticas
que o têm sustentado. Todas e todos têm direito à dignidade humana.
E este desafio não pode dispensar a integração de uma perspectiva de género.
Professora no Instituto Superior de Economia e Gestão – U. Lisboa
IN "i"
14/10/15
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