A encruzilhada
das presidenciais
Não está fácil a
vida para aqueles que querem disputar as eleições para a Presidência da
República. Os resultados de domingo baralharam as expectativas de todos.
Incluindo dos partidos. Para se livrarem desta encruzilhada, PS, PSD e
CDS já declararam que podem não apoiar ninguém na primeira volta. Mas
isso não os torna imunes a leituras políticas face a resultados menos
positivos dos candidatos da sua área política.
À Direita, não há
qualquer candidato formalizado, mas todos sabem que a corrida é
copiosamente disputada nos bastidores por Marcelo Rebelo de Sousa e por
Rui Rio. Um e outro fizeram, neste tempo, inúmeros contactos junto das
estruturas distritais e concelhias do partido social-democrata para
garantir o apoio local, algo imprescindível em qualquer campanha. O
primeiro é o favorito nas sondagens, o segundo é o preferido de Pedro
Passos Coelho. Mas isto da política não se faz com (bons) sentimentos,
principalmente quando se atravessa um período de apertada contagem de
votos.
O presidente do PSD terá de atirar para o arquivo morto a moção
que apresentou no último congresso, nomeadamente a parte onde escreveu
que o seu partido excluía um candidato que "fosse protagonista e
catalisador de qualquer conjunto de contrapoderes ou um catavento de
opiniões erráticas em função da mera mediatização gerada em torno do
fenómeno político". Passos Coelho poderá, no entanto, beneficiar do
hábito de os partidos não cultivarem a memória dos factos, o que lhe
dará espaço para conviver melhor com Marcelo Rebelo de Sousa-candidato.
Há, todavia, o problema de Rui Rio. A sua exclusão da corrida nestas
eleições deixa-o solto para ser contrapoder dentro do PSD e, por outro
lado, exige que se encontre um lugar de algum destaque para si. Os média
começaram a falar da possibilidade de lhe ser entregue a pasta da
Administração Interna, caso a coligação forme Governo. Ora, nesta
matéria, o passado testemunha que já houve um ex-presidente da Câmara
Municipal do Porto, de seu nome Fernando Gomes, que não se deu nada bem
com esse lugar e, muitas vezes, a história repete-se.
À Esquerda,
existem vários candidatos. O PCP anunciou ontem o seu, Edgar Silva, que
será apresentado na próxima quinta-feira. Contando com o apoio de uma
ala socialista, sobressai Sampaio da Nóvoa, sustentado por Mário Soares e
Jorge Sampaio. Todavia, a disponibilidade de Maria de Belém para
disputar estas eleições criou entropias no processo e os resultados de
domingo acentuaram a dificuldade do PS em apoiar o ex-reitor da
Universidade de Lisboa, que não tem filiação partidária. Neste contexto,
António Costa fica sem margem para se colocar ao lado de um
independente. Adicionalmente, deve acrescentar-se que as expectativas de
vitória são muitíssimo reduzidas. Costa sabe que não pode chegar ao
Congresso extraordinário, marcado para depois das presidenciais, com
duas derrotas eleitorais sucessivas. Por isso, apressou-se a anunciar
que dará liberdade de voto aos socialistas. Maria de Belém aplaudiu a
decisão, Sampaio da Nóvoa não se pronunciou publicamente sobre esta
decisão, mas a Imprensa fala num ambiente de depressão no seio da sua
candidatura que, até agora, apenas reuniu o apoio formal do Livre/Tempo
de Avançar.
A braços com a gestão de eventuais alianças
(in)formais à Direita ou à Esquerda, António Costa atravessa um período
de uma enorme tensão. Passos encarregou-se de declarar uma proximidade
de posições entre o PS e a coligação, acenando com possíveis alianças.
Jerónimo de Sousa disponibilizou-se para viabilizar um Governo PS e
fazer parte dele, agitando com o Bloco de Esquerda a possibilidade de um
executivo à Esquerda. Em qualquer opção, Costa ficará refém das suas
escolhas. Repete-se o mesmo nas presidenciais. Depois de dar sinais de
simpatia pela candidatura de Sampaio da Nóvoa, o secretário-geral do PS
vê pesos pesados do seu partido ao lado de Maria de Belém. A sua escolha
é ficar a meio do caminho. Qualquer que seja o desfecho das eleições
presidenciais, o ónus dessa decisão será imputado a si. E isso terá uma
enorme leitura política.
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
09/10/15
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