HOJE NO
"DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
Nem o Papa faltou à homenagem de Setúbal ao seu "bispo vermelho"
Mensagem escrita de Francisco foi lida pelo Núncio Apostólico na catedral sadina que se encheu de fiéis
É
verdade que foi através de mensagem escrita, mas até o papa Francisco
fez questão de se juntar à celebração, esta segunda-feira, dos 40 anos
de ordenação episcopal de D. Manuel Martins como primeiro bispo de
Setúbal. A "surpresa" foi lida pelo Núncio Apostólico, Rino Passigato,
perante uma Catedral sadina cheia até à porta. Além de dar os parabéns a
Manuel Martins o sumo pontifice deixou um apelo: "Por favor, não se
esqueça de rezar por mim".
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Seria o
momento alto da celebração, onde o bispo emérito de Setúbal, hoje com 88
anos, puxou das recordações em torno daqueles tempos em que os seus
discursos mais inflamados na defesa dos desfavorecidos lhe valeram
rótulos como "bispo vermelho", "bispo sem medo" e até "bispo comunista".
Seria ele a denunciar casos de pobreza extrema, de fome e de
desigualdades no distrito de Setúbal, onde terminou o mandato até 23 de
abril de 1998.
Durante a homilia
lembrou-se do 26 de outubro de 1975, nos tempos conturbados do PREC
(Processo Revolucionário em Curso) e verão quente, quando, quase à mesma
hora (cerca das 18.00) era ordenado bispo, mas do exterior da Sé
chegavam vozes de protesto. "Aquela gente não estava contra mim, não
obstante a sonância das palavras que pronunciavam", sublinhou,
garantindo que as tais vozes estavam antes pedir-lhe ajuda para "serem
gente" e para "crescer".
Voltou a
defender que a missão dos cristãos é "descobrir, acolher, ajudar e fazer
fraternidade com toda essa gente que nos procura, com quem conversamos e
até discutimos", admitindo que "um filho que procede mal pode precisar
de um beijo".
D. Manuel Martins,
natural da diocese do Porto, afirmou-se hoje "setubalense para sempre",
antes de deixar a certeza de que o mundo não caminha para a "desgraça" e
que tem esperança na "madrugada do mundo novo", enquanto dirigia
palavras aos jovens, recusando acreditar na existência de uma "geração
rasca". Até responsabilizou a sociedade por não lhes proporcionar as
oportunidades de que precisariam.
Voltando
às "situações difíceis" que viveu no distrito e Setúbal, o bispo
emérito elevou o mandamento principal dos cristãos: "Cumpre com os
direitos humanos e estás a amar a Deus com todo o teu coração e com toda
a tua alma e contribuirás para um mundo melhor", sustentou na mesma
celebração na qual participou ainda o cardeal-patriarca de Lisboa, D.
Manuel Clemente e o novo bispo de Setúbal, D. José Ornelas, tendo a
missa sido concelebrada pelo episcopado português e pelos padres da
diocese sadina.
No lugar onde há 40
anos estavam os seus pais e restante família, hoje sentaram-se a
presidente comunista da câmara de Setúbal, Maria das Dores Meira, e a
ex-autarca de Almada, também do PCP, Maria Emília de Sousa.
"É
uma voz muito querida de todos os setubalenses e não só. É uma voz de
todos os que precisavam dele, em situações críticas, em situações de
grande aflição, angustia e ansiedade, com uma palavra quente e revoltada
ao mesmo tempo", considerou Maria das Dores Meira ao DN. A autarca
congratulou-se pelas intervenções do bispo "contra os poderes
instalados, protegendo os mais desprotegidos", justificando ser "uma
honra para Setúbal que tenha sido o primeiro bispo desta diocese".
Já
o presidente da Cáritas Diocesana, Eugénio da Fonseca, recordou ter
sido pela mão de Manuel Martins que se começou a dedicar aos serviços
sociais. "Quando me chamou, eu disse-lhe que não ia, porque achava que
era muito religioso e não conhecia nada do social. Ele respondeu que era
por isso mesmo que eu devia ir, para fazer coisas diferentes daqueles
que já lá estavam e que sabiam", revelou o dirigente, agradecendo ainda
hoje a "prova de confiança", que lhe ensinou uma outra forma de ser
cristão.
* A cadeira de bispo foi o palco para a sua luta constante contra a pobreza, contra os donos do dinheiro que ainda hoje mandam no país. Apesar de convictamente sermos não religiosos temos o maior dos respeitos por Manuel Martins que é digno de ser "Dom". Faz falta!
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