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IN "PÚBLICO"
30/08/15
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FINAL DE AGOSTO
Chego ao fim das férias descansado e disponível para mais um ano de
trabalho. Como professor universitário, tudo recomeça em Setembro e
acaba em Julho: os exames dos meus alunos da Faculdade de Medicina
precedem o mês de férias de Verão e o fim de Agosto marca o retorno às
actividades profissionais.
Neste fim de tarde, passeio pela Praia
Grande da minha infância. Desta vez não há neblina e a água do mar está
em temperatura aceitável. Observo as famílias, onde os mais pequenos
ainda estão junto aos pais e os adolescentes estão com os seus amigos,
só se juntam aos familiares em breves encontros à beira-mar. As
conversas são sobre bares ou restaurantes, só de vez em quando oiço um
tema político, depois das saudações de um só beijo ou de um aceno
descomprometido.
Volto para casa e encanto-me com Amada Vida,
de Alice Munro. Apaixonado por romances, fico preso a esta contista do
quotidiano, capaz de colocar todos os sentimentos mais profundos a
partir de incidente banal. E leio os jornais do fim-de-semana.
Já estamos em campanha eleitoral, mesmo que oficialmente esteja
marcada para mais tarde. As sondagens dizem-nos que a coligação de
direita ou o PS poderão vencer as legislativas. Começo justamente por
aí: para ganhar, o PS sozinho tem de vencer dois partidos, facto
evidente mas que, infelizmente, é pouco citado. Os simpatizantes e
militantes socialistas exigem esse grande esforço, que significará um
novo rumo para a política portuguesa.
A análise dos últimos dias
mostra a repetição constante, por parte dos partidos do Governo, de uma
mensagem simples: herdámos o caos, conseguimos resolver o essencial,
estamos em condições de oferecer um futuro menos difícil, mas com a
garantia de que nunca mais haverá perigo de bancarrota, nem despesismo
descontrolado, típico do PS. Esta mensagem é eficaz à primeira vista,
mas parte do pressuposto de que os portugueses vão esquecer o que
sofreram, durante pelo menos três dos quatro anos desta governação.
O
PS tem de aproveitar bem o mês de Setembro para mostrar como pode fazer
diferente. O trabalho realizado no campo económico merece o nosso
respeito e aplauso, mas tem de ser complementado por indicações bem
fundamentadas do que poderá ser executado no campo da saúde, da educação
e da segurança social, as matrizes essenciais da prática
social-democrata. Responder só no campo da economia e das finanças
restringirá o debate, tornando-o difícil para a maioria dos portugueses,
que querem sobretudo saber como vai ser a escola, o hospital e a pensão
de reforma e, sobretudo, como se vai diminuir o desemprego.
Pela
minha parte, gostaria que o tão falado empate técnico nas sondagens não
conduzisse ao despique pela frase de melhor efeito, antes levasse a um
apuramento das propostas dos partidos e à demonstração clara de quem tem
melhores condições para liderar o Governo. À pergunta sobre quem vai
ser o próximo primeiro-ministro, sabemos que a resposta é: Passos Coelho
ou António Costa. Entre os dois, quem mostra melhores condições para o
cargo? Quem os portugueses consideram mostrar mais garantias para o
futuro, com base no que fizeram nos últimos anos?
O PS, para
ganhar, tem de marcar a campanha com propostas claras sobre o futuro dos
cidadãos e nunca permanecer preso à ideia de que basta prometer a
diferença. Um pouco de autocrítica será o melhor antídoto da acusação de
despesismo: reconhecer alguns erros e providenciar para que não se
repitam é uma demonstração de inteligência.
IN "PÚBLICO"
30/08/15
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