HOJE NO
"OBSERVADOR"
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A guerra sem quartel
da nova máfia napolitana
Gennaro Cesarano, de 17 anos, foi a última vítima da guerra sem quartel da nova máfia napolitana. A polícia calcula que 2.000 jovens distribuídos por 34 grupos fazem parte deste conflito.
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Gennaro Cesarano, de 17 anos, foi assassinado há duas semanas, no
meio da madrugada, no centro de Nápoles. A polícia italiana ainda não
sabe se a causa foi uma bala perdida ou um tiro certeiro. O que se sabe é
que, neste momento, em Nápoles trava-se uma guerra pelo controlo do
tráfico de droga e da extorsão, depois de terem caído todos os grandes
chefes da Camorra (máfia napolitana) nos últimos anos. A polícia calcula
que 2.000 jovens, distribuídos por 34 grupos mafiosos, estejam a travar
esta guerra.
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LA SANITA |
Como conta
o El Pais, “Genny”, como era conhecido Gennaro, estava a passar algum
tempo com os amigos quando um grupo de jovens sensivelmente da mesma
idade, ao volante de motos e empunhando armas semiautomáticas,
irromperam pela praça e dispararam vários tiros sem que a polícia e sem
que os vizinhos do bairro de La Sanità pudessem identificar um rosto ou
uma matrícula.
No passado dia 11 de setembro, Cesarano foi enterrado e
homenageado por milhares de pessoas. Foi uma homenagem ao jovem de 17
anos e uma manifestação silenciosa pelo fim do conflito, das mortes e do
medo em Nápoles. Genny já se tornou um símbolo da luta pela paz dos
napolitanos. O padre Alex Zanotelli, um missionário colombiano que
passou grande parte dos seus 77 anos a viver em África mas que há uma
década luta por envolver todas as instituições para devolver a paz à
cidade italiana, diz ao El Pais que o problema de La Sanità, e de tantos
outros bairros, é que “70% dos 70 mil vizinhos estão no desemprego, não
há nenhum cuidado com as crianças, o único instituto que existe é o
segundo em Itália com maior fracasso escolar, a saúde é um desastre e a
polícia nem sequer aparece.”
A degradação do bairro e a falta de futuro provoca que os jovens vivam na rua sem nada para fazer. Para muitos a única saída, a única cultura e a única lei é a da Camorra.”
A situação descrita pelo padre Alex não é
nova neste tipo de bairros, mas ninguém se recorda de uma guerra sem
quartel de tais proporções, de grupos de jovens armados que atacam à luz
do dia e no meio da noite para demonstrar o seu poder.
Apesar de a
polícia rejeitar dar uma versão oficial do caso de Genny, um
investigador veterano deu ao El Pais a sua opinião sobre este fenómeno,
com a condição de que o seu nome não fosse revelado.
Eu penso, que não se tratam de camorristas mas de gomorristas. São filhos da Camorra, são filhos da ficção, do filme sobre a Camorra. Imitam a forma de falar, de se vestir e de comportamento dos mafiosos do ecrã. O objetivo da verdadeira Camorra era fazer negócio sem fazer ruído. Só disparavam se fosse necessário. Estes de agora são novatos, estúpidos, fazem ruído e não fazem negócio.”
Na praça de La
Sanità permanecem os chapéus, as camisolas do clube napolitano, as
flores e os balões vermelhos em forma de coração dedicados à memória de
Genny. Alguns dos seus amigos resumem a vida no bairro: “Um nojo.”
* A notícia refere-se a uma cidade de um dos países mais poderosos da União Europeia.
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