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"EXPRESSO"
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Seis mitos sobre os refugiados
Combatentes do autodenominado Estado Islâmico (Daesh) entre os refugiados, migrantes que recusam ajuda humanitária da Cruz Vermelha por motivos religiosos, uma invasão muçulmana às portas da Europa: os mitos na Internet e nas redes sociais alimentam a propaganda anti-islâmica e a retórica contra os refugiados. Contra os mitos falam os factos. Vale a pena conhecê-los
1. Um combatente do Daesh entre os refugiados
Lembram-se deste homem? A posar numa foto do Estado Islâmico no ano
passado – agora é um refugiado! Somos parvos ou quê?", lê-se no texto a
acompanhar estas duas imagens, partilhadas milhares de vezes nas redes
sociais nos últimos dias. Seriam alegadamente de um antigo combatente do
Daesh descoberto num grupo de refugiados na fronteira entre a Grécia e a
Macedónia. Na verdade, indica a BBC,
o homem em causa, Laith Al Saleh, é um antigo comandante do Exército de
Libertação da Síria, que combate as forças do Daesh, e a história dele
tinha até sido contada pela agência Associated Press em agosto.
A
possibilidade de existirem militantes do Daesh entre os refugiados
sírios que chegam à Europa é uma hipótese muito difícil de comprovar.
Foi levantada por algumas personalidades, incluindo Michèle Coninsx, presidente do Eurojust, a agência de cooperação judicial da União Europeia, e por um conselheiro líbio (ou será antes um traficante de armas?), mas tem sido negada por várias organizações, incluindo a Organização Internacional para as Migrações e os Médicos Sem Fronteiras. Em entrevista esta semana à Renascença,
o alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados, António
Guterres, afirmou mesmo que os movimentos terroristas e de combatentes
não se fazem "metendo-se em barcos que podem afundar-se".
O movimento faz-se sobretudo em sentido inverso. Cerca de 3000 combatentes europeus juntaram-se às fileiras do Daesh.
2. Recusam comida da Cruz Vermelha por causa... da cruz
Um vídeo amplamente difundido nas redes sociais mostra refugiados
junto à fronteira da Macedónia com a Grécia a protestar e a recusar
pacotes marcados com o logo da Cruz Vermelha, alegadamente devido ao
símbolo, semelhante à cruz cristã. A hipótese, porém, foi desmentida pelo próprio autor do vídeo. Em declarações ao jornal online italiano Il Post, Predrag Petrovic, editor-chefe do site macedónio de notícias a1on.mk, que filmou a cena, esclarece que os migrantes recusaram a ajuda em protesto por não poderem entrar na Macedónia.
Os
refugiados, referiu Petrovic, tinham chegado há três dias à zona de
fronteira e, quando o vídeo foi filmado, estavam há duas horas debaixo
de chuva forte. Quando a Cruz Vemelha chegou para distribuir água e
comida, recusaram a ajuda em protesto. A polícia macedónia apenas
autorizava a passagem de 200 a 300 refugiados a cada duas horas, porque
era essa a capacidade do comboio que os levaria até à fronteira com a
Sérvia.
A versão foi confirmada pela coordenadora de comunicação
da Cruz Vermelha, Corinne Ambler. Num email ao Il Post, revelou que os
migrantes reagiram "por frustração". A responsável afirmou ainda que a
organização tem prestado auxílio a milhares de pessoas naquela zona,
distribuindo por semana "3000 a 4000 pacotes", que têm sido aceites "com
gratidão sem incidentes de pessoas a recusarem-nos".
3. São tão pobres, mas pagam milhares aos contrabandistas...
A maioria destes refugiados que chega agora à Europa não foge da pobreza, mas da guerra e da morte. E não é preciso ser pobre para temer o Daesh ou as bombas do presidente sírio Bashar al-Assad. 34%
dos refugiados que chegam pelo mar à Europa são da Síria, 12% do
Afeganistão e 12% da Eritreia. Muitos dos que procuram asilo na Europa
são de classe média, com educação universitária e falam inglês.
4. …e têm smartphones
Vale a pena ler ESTE artigo
do diário britânico "The Independent", quanto mais não seja pelo
título: "Surprised that Syrian refugees have smartphones? Sorry to break
this to you, but you're an idiot". A Síria não é um país rico (segundo
os últimos dados disponíveis, de 2007, 35% da população vive abaixo do
limiar da sobrevivência), mas também não é dos mais pobres: o PIB per
capita rondava os 3000 euros em 2012, mais do dobro, por exemplo, de São
Tomé e Príncipe, e à frente de quase 70 outros países (dados do Banco
Mundial). Em 2014, havia no país cerca 87 telemóveis por cada 100
habitantes. Muitos smartphones com sistema Android custam menos de 100
euros e iPhones de segunda geração - os 3G - podem ser adquiridos por
bem menos.
5. Querem invadir a Europa
Se considerarmos apenas os refugiados sírios, os cerca de 250 mil que
até junho tinham batido às portas da Europa são apenas 2% do total de
refugiados provocados pela guerra na Síria. Há cerca de quatro milhões
de refugiados espalhados pelos países vizinhos (só o Líbano recebe 1,2
milhões, mais de um quarto da população do país), segundo o Alto
Comissariado da ONU para os refugiados. Menos de 350 mil pediram asilo
na Europa. O número constitui apenas 0,02% do total da população da
Europa (cerca de 740 milhões).
6. Quase um quarto dos muçulmanos é radical
O ROSTO DA DESUMANIDADE E LUXO |
O vídeo tem mais de um ano, mas foi recuperado agora pela propanda
contra os refugiados sírios. Num simpósio nos Estados Unidos, Brigitte Gabriel,
uma famosa ativista anti-islâmica, afirmou que "15 a 25% dos muçulmanos
são radicais", ou seja, "180 a 300 milhões de pessoas dedicadas à
destruição da civilização ocidental". A declaração, aplaudida de pé numa
sala cheia de islamofóbicos, foi desmontada pelo prestigiado "The Christian Science Monitor". A publicação cita Angel Rabasa, especialista em radicalização islâmica e autor do livro "EuroJihad",
segundo o qual "menos de um por cento" da população muçulmana que vive
na Europa está "em risco" de radicalizar-se, o que não significa que vão
todos a correr pegar numa arma ou numa bomba.
* Uma notícia de elevado valor.
Já são lugares comuns as opiniões contrárias e sórdidas acerca do acolhimento aos refugiados, refugiado não é miserável nem ignorante, foge da morte e da total ausência de possibilidades de viver no seu país.Não podemos ser hipócritas e olhar para o lado contrário do sofrimento.
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