HOJE NO
"DIÁRIO ECONÓMICO"
"DIÁRIO ECONÓMICO"
Volkswagen:
"Das Problem" custa 13 mil milhões
em bolsa
Detecção da "batota" nos EUA levou a perda de 18,6% na bolsa. Um problema que acresce à suspensão de venda dos diesel nos EUA e Canadá, aos testes extra anunciados pelas autoridades alemãs e ao pedido de esclarecimentos da UE.
A queda da Volkswagen AG na bolsa de Frankfurt atingiu os 18,6% no
final da sessão, a maior descida diária em sete anos, cortando 13,2 mil
milhões de euros à capitalização bolsista do construtor (acima do valor
da maior cotada do PSI 20, a EDP), para um mínimo de três anos.
A crise instalada na marca alemã desde sexta-feira, quando a
autoridade ambiental norte-americana anunciou ter detectado
irregularidades no ‘software' dos TDI de quatro cilindros, que levava os
motores a ludibriar as acções de controlo de emissões, levou já o seu
presidente executivo a emitir um comunicado em que "lamenta
profundamente" o caso.
.
Martin Winterkorn, que ganhou nos últimos meses uma força extra
dentro do grupo, após vencer o braço de ferro com o histórico presidente
Ferdinand Piëch, vê surgir este súbito escândalo a apenas uma semana da
reunião em que, na próxima sexta-feira, se votará a renovação do seu
contrato pelo Conselho de Supervisão. Este, noticia a Bloomberg,
reunir-se-á ainda antes, na quarta-feira.
Arndt Ellinghorst, analista
da londrina Evercore ISI, disse à Bloomberg que "esta última saga
poderá ajudar a provocar mais alterações na gestão da VW".
As ondas de choque rapidamente ultrapassaram o Atlântico. No estado
da Baixa Saxónia, detentor de 20% da VW, o primeiro-ministro, Stephan
Weil, considerou as acusações nos EUA como "graves" e exigiu que sejam
rapidamente clarificadas. "As possíveis consequências poderão ser
decididas depois". Por outro lado, noticia o jornal Bild, as autoridades
alemãs determinaram testes intensivos ao construtor.
Também a União Europeia já se pronunciou, indica a Bloomberg, estando
em contacto com as autoridades americanas para saber mais detalhes.
A sessão de hoje foi a primeira desde que se soube da decisão da
autoridade ambiental norte-americana (EPA) de emitir uma recomendação à
Volkswagen para que recolha mais de 480 mil automóveis com motor TDI de
quatro cilindros.
Foi igualmente o primeiro dia de negociação em bolsa desde que, neste
domingo, o construtor alemão assumiu a deturpação do nível de poluentes
aquando dos testes, através de um dispositivo electrónico que reduz a
emissão aquando dos testes, e liberta valores entre 10 a 40% superiores
numa utilização quotidiana. Se todas as unidades vendidas estiverem
envolvidas nesta situação, os custos com a penalização das autoridades
norte-americanas poderá ultrapassar 15 mil milhões de euros.
Cynthia Giles, responsável da EPA, explicou que os automóveis com a
falha detectada "continham ‘software' que desliga os controlos de
emissões quando em condução normal e liga-os quando o carro está a ser
submetido a testes de emissões".
Num comunicado, Martin Winterkorn,
presidente executivo da Volkswagen, começa por explicar que a EPA e a
entidade ambiental do estado da Califórnia "detectaram manipulações que
violam os ‘standards' ambientais americanos" aquando dos testes a
automóvel com motor diesel.
Dizendo que "o Conselho de Administração da Volkswagen AG toma estas
descobertas muito seriamente", Winterkorn explica que o construtor
ordenou uma investigação externa ao caso.
"Pessoalmente, lamento profundamente que tenhamos quebrado a
confiança dos nossos clientes e do público. Iremos cooperar inteiramente
com as agências responsáveis, com transparência e urgência, para
determinar, clara, aberta e completamente todos os factos deste caso",
garante o presidente da Volkswagen, dizendo que "não toleramos e não
iremos tolerar violações de qualquer espécie das nossas regras internas
ou da lei".
Em reacção à descoberta das autoridades norte-americanas, a
Volkswagen decidiu cancelar a venda de alguns dos seus modelos nos EUA.
Ali ao lado, no Canadá, foi o Governo a decidir cancelar a venda dos
diesel da marca.
Entre os analistas que consideram o caso grave para o construtor -
como, numa primeira instância, revelaram os investidores na sessão de
hoje da bolsa de Frankfurt, onde a VW negoceia -, a Bernstein indicou,
numa nota, que "este não é o usual tema do ‘recall', um erro de
calibragem ou até uma falha grave de segurança. Não há forma de colocar
uma perspectiva optimista nisto - isto é realmente sério". Citada pela
Bloomberg, a nota dos analistas indica que "a melhor das hipóteses para a
VW é ainda uma multa de milhares de milhões de dólares, estatuto de
pária com o Governo dos EUA, danos na sua posição nos diesel nos EUA e
um percurso mais lento para a melhoria no seu ainda longe de perfeito
negócio norte-americano".
Também à agência, "Sascha Gommel, analista do Commerzbank -
instituição alemã que colocou o ‘rating' da VW sob revisão - afirmou que
"se isto terminar como uma fraude estrutural, o topo da gestão em
Wolfsburg poderá ter de suportar as consequências".
Ao jornal especializado Automotive News, Christopher Grundler,
director do departamento de transporte da EPA, explicou que o Governo
americano recusou ao construtor de Wolfsburgo um "certificado de
conformidade" para vender modelos diesel com o motor 2.0 TDI.
Naquele país, fica proibida a comercialização das versões com aquele
motor até que haja "respostas às questões sobre como estes veículos
estão a ser operados. A Volkswagen não conseguiu explicar por que
estamos a alcançar este excesso de emissões", disse Grundler ao
Autonews.
Acerca do propulsor 2.0 TDI de quatro cilindros envolvido na
polémica, também vendido na Europa, a Volkswagen não respondeu, até ao
momento, às perguntas do Económico sobre a existência, ou não, do mesmo
dispositivo electrónico que, como descoberto nos EUA, permite passar nos
testes ambientais com valores abaixo dos realmente verificados em
estrada.
O criticismo que está a atingir a estrutura de Wolfsburgo levou já o
construtor a retirar vídeos que tinha publicados no Youtube e redes
sociais a promover a sua tecnologia diesel, revela o jornal
especializado norte-americano Detroit News.
Esta promoção tem sido um dos pontos de apoio da Volkswagen para
conquistar as mentes norte-americanas para o lado do diesel, num país
onde o gasóleo é olhado como combustível de motores ruidosos, lentos e
poluentes - tudo oposto aos atributos da tecnologia TDI que o grupo
alemão promove nos EUA, onde também vende modelos Audi com o 2.0 de
quatro cilindros. Neste caso agora desvendado, estão envolvidos o Audi
A3 e os VW Jetta, Golf, Beetle e Passat.
De tal modo é a aposta do grupo alemão que entre um quinto e um
quarto das vendas da VW e Audi são conseguidas precisamente pelos TDI, o
que permite antever os danos económicos, que acrescem aos
reputacionais.
Além de sofrer na própria pele os custos desta polémica, a Volkswagen
fez com que também a Daimler (dona da Mercedes-Benz) e a BMW tenham
registado quedas na bolsa de Frankfurt, as maiores de quase um mês,
ainda que ambos os rivais alemães da Volkswagen e da sua Audi tenham
garantido que não têm informação sobre investigações dos
norte-americanos aos seus carros.
* Cada vez está mais difícil em ACREDITAR. "Vergonhosamente Volkswagen"
.
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