HOJE NO
"DIÁRIO ECONÓMICO"
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Justiça investiga lista de 500 médicos
que terão recebido prémios da Bial
Investigação partiu de denúncia de ex-chefe de vendas. Foram constituídos arguidos 14 funcionários da Bial.
A investigação judicial à farmacêutica Bial, que ontem levou à
realização de 24 buscas à sede do grupo e a outras delegações, tem por
base várias denúncias de fraude no Serviço Nacional de Saúde (SNS). Uma
das denúncias resulta de um ex-chefe de vendas regional do laboratório
no âmbito do processo ‘Remédio Santo' que levou, no final de 2014, à
condenação de 13 dos arguidos. Na mira da Justiça está uma alegada
simulação de estudos científicos para justificar pagamentos a médicos,
prémios a clínicos para receitarem medicamentos da Bial, alguns deles
comparticipados a 100% pelo Estado, bem como suspeitas de falsificação
de receitas.
A Procuradoria Geral da República (PGR) confirmou
ontem que está a investigar "entre outras, matérias relacionadas com
pagamentos efectuados a título de estudos científicos, mas que se
reportariam à prescrição de fármacos".
Deu ainda conta que "foram
constituídos 17 arguidos, 16 pessoas singulares e uma pessoa colectiva" e
que a "Bial não se encontra entre os arguidos ".
O Económico
sabe que na posse da Polícia Judiciária (PJ) estão registos de perto de
cinco centenas de médicos que terão recebido dinheiro, cheques ou
cartões de compras para receitar medicamentos. E que a investigação a
fraudes no SNS prende-se com um inquérito aberto em 2012 pelo
Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) a partir do
processo ‘Remédio Santo' (ver caixa) através da extracção de uma
certidão e de outras denúncias vindas do sector da saúde. O inquérito
visa outros responsáveis do laboratório farmacêutico, nomeadamente
delegados de informação médica (DIM) e médicos. Segundo a PGR, "estão em
causa suspeitas dos crimes de corrupção activa e passiva, burla
qualificada e falsificação de documentos".
Fonte oficial da Bial
confirmou as buscas de ontem. Depois de estranhar a diligência
processual, a mesma fonte garantiu que a empresa "prestou e continuará a
prestar às autoridades, sempre que necessário, toda a colaboração
solicitada para o cabal esclarecimento da realidade".
Formifarma constituída arguida
O Económico apurou
que entre os 17 arguidos está a Formifarma, consultora na área da saúde
e do medicamento. A Formifarma, com sede em Cascais e detida
maioritariamente por José Aranda Silva, seria uma das empresas
contratadas pela Bial para realizar estudos em que os médicos eram
pagos. E já tinha sido apontada por antigos delegados da Bial, acusados
no processo ‘Remédio Santo', como a empresa que fazia estudos para
justificar prémios a médicos.
Aranda da Silva - o primeiro
presidente do Infarmed e antigo bastonário da Ordem dos farmacêuticos -
não foi constituído arguido. Já entre as 16 pessoas singulares,
constituídas arguidas, estão dois funcionários da Formifarma e 14 da
Bial, nomeadamente delegados de informação médica.
Zebenix na mira da Justiça
No âmbito das
denúncias que deram origem à investigação à Bial está também o alegado
favorecimento na comparticipação do Zebenix, um medicamento para a
epilepsia que levou a uma queixa contra o Infarmed por alegadamente
favorecer a sua aprovação. Em 2010, o regulador estipulou-lhe um preço
inicial de venda ao público de 230 euros (30 comprimidos), com uma
comparticipação estatal de 95%. O preço foi bastante criticado pelo
então presidente da Associação Nacional de Farmácias, João Cordeiro, que
chegou a exigir uma "investigação policial". Em Maio de 2012, o
Infarmed foi alvo de uma busca judicial por causa do Zebenix, cujo preço
e comparticipação foi, entretanto, baixando. Para colmatar a descida da
margem de lucro, segundo o ex-chefe de vendas Rui Peixoto, a Bial terá
aumentado ainda mais a pressão sobre os médicos e os DIM para que fossem
cumpridos os objectivos de vendas.
Denúncias de ex-funcionário
No âmbito do processo
‘Remédio Santo' que lesou os cofres do Estado em cerca de quatro
milhões de euros, Rui Peixoto, o ex-chefe regional de vendas da Bial
Portugal - que foi condenado a nove anos de prisão efectiva - revelou
que a farmacêutica terá pago muitos milhares de euros a médicos: em
dinheiro vivo ou através de cartões de compras ou colaborações em
"pseudo-estudos de mercado", para prescreverem medicamentos
comparticipados pelo Estado. Neste último caso, disse Rui Peixoto, os
pagamentos eram feitos por cheque para os clínicos participarem "na
simulação de estudos científicos, que mais não eram que inquéritos a
preencher pelos médicos".
Na lista que a PJ encontrou no âmbito
da operação ‘Remédio Santo' constarão cerca de 500 nomes de clínicos
que, segundo um relatório da Judiciária, teriam obtido "vantagens dadas
pelas estruturas dos laboratórios Bial, em moldes passíveis de
responsabilidade criminal pela prática de corrupção". Estas denúncias
foram feitas antes de Rui Peixoto ser acusado pelo MP, a 25 de Junho de
2013, da prática de crimes de associação criminosa, burla qualificada e
falsificação de documentos. Rui Peixoto fez, na altura, revelações
explosivas ao MP e ao juiz de instrução, Carlos Alexandre. A Bial
despediu-o em Dezembro de 2012 devido ao envolvimento no processo-crime,
e sempre negou todas as acusações.
* Como o dinheiro torna as pessoas nojentas!
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