01/07/2015

BERNARDO PIRES DE LIMA

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Todos os políticos 
estão a prazo

Dizem os gregos que "quem já está molhado não tem medo da chuva".

Juntemos-lhe a natureza revolucionária do Syriza e só se surpreende com a convocação do referendo quem anda desatento. Aliás, os passos de Tsipras são tudo menos imprevisíveis, o que diz mais sobre o comportamento dos restantes líderes europeus do que o dele: levar as negociações aos limites dos calendários, ser duro na linguagem para proveitos caseiros, criar uma onda de pânico para maximizar cedências da troika. Apesar de tudo, passar cinco meses a negociar com a troika é mais moderado do que as eleições gregas de janeiro faziam crer.

Chegados ao impasse que pode custar a saída da Grécia do euro, porque recusou Tsipras mais um pacote de "reformas" da troika? Primeiro, porque qualquer que ele fosse implicaria medidas tão duras como as anteriores, sem resolver o grande problema grego: a anemia económica. Cada pacote tem apenas o condão de resolver um dos dilemas da Grécia, a necessidade de capital para pagar fatias de empréstimos em curso, salários e pensões. É verdade, não é pouca coisa e há compromissos assumidos. Mas o problema de fundo mantém-se: como tornar a economia grega mais competitiva, atrair investimento estrangeiro, gerar emprego, aproveitar a sua localização geográfica. No fundo, como gerar riqueza que sustente os sucessivos pagamentos da dívida. Esta resposta não é dada pela troika.

Em segundo lugar, Tsipras nunca poderia vergar, como fizeram os seus antecessores, por imperativo ideológico e pressão partidária. Tal como todos os outros líderes sentados à mesa do Conselho Europeu, também ele faz pela vida. E o referendo permite-lhe uma de duas vias: partilhar com os gregos a recusa do plano da troika, acomodando os riscos que se seguirão (para a Grécia e não só); antecipar eleições, jogando o futuro político. Tsipras, como qualquer político, sabe que está a prazo.

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
30/06/15


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