Todos os políticos
estão a prazo
Dizem os
gregos que "quem já está molhado não tem medo da chuva".
Juntemos-lhe a
natureza revolucionária do Syriza e só se surpreende com a convocação do
referendo quem anda desatento. Aliás, os passos de Tsipras são tudo
menos imprevisíveis, o que diz mais sobre o comportamento dos restantes
líderes europeus do que o dele: levar as negociações aos limites dos
calendários, ser duro na linguagem para proveitos caseiros, criar uma
onda de pânico para maximizar cedências da troika. Apesar de tudo, passar cinco meses a negociar com a troika é mais moderado do que as eleições gregas de janeiro faziam crer.
Chegados ao impasse que pode custar a saída da Grécia do euro, porque recusou Tsipras mais um pacote de "reformas" da troika?
Primeiro, porque qualquer que ele fosse implicaria medidas tão duras
como as anteriores, sem resolver o grande problema grego: a anemia
económica. Cada pacote tem apenas o condão de resolver um dos dilemas da
Grécia, a necessidade de capital para pagar fatias de empréstimos em
curso, salários e pensões. É verdade, não é pouca coisa e há
compromissos assumidos. Mas o problema de fundo mantém-se: como tornar a
economia grega mais competitiva, atrair investimento
estrangeiro, gerar emprego, aproveitar a sua localização geográfica. No
fundo, como gerar riqueza que sustente os sucessivos pagamentos da
dívida. Esta resposta não é dada pela troika.
Em segundo
lugar, Tsipras nunca poderia vergar, como fizeram os seus antecessores,
por imperativo ideológico e pressão partidária. Tal como todos os outros
líderes sentados à mesa do Conselho Europeu, também ele faz pela vida. E
o referendo permite-lhe uma de duas vias: partilhar com os gregos a
recusa do plano da troika, acomodando os riscos que se seguirão
(para a Grécia e não só); antecipar eleições, jogando o futuro
político. Tsipras, como qualquer político, sabe que está a prazo.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
30/06/15
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