ESTA SEMANA NO
"EXPRESSO"
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Há caldeirada na Concertação Social
Peneda fez uma caldeirada para despedida. E cozinhou com os parceiros uma solução para a sua saída. Legal?
"Até à tomada de posse do novo titular do
cargo", o presidente do Conselho Económico e Social (CES) será Manuel
Lemos, da União das Misericórdias. A decisão foi tomada por unanimidade
entre patrões e sindicatos, mesmo nas vésperas da saída de Silva Peneda.
É transitória. Mas nem por isso deixa de ser um problema. É que, na
verdade, não tem cabimento legal.
.
Um consenso alargado, capaz de juntar Arménio Carlos e
Carlos Silva com os patrões da Indústria, do Comércio e do Turismo,
permitiu desbloquear a situação do Conselho Económico e Social, que se
arrasta há quatro meses. A unanimidade entre parceiros sociais nao é
habitual, mas a situação de impasse a que se chegou com a saída de Silva
Peneda da presidência - com efeitos a partir de hoje - forçou a
inventar estratégias.
O ainda presidente convocou o Conselho Coordenador do
CES, órgão de apoio à presidência, para a tarde de quinta-feira. Horas
antes, vestido com um avental do Futebol Clube do Porto, preparou uma
caldeirada de peixe para almoço de despedida dos 12 funcionários do
conselho. Deixou-se fotografar na cozinha da vivenda do Restelo onde, há
anos, funciona o CES, mas que pela primeira vez viu um
presidente-cozinheiro. E, na verdade, Peneda treinou-se, nos seus quase
quatro anos de mandato, a cozinhar estratégias com os parceiros sociais e
a juntar diferenças. "Sou um especialista em caldeiradas, de todos os
géneros", disse ao Expresso. Até à última hora, pelos vistos.
A solução encontrada pelos parceiros faz uma
"interpretação extensiva" da lei que regula o CES e uma "interpretação
analógica do disposto no estatuto do provedor de Justiça". Tudo para, na
prática, colmatar o vazio legislativo criado pela renúncia, apresentada
em janeiro, por Silva Peneda. Na verdade, o atual quadro jurídico não
prevê nem substituições nem transferência de poderes do presidente do
CES. Mesmo em caso de morte no exercício de funções. Formalmente, cabe
ao Parlamento a nomeação do presidente da Concertação, assim como a
regulação jurídica do modo de funcionamento daquele conselho.
O modelo adotado pode estar ferido de ilegalidade, mas
isso não travou patrões e sindicatos. "Quem quiser levante dúvidas. Por
unanimidade, encontrámos uma solução", diz fonte da Concertação. "Tinha
de ser encontrada uma saída", diz António Saraiva. Aliás, o Conselho
Coordenador do CES sublinha que o cargo será desempenhado interinamente
"até à tomada de posse do novo titular". E lança um apelo aos deputados:
que seja encontrado "um entendimento no quadro da AR" para que o
próximo presidente "seja eleito no próximo dia 15 de maio".
Assunção impõe-se
O entendimento entre os dois maiores partidos é inevitável, mas tarda em acontecer. Ao fim de quatro meses, ficou assente que os socialistas aceitarão o nome indicado pelo PSD e que será apenas um presidente de curta duração - até final da legislatura.
O entendimento entre os dois maiores partidos é inevitável, mas tarda em acontecer. Ao fim de quatro meses, ficou assente que os socialistas aceitarão o nome indicado pelo PSD e que será apenas um presidente de curta duração - até final da legislatura.
Mas houve outras hipóteses. Um dos cenários que o PSD
teve sobre a mesa foi deixar o problema por resolver até ao fim da
legislatura, o que complicaria a ida de Silva Peneda para Bruxelas. "Ele
não pode desertar, não pode deixar o lugar de qualquer maneira",
afirmou ao Expresso um alto dirigente do partido de Passos, sem
esconder o mal-estar que a gestão de Peneda à frente do CES provocou na
maioria. Isto apesar do acordo de Concertação Social alcançado em plena
crise e do qual Peneda foi um negociador fundamental.
Este clima foi, na altura, extensível a São Bento, onde
o ex-ministro de Cavaco chegou a ser acusado de ter feito uma gestão
política do cargo, sempre contra o Governo e tendo em vista um crescente
protagonismo pessoal. "Desde que percebeu que não ia a comissário
europeu, desistiu", afirma fonte oficial ao Expresso. E foi neste contexto que os sociais-democratas chegaram a equacionar não desbloquear o impasse até outubro.
Assunção Esteves, presidente do Parlamento, acabou por
ter um papel ativo a favor do bom senso. E depois de colocar a questão
aos líderes parlamentares, Luís Montenegro, do PSD, acabou por marcar
uma conversa com Ferro Rodrigues, o seu homólogo do PS. A partir daí, o
processo foi desbloqueado.
* Sem dúvida uma grande caldeirada, mas é cada peixe...
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