HOJE NO
"OBSERVADOR"
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Quando a política falha, aparece
a Nossa Senhora de Fátima
O exame da troika, uma mancha negra de crude e até a chuva. Em alturas de aflição, as preces viram-se para Nossa Senhora de Fátima. Mesmo as dos políticos.
A fé e a Nossa Senhora de Fátima entram de vez em quando pela
política adentro. Às vezes com estrondo ou surpresa mas num Estado
católico como o nosso vários são os políticos que não o escondem.
Em
vésperas de mais um 13 de maio, com milhares de peregrinos em Fátima, o
Observador foi recuperar alguns desses momentos de fé de políticos.
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O Presidente da República, Cavaco Silva, protagonizou um dos
momentos mais insólitos da política ao associar a aprovação de Portugal
no sétimo exame da troika com um milagre da Nossa Senhora de Fátima.
Estávamos em maio de 2013 e o Governo vivia um momento (dos muitos)
dramático por causa dos cortes que a troika queria impor. As negociações
arrastaram-se até ao último momento e quando Cavaco aparece em público
depois do acordo estar fechado não esconde a satisfação. “Penso que foi uma inspiração da Nossa Senhora de Fátima. É o que a minha mulher diz”, afirmou. “Foi
tomada uma decisão muito importante para o nosso futuro: colocámos
atrás das costas a sétima avaliação”, realçava o Presidente.
A
declaração do Presidente inspirou vários artigos de opinião e suscitou
mesmo a crítica partidária, carregada de ironia. Foi o caso do
ex-ministro socialista Augusto Santos Silva: “Compreendo bem a afirmação
do Presidente da República sobre Nossa Senhora de Fátima. Quando ouvi
pensei que era um absurdo completo e que teria de fazer aqui exegese. Só
pode ser um milagre a troika aceitar levar a sério este menu de
medidas”.
Mas não se pense que o caso de Cavaco é único. Em
fevereiro 2003, o petroleiro Prestige derramava uma mancha de crude no
Atlântico que ameaçava as águas portuguesas. Dia após dia, a mancha
crescia e as autoridades portuguesas não sabiam o que fazer. No final de
contas, as marés fizeram com que a mancha se deslocasse para o norte de
Portugal e o problema caiu nas mãos da Galiza. Em entrevista à Visão,
Paulo Portas, à data ministro da Defesa, viu a
intervenção da providência divina: “Eu acho que Portugal, na crise do
Prestige, foi ajudado por decisões firmes (que não permitiram a
aproximação da fonte do problema…) e foi muito ajudado por aquilo que eu, que sou crente, acho que foi uma intervenção de Nossa Senhora“.
É
uma espécie de último recurso. Quando a ação humana parece já não ter
eficácia ou quando se perdeu a esperança. Há três anos, o problema era a
seca que ameaçava a produção agrícola. A ministra da Agricultura,
Assunção Cristas, visitou algumas explorações e mostrou a preocupação
com os baixos níveis de precipitação naquela altura do ano, fevereiro. “Devo dizer que sou uma pessoa de fé, esperarei sempre que chova e esperarei sempre que a chuva nos minimize alguns destes danos.
Como é evidente, quanto mais depressa vier, mais minimiza, quanto mais
tarde, menos minimiza. Se não vier de todo, não perderei a minha fé mas
teremos obviamente de atuar em conformidade”, explicou a ministra.
Na história da política portuguesa, já está inscrita a célebre frase de Marcelo Rebelo de Sousa de que não seria candidato nem que “Jesus Cristo descesse à terra”.
A frase dita ao Público acabou por não ser cumprida. Marcelo
candidatou-se efetivamente à liderança do partido e ganhou em 1996.
Na
realidade, todos os políticos que invocaram Nossa Senhora de Fátima ou
Jesus Cristo são católicos e não o escondem. Para além de desabafos, há
ainda os casos em que a crença católica influencia publicamente as
opções políticas.
Foi o de António Guterres, católico praticante, que
assumiu ter sido essa condição que o fez opor-se à despenalização do
aborto no referendo de 1998. O PS dividiu-se, acabou por não se envolver
por inteiro na campanha do ‘sim’ e o ‘não’ vingou.
Na véspera da
discussão da lei do aborto na Assembleia da República, Guterres declarou
a título pessoal à Rádio Renascença: “A questão do aborto é uma questão
eminentemente moral que cada um deve julgar segundo as suas convicções.
De acordo com as minhas, não tenho nenhuma dúvida em dizer que adepto
da despenalização do aborto tal como está previsto nos dois projetos de
lei (o do PCP e o da JS). Esta é uma opinião de acordo com as minhas
convicções, com a minha vida moral e com os meus valores. Penso que a
vida é um valor extremamente importante que devemos preservar”.
* A classe política parece um enorme cinzeiro, há muita beata.
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