Tenho o
coração despedaçado!
Há dias em que não nos pode percorrer outro sentimento que o de um
coração despedaçado. Despedaçado pela falta de consideração. De esforço.
De entrega à construção de um país que todos deveríamos desejar melhor,
mais forte e mais eficiente.
Quando ouvimos, num determinado canal de televisão, responsáveis
sindicais orgulharem-se dos danos e prejuízos causados à TAP não podemos
deixar de nos perguntar qual é, afinal, o sentido da greve: tornar
melhores as condições de vida e exercício de funções dos trabalhadores
ou simplesmente machucar a empresa, as contas públicas e, indiretamente,
um país inteiro? A medida do sucesso é a medida do transtorno causado?
Mudo de canal. O Presidente da República afirma que não nomeará senão
um Governo forte e estável saído das eleições legislativas de
Setembro/Outubro. Nada de Governos minoritários! Mas como pode o
Presidente saber qual o resultado que advirá das escolhas dos
portugueses? E se for a de um Governo sem maioria absoluta? Que fará
Cavaco? Não nomeará ninguém e deixará o governo em gestão ou duodécimos?
Forçará uma panóplia de acordos que poderão incluir soluções integradas
de partidos como o CDS ou o Bloco de Esquerda? Só posso concluir que
Cavaco nunca compreendeu bem o papel do Presidente da República no atual
sistema constitucional.
Mudo de estação uma última vez. A discussão recai agora sobre a
humilhação imposta a um dos concorrentes dos ídolos pelo tamanho das
suas orelhas, enquanto terminava uma desastrosa prestação perante
milhares de pessoas. Os portugueses dividem-se entre críticas aos
desejos de fama fácil e a necessidade de punições severas. Os
familiares/tutores, esses, reclamam uma indemnização. E fica, claro, a
sensação de que neste país tudo é dinheiro. Tudo é comprável. Tudo é
economicamente mensurável…desde os danos provocados à TAP e aos
passageiros à destruição brutal da autoestima de um adolescente em
processo de formação de personalidade.
Estou quase a adormecer e ainda oiço António Costa dizer que sim, que
vai mexer nos escalões do IRS, só não diz quanto, nem em quais. Tudo
dependerá do ‘exato cenário macroeconómico’. Como se alguém ainda
acreditasse! Como se os portugueses não soubessem que estamos em ano
eleitora!
Adormeço definitivamente e lá fora fazem-se ouvir suaves rajadas de
vento que embatem contra as portadas. São ligeiras e intermitentes, como
os versos do poeta colombiano que cantavam: «tenho um país acantonado,
um povo abandonado e um coração despedaçado».
Jurista/Professor Universitário
IN "OJE"
11/05/15
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