14/05/2015

ANDRÉ VENTURA

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 Tenho o
 coração despedaçado!

Há dias em que não nos pode percorrer outro sentimento que o de um coração despedaçado. Despedaçado pela falta de consideração. De esforço. De entrega à construção de um país que todos deveríamos desejar melhor, mais forte e mais eficiente.

Quando ouvimos, num determinado canal de televisão, responsáveis sindicais orgulharem-se dos danos e prejuízos causados à TAP não podemos deixar de nos perguntar qual é, afinal, o sentido da greve: tornar melhores as condições de vida e exercício de funções dos trabalhadores ou simplesmente machucar a empresa, as contas públicas e, indiretamente, um país inteiro? A medida do sucesso é a medida do transtorno causado?

Mudo de canal. O Presidente da República afirma que não nomeará senão um Governo forte e estável saído das eleições legislativas de Setembro/Outubro. Nada de Governos minoritários! Mas como pode o Presidente saber qual o resultado que advirá das escolhas dos portugueses? E se for a de um Governo sem maioria absoluta? Que fará Cavaco? Não nomeará ninguém e deixará o governo em gestão ou duodécimos? Forçará uma panóplia de acordos que poderão incluir soluções integradas de partidos como o CDS ou o Bloco de Esquerda? Só posso concluir que Cavaco nunca compreendeu bem o papel do Presidente da República no atual sistema constitucional.

Mudo de estação uma última vez. A discussão recai agora sobre a humilhação imposta a um dos concorrentes dos ídolos pelo tamanho das suas orelhas, enquanto terminava uma desastrosa prestação perante milhares de pessoas. Os portugueses dividem-se entre críticas aos desejos de fama fácil e a necessidade de punições severas. Os familiares/tutores, esses, reclamam uma indemnização. E fica, claro, a sensação de que neste país tudo é dinheiro. Tudo é comprável. Tudo é economicamente mensurável…desde os danos provocados à TAP e aos passageiros à destruição brutal da autoestima de um adolescente em processo de formação de personalidade.

Estou quase a adormecer e ainda oiço António Costa dizer que sim, que vai mexer nos escalões do IRS, só não diz quanto, nem em quais. Tudo dependerá do ‘exato cenário macroeconómico’. Como se alguém ainda acreditasse! Como se os portugueses não soubessem que estamos em ano eleitora!

Adormeço definitivamente e lá fora fazem-se ouvir suaves rajadas de vento que embatem contra as portadas. São ligeiras e intermitentes, como os versos do poeta colombiano que cantavam: «tenho um país acantonado, um povo abandonado e um coração despedaçado».


Jurista/Professor Universitário

IN "OJE"
11/05/15

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