A lista de Tsipras
No passado dia 23 de março, Alexis Tsipras realizou a sua primeira
viagem a Alemanha como primeiro-ministro. A lista de assuntos a tratar
era curta mas tortuosa: o programa de resgate grego e a exigência de
Tsipras para que a Alemanha pague as indemnizações reclamadas pela
Grécia para reparação do sofrimento do povo grego durante os anos
dramáticos da ocupação alemã durante a Segunda Guerra Mundial.
A Grécia calcula que o valor das indemnizações reclamadas à Alemanha a
preços atuais poderá oscilar entre 162 mil milhões de euros e 274 mil
milhões de euros, dependendo do cálculo dos juros, enquanto o programa
de resgate atual ascende a 240 mil milhões de euros.
O objetivo moral das reclamações gregas é de fazer justiça ao
terrível sofrimento do povo grego durante a Segunda Guerra Mundial.
Porém, existem outros objetivos de natureza mais pragmática, e de
caráter político-financeiro, atrás das exigências gregas. A Grécia
pretende aliviar o peso do seu atual endividamento, ou pelo menos ver
concedidos no imediato os fundos de emergência que vem reclamando ao
Eurogrupo. Por outro lado, a Grécia quer enviar uma clara mensagem aos
dirigentes europeus de que a política imposta à Grécia pelas
instituições europeias, e nomeadamente pelo seu Estado-Membro mais
forte, a Alemanha, é insustentável. A renegociação da dívida grega e as
medidas de austeridade impostas no país deixou claras dúvidas sobre a
sua viabilidade, dado o contínuo agravamento da situação económica, e
das condições de vida do povo grego.
Contudo, Tsipras não tem conseguido comunicar a sua mensagem e apelo
para um entendimento construtivo e solidariedade entre parceiros, e
certamente não o conseguirá se insistir em despertar traumas antigos e
velhas exigências pelos crimes que o regime nazi cometeu há mais de 70
anos. De facto, esta iniciativa de Tsipras evidencia falta de
inteligência política, pois mais parece uma reação emocional e vingativa
do David (Grécia) contra o Golias (Alemanha) do que uma diligência
realizada com a requerida elevação político-diplomática. Ninguém na
Europa acreditou nas intenções de “reparação moral” evocadas pelo
governo grego, pelo que na prática o mensageiro falhou dramaticamente na
sua missão, promovendo uma maior clivagem de posições com os seus
parceiros.
Não podemos esquecer que o projeto europeu nasceu com o principal
objetivo de garantir a paz e segurança no continente europeu, superando o
passado sangrento e devastador da II Guerra Mundial, e assegurando a
dignidade, e prosperidade económica e social para todos os europeus. E,
não há dúvida que a Europa conseguiu atingir estes desígnios. Em menos
de sessenta anos, a construção europeia permitiu superar ódios
indizíveis e promover a manutenção de paz e segurança no continente
europeu, e um nível de prosperidade socioeconómico impensável num espaço
marcado por fortes identidades nacionais e grande fragmentação do
mercado. A UE é um projeto criado nos antípodas do nacionalismo, e da
desconfiança. Um facto adquirido que os líderes alemães e gregos parecem
por vezes esquecer.
A União deve continuar a promover a sua coesão económica, social e
territorial, e a solidariedade entre os Estados-Membros. Para o bem de
todos nós, os povos da Europa.
Ai está a mensagem que tanto os dirigentes gregos, a começar por
Tsipras, como os dirigentes alemães deveriam propagar, a nível europeu,
mas acima de tudo, nos seus próprios países!
Professora universitária
IN "OJE"
02/04/15
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