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Pornografia infantil alarma
Só no último mês, foram detidos seis homens, entre os 20 e os 40 anos,
por crimes de pornografia infantil em Portugal - entre eles o jovem
apanhado esta semana, em Gondomar, que tinha milhares de ficheiros de
cenas de abusos sexuais de adolescentes e crianças no computador e
discos rígidos que guardava em casa dos pais.
O fenómeno criminal está a alarmar as autoridades, cada vez mais
alerta para estas situações. As condenações por este tipo de crime
também dispararam nos últimos anos, mas a maioria dos agressores sai do
tribunal com multa ou pena de prisão suspensa, segundo os dados oficiais
a que o SOL teve acesso. Uma realidade que o reforço de penas aprovado
na semana passada pelo Conselho de Ministros não vai alterar.
Os dados oficiais do Ministério da Justiça mostram que, em apenas
cinco anos, os condenados nos tribunais por pornografia de menores foram
seis vez mais: 27 em 2013, enquanto em 2009 tinham sido apenas quatro.
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«As sentenças reflectem o aumento das investigações e um refinar da
prova que é apresentada em tribunal», defende o coordenador da secção do
crime informático da Polícia Judiciária (PJ), Carlos Cabreiro, que em
Lisboa investiga os casos de pornografia de menores através da
internet.
«Mas esta é ainda a ponta do icebergue» - diz por sua vez ao SOL o
especialista Tito Morais, fundador do site Miúdos Seguros na Net, onde
se alertam pais e menores para os riscos dos predadores sexuais online,
lembrando que este crime está cada vez mais disseminado e que basta um
smartphone para que as crianças sejam aliciadas a práticas sexuais.
O especialista diz que, apesar do aumento de condenações, mantém-se a
sensação de impunidade em relação a estes crimes. «Muitos abusadores
saem dos tribunais com pena suspensa», afirma, recordando a decisão do
Supremo Tribunal de Justiça que, em Janeiro, suspendeu a pena de cinco
anos e meio de prisão a que foi condenado um sargento da Marinha do
Seixal, que aliciou duas jovens de 13 e 15 anos através das redes socais
e divulgou imagens de pornografia infantil na net.
Aliciamento pela internet vai ser crime
O crime é punido até cinco anos de cadeia, o que permite ao juiz optar
pela suspensão da pena. E os dados confirmam que são raros os arguidos
por pornografia de menores que saem dos tribunais para a cadeia: dos 27
condenados em primeira instância em 2013, apenas três tiveram uma pena
efectiva. Oito dos predadores saíram com multa e outros 12 foram punidos
com pena suspensa ou sujeita a regime de prova.
Para a PJ, a leitura dos dados é outra. «Como têm aumentado os
suspeitos que são detidos preventivamente, quando são condenados em
tribunal já cumpriram parte ou a totalidade da pena», diz Carlos
Cabreiro.
O aumento das punições para estes crimes aprovado na semana passada
em Conselho de Ministros não deverá alterar este cenário, pois prevê que
a pornografia infantil continue a ser penalizada com uma pena até cinco
anos.
A proposta de lei do Governo - que transpõe com mais de um ano de
atraso uma directiva comunitária aprovada em 2011 e terá agora de ser
aprovada no Parlamento - prevê que as punições possam duplicar para dois
anos para quem for apanhado com imagens pornográficas que representem
de forma realista menores. E penaliza pela primeira vez o aliciamento
para fins sexuais através da internet, com prisão até um ano. Se o
arguido tentar marcar um encontro, esta punição duplica.
Em 2014, foram abertos 240 inquéritos por pornografia de menores no
país. A PJ reconhece que o aumento da detecção de casos se deve em
grande parte à cooperação com as autoridades internacionais, que alertam
Portugal sempre que são detectados crimes sexuais ou denúncias que
envolvendo suspeitos em território nacional.
Abusadores cada vez mais sofisticados
Foi um destes alertas que permitiu deter em Gondomar, no início desta
semana, o suspeito que há nove anos se dedicava a este crime, sem nunca
ter sido detectado. A informação chegou através da Polícia brasileira,
depois de uma menor daquele país se queixar de ter sido aliciada pelo
português de 28 anos, através das redes sociais, a praticar actos
sexuais em frente à câmara da web. Ao longo de quase uma década, esta
técnica permitiu-lhe acumular um verdadeiro arsenal de imagens e vídeos
de pornografia de menores nacionais e estrangeiras em ficheiros em
discos rígidos, que agora estão a ser analisados.
O suspeito foi ouvido na terça-feira pelo procurador do Ministério
Público de Gondomar que perante a promessa do arguido de que se vai
tratar da compulsão sexual, o deixou sair em liberdade.
Apesar do crescimento dos alertas, provar estes crimes está a tornar-se
cada vez mais difícil. «Temos assistido a um aumento de casos e o grau
de sofisticação também cresceu», reconhece o coordenador da PJ de
Aveiro, Rui Nunes, que neste momento, tem oito investigadores dedicados à
criminalidade sexual de menores. «Há uma grande preocupação em camuflar
os ficheiros, os discos são encriptados, o que exige perícias
prolongadas».
São essas perícias - que tentam desvendar códigos com milhões de
combinações possíveis - que já estão a ser usadas pela PJ de Aveiro no
material apreendido a outro jovem, de 22 anos, detido no dia 6 deste
mês, na posse de imagens e ficheiros multimedia com cenas de abusos
sexuais de crianças. Apesar de ser um autodidacta, o suspeito já
utilizava ferramentas muito sofisticadas de protecção de dados.
A Judiciária está a passar a pente fino o material apreendido ao
jovem - dois computadores portáteis, um disco rígido e um disco externo -
para concluir a acusação. A suspeita para já é de pornografia de
menores, mas há a possibilidade de o jovem também dedicar-se à
comercialização dos ficheiros.
Carlos Cabreiro diz que a detecção de redes organizadas e o
acompanhamento das técnicas de encobrimento destes crimes é outros dos
grandes desafios actuais para a investigação, já que grande parte dos
autores destes crimes usam perfis anónimos e chats próprios, e estão
constantemente a incentivar a aquisição de imagens frescas. Há até casos
em que, para terem acesso a certos chats, pagamuma espécie de jóia para
aceder a novas fotografias de abusos.
O coordenador admite, contudo, que a criação de uma Unidade Nacional
de Combate ao Crime informático - também aprovada na semana passado pelo
Conselho de Ministros -, que implicará novos meios e recursos humanos,
vai melhorar a resposta a estes casos. «É uma necessidade que decorre do
aumento das situações e mostra que estes crimes vieram para ficar».
Portugueses em redes internacionais
Mas nem todos os que consomem pornografia infantil se tornam abusadores
físicos de menores. «Acredito que a maioria deles tem interesse sexual
por crianças, mas não passa ao acto físico porque tem autocontrolo e
reflexão suficiente para travar os impulsos», explica Ricardo Barroso,
psicólogo e membro do comité científico da Associação Internacional para
o Estudo e Tratamento dos Agressores Sexuais.
O especialista considera que este tipo de crimes vai continuar a aumentar porque «a internet é pouco regulada».
* Tudo o que se referir a aliciamento ou utilização de imagens de crianças para fins de pornografia deve ser muito severamente punido. Consideramos ser o melhor método disuasor.
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