HOJE NO
"JORNAL DE NEGÓCIOS"
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Funcionários do Fisco recorrem à PGR por causa de "lista VIP" de contribuintes
Consulta aos dados fiscais de Pedro Passos Coelho
já motivou 27 processos disciplinares. Sindicato dos Impostos pede
clarificação à Procuradoria-Geral da República e diz que há uma lista
"vip" de "contribuintes de primeira categoria" que os funcionários não
podem consultar e está a levar à instauração de dezenas de processos
disciplinares.
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Terá o Fisco uma lista "vip" de
contribuintes cujo cadastro está especialmente protegido, e faz soar os
alarmes sempre que algum inspector o consulta? A pergunta tem ecoado nos
corredores da Autoridade Tributaria (AT) depois de, nos últimos meses,
ter aumentado muito o número de processos disciplinares relacionados com
a alegada quebra do sigilo fiscal - 27 dos quais relacionados com Pedro
Passos Coelho. Mas ganha agora nova dimensão depois de ter sido
abordada pelo líder do PS, António Costa, e de os funcionários fiscos
informarem que recorreram à Procuradoria-Geral da República para
esclarecerem os seus direitos e inibições.
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Esta manhã, reagindo às notícias sobre as falhas contributivas de
Pedro Passos Coelho que nos últimos dias vieram a lume, o
secretário-geral do PS aludiu à "denúncia gravíssima, feita pelo
presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos", de que que "foi
constituído um universo de contribuintes VIP, cujos dados revestem
particular protecção e cuja consulta pelos funcionários da AT implica
imediatamente o desencadear de mecanismo de alarme junto do respectivo
diretor-geral". António Costa diz que "é necessário garantir que tudo
isto decorre com total transparência", mas "este clima não é nada bom
para o dever de sentimento de responsabilidade, de respeito que todos
querem relativamente às instituições democráticas".
Citado pela Lusa, António Costa, sublinhou ainda que importa
"garantir que estes processos disciplinares decorrem com total isenção e
que em caso algum podem constituir uma forma de limitar os deveres que
os funcionários da AT têm de garantir o cumprimento das obrigações
fiscais por parte de qualquer cidadão".
Paulo Ralha, presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos (STI), já havia dito
ao Negócios que, numa acção de formação recente, um dos formadores
tinha transmitido esta mesma informação aos formandos. O dirigente
sindical mostrava-se preocupado com a situação, não só por criar
categorias de contribuintes de primeira e de segundas categorias, mas
também porque esta prática estará a inibir o trabalho dos funcionários.
Esta sexta-feira, Paulo Ralha acrescenta à Lusa que pediu, esta
semana, à Procuradoria-Geral da República (PGR) que esclarecesse se os
funcionários têm limitações na consulta de informações fiscais dos
contribuintes. "Aguardamos um esclarecimento da PGR no sentido de
esclarecer qual é o âmbito em que os funcionários do Fisco podem aceder à
base de dados e se existem limites a esse acesso", contou o presidente
do STI.
Desde finais do ano passado, a Autoridade Tributária (AT) já
instaurou, ou está em vias de instaurar a quem apenas ainda notificou
para prestar declarações, cerca de 140 processos de averiguações a
funcionários que consultaram dados de contribuintes, contou o
sindicalista. Mas não é o acesso a dados de qualquer contribuinte que
tem motivado a abertura destes processos, explica Paulo Ralha, dando
conta de se tratarem "sempre" de figuras mediáticas, com grande
influência no país.
A maioria dos processos de averiguação abertos nos últimos meses está
relacionada com a consulta de dados de empresas inspeccionadas e
respectivos sócios, pessoas ligadas ao sistema financeiro e empresários
mediáticos.
A abertura pela AT de processos de averiguações aos funcionários, que
segundo Paulo Ralha foi "muito pontual" até finais do ano passado, está
a motivar um clima de mau estar e insegurança no seio dos trabalhadores
dos impostos.
O Ministério das Finanças reitera que que "em todos os casos em que a
AT tem conhecimento de suspeitas de violação do dever de
confidencialidade relativamente a qualquer contribuinte português é
instaurado o correspondente processo de auditoria interna", um
procedimento que "tem como único objectivo defender o direito
fundamental de cada contribuinte ao sigilo fiscal".
Mediante os desmentidos das Finanças sobre a existência de uma "bolsa
VIP", o STI já disse querer saber, então, "porque é que o Chefe de
Divisão da Direcção de Serviços da Auditoria Interna fez esta afirmação
numa acção de formação onde estavam 300 inspectores?"; "porque surgiram
mais de 100 inquéritos com vista a processos disciplinares a
trabalhadores que estavam a fazer consultas no âmbito das suas funções,
justamente depois das declarações daquele alto responsável da AT?".
* Temos uma sinistra das Finanças que pode tudo, até um dia.
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