Alemães
mais bonzinhos do que
portugueses e gregos
Os alemães acreditam que os seres humanos são honestos, prestáveis e de confiança. Afinal os desconfiados somos nós. Pior, só os gregos
Estamos
a ver tudo ao contrário. Imaginamos que os países que têm sol e praia
são habitados por gente mais feliz e contente dos que aquela que vive a
norte. Apregoamos que aqueles que banham os pés no Mediterrâneo são mais
afectuosos, confiantes e calorosos do que todos os outros europeus.
Nesta visão da realidade "O ministro das Finanças grego é sexy, porra!",
como ternamente Isabel Moreira definiu Varoufakis, enquanto Merkel não
passa de uma criatura tosca e cruel, que espezinha PIGS rosados e
sorridentes, que ingénuos e crentes deixam que lhes vá aos bolsos sem
protesto. Ao pescoço de Merkel, um cachecol da Burberry seria uma
espinha na garganta do proletariado, mas a reconfortar o pescoço
musculado do professor universitário é só um adereço que, porra!, o
torna mais sexy ainda. Além do mais, no primeiro caso gritaríamos que a
pura lã virgem fora paga com dinheiro que nos tinha sido extorquido,
enquanto no segundo sorrimos enlevados com o romântico presente de uma
companheira extremosa.
Pois é, mas as estatísticas denunciam que a nossa visão da realidade,
e da natureza dos povos, está virada do avesso. É claro que
desconfiamos sempre dos números quando não favorecem as nossas ideias
feitas, mas estes resultam de estudos insuspeitos, que pode encontrar no
Portal de Opinião Pública, uma magnífica criação da Fundação Manuel dos
Santos que compara indicadores de muitos países.
Quer ver como é verdade? Então diga lá, qual é o povo mais confiante,
que acredita que se pode fiar nos seus concidadãos? Se respondeu a
Alemanha (porque é que desconfio que não?!), acertou em cheio. Os
alemães estão no topo com 5 pontos, numa escala que vai de 0 (todo o
cuidado é pouco) a 10 (a maioria das pessoas é de confiança). Quanto aos
gregos, ficam-se pelos 4 e Portugal no fundo da cadeia, com uns míseros
e desconfiados 3,6.
Experimente agora descobrir qual é a percepção de honestidade que
portugueses, gregos e alemães têm das pessoas que os rodeiam e vai
perceber porque é que, apesar de sermos maus pagadores e de nos
queixarmos por cima, os alemães nos continuam a emprestar dinheiro. É
que eles estão convictos de que os seres humanos são maioritariamente
honestos, com um voto de 6 em 10. Já os portugueses suspeitam que em
cada esquina está um ladrão, com uma nota de 4,8, e os gregos estão
seguros de que toda a gente está disposta a vender a mãe, como indicam
os seus 3,9.
Segue-se um outro item avaliado - a prestabilidade das pessoas, ou
seja, a disponibilidade que têm umas para as outras. Neste caso o zero
corresponde a uma ideia de que "as pessoas só se preocupam com elas
próprias", numa definição amarga e rancorosa da espécie humana.
Infelizmente, os portugueses e os gregos estão bem mais próximos dessa
visão do mundo que os alemães. Enquanto os primeiros se ficam em redor
do 3, em 10, recorde- -se, os alemães estão nos 5,2, o que não é nenhuma
maravilha mas é bem melhor. Na prática significa que os pobres coitados
acreditam que os porquinhos têm um coração de ouro e merecem a ajuda
dos seus impostos.
O que mais surpreende é que os portugueses, apesar de tão
desconfiados do vizinho, da mulher, da sogra, do chefe e da amiga, se
considerem gente feliz, com um 6,5 em 10. Os gregos, mais coerentes,
tirando consequências da opinião tão baixa que têm da espécie a que
pertencem, dizem-se menos felizes que nós. Mas, surpresa, contra todas
as expectativas - afinal não era um povo que só sabia trabalhar e beber
cerveja? -, os alemães são bem mais felizes que os mediterrânicos, e
chegam quase ao bingo, com um 7,7.
O que vos digo é que quando cheguei à pergunta "Quantos acreditam no
Inferno?" já não me admirei nada que 53% dos gregos dissessem que sim,
35% dos portugueses afirmassem o mesmo, e apenas 14% dos alemães
vivessem atormentados com as labaredas. É que, a acreditar nestes
resultados, afinal aqui a malta trata de viver o inferno na terra.
IN "i"
21/02/15
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