O jogo da corda
Publicado no dia em que
ia jogar-se mais um round das negociações cruciais para o futuro da
Grécia, o artigo de opinião do ministro Varoufakis, ontem, no "The New
York Times", intitulava-se "Sem tempo para jogos na Europa". Mas o que
saiu da reunião do Eurogrupo foi precisamente uma versão mais elaborada
do tradicional jogo da corda: cada uma das partes continua a puxar sem
ceder um milímetro, a ver qual a equipa que primeiro irá cair.
As
declarações de ontem demonstram que o recurso à chantagem está a ganhar
força. O Eurogrupo faz um ultimato e diz que apenas volta a sentar-se
para negociar, sexta-feira, se a Grécia aceitar o prolongamento do
resgate da troika. O ministro das Finanças grego contrapõe que os
ultimatos nunca resultaram em nada de bom para a Europa, depois de se
mostrar intransigente quanto aos termos "inaceitáveis" da proposta.
Percebe-se,
pelo endurecimento do discurso de parte a parte, que haverá vários
países dispostos a deixar cair a Grécia. Importa, no entanto, recordar
que a questão não é simplesmente de financiamento. É difícil prever os
efeitos de uma saída da Grécia da Zona Euro, num contexto que é já de
instabilidade à partida. O desemprego elevado, o risco de deflação e as
dificuldades em relançar a economia em diversos países europeus são
fatores que obrigam a olhar para 2015 sem expectativas demasiado
otimistas.
Junte-se à instabilidade económica o descontentamento
social e a proliferação de fenómenos políticos que capitalizam, nas
margens quer da Esquerda quer da Direita, o descontentamento das
populações. Obtém-se um cozinhado polvilhado de ingredientes picantes,
que tanto pode recolocar a Europa num novo patamar de diálogo e
entreajuda, como representar, pelo contrário, a sua fragmentação.
O
tempo não será de joguinhos, mas de tentativa equilibrada de diálogo.
Porque, no jogo da corda, nem sempre há vitórias: acontece todos caírem
com espalhafato no chão, sem que da medição de forças saia mais do que o
reconhecimento da inutilidade da força.
Subdirectora
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
17/02/15
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