Grécia e Europa:
expetativas e perigos
A notória vitória do Syriza, no limiar da maioria absoluta, e o
facto de já ter formado uma paradoxal coligação com o partido de direita
Gregos Independentes, gera dois sentimentos opostos, de alívio e de
ansiedade. Por um lado, o país não entrará no período extenuante de
múltiplas e dolorosas tentativas de formar um governo de coligação, o que
obrigaria a Grécia a permanecer na incerteza e na instabilidade política
muito mais tempo. Por outro lado, a vitória do Syriza incita uma
profunda ansiedade sobre o futuro da Grécia e, consequentemente, sobre o
futuro da Europa.
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Será que o Syriza adotará uma estratégia política mais realista e
pragmática que permitirá ao país aliviar as medidas de austeridade mas
sem colocar em risco a permanecia da Grécia na Zona Euro e na União
Europeia? Ou a inexistência de experiência do partido o impedirá de
realizar as suas promessas, dando espaço para que outras forças extremas
e muito mais perigosas, como o partido da Aurora Dourada, reforcem o
seu poder? Será que abriu a caixa de Pandora para que outros partidos
radicais de esquerda ou direita, em Espanha, Portugal, e Itália,
ganharem crescente apoio popular contra as medidas impostas pelos
credores europeus ?
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É sabido que o programa económico do Syriza, batizado “Programa de
Salónica”, assenta na luta contra a crise humanitária, no relançamento
da economia, na estabilização do mercado e na reforma do Estado.
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O êxito desse programa dependerá, por um lado, da abordagem e
capacidade negocial e de trabalho do Syriza; da sua determinação de pôr
ordem na casa, realizar as reformas estruturais indispensáveis, para
combater drasticamente a corrupção, a evasão fiscal, a injustiça social,
e encontrar meios credíveis de aumentar a competitividade do país de
modo inteligente, realista e pragmático.
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Igualmente, o sucesso de Tsipras dependerá da abertura e flexibilidade dos parceiros europeus, principalmente da Alemanha, de
aceitar negociar um novo plano para a restruturação da divida grega,
realizando, ao mesmo tempo, as reformas institucionais e solidárias a
nível europeu.
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Basta agora confirmar se o Syriza conseguirá cumprir as suas
promessas sem pôr em risco os sacrifícios já feitos pelo povo grego, nem
a própria União e os seus ideais. Porém, uma outra força política
grega, a Aurora Dourada, já afirmou e já provou, com os seus atos
criminais, que não reconhece nem a União nem os seus ideais de liberdade
e de igualdade. O partido neonazi Aurora Dourada figura entre os
vencedores das legislativas gregas, elegendo 17 deputados, menos um
deputado que nas eleições legislativas de 2012, e obtendo 6,28% (em
relação com 0,29 % em 2009, e 7% em 2012). Com este quadro partidário, a
União Europeia parece reviver os seus velhos demónios. A crise social e
democrática é um terreno fértil para o ressurgimento da extrema direita
em toda a União, tal como aconteceu, salvaguardando as indesejadas
analogias, nos anos que precederam o eclodir da II Guerra Mundial.
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Se o Syriza não conseguir aliviar o sofrimento do povo grego,
gerando esperança num futuro melhor, muito provavelmente, a Aurora
Dourada irá aumentar ainda mais o seu poder, colocando em risco não só o
futuro da Grécia mas dos valores democráticos e liberais, e da própria
paz e segurança de todos nós, europeus.
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Como dizia Alexis de Tocqueville, colocados no meio de um rio
rápido, fixamos os olhos nalguns destroços que se avistam ainda na
margem, enquanto a corrente nos arrasta e empurra às arrecuas para o
abismo.
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Hoje, os europeus tomam a paz como um dado adquirido… mas também,
deveriam considerar como dado adquirido as terríveis e perigosas
consequências de uma Europa dividida, extremista, e xenófoba.
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Professora universitária
IN "OJE"
29/01/15
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IN "OJE"
29/01/15
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