16/02/2015

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HOJE NO 
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Opus Dei.
Muito mais é o que une a obra 
à tradição que aquilo que a separa

A santificação pelo trabalho. Aqui, a ideia é a de que qualquer um pode ser santo no seu dia-a-dia e que a santidade é para leigos e não uma coisa de religiosos

É sacerdote e actual pároco de Telheiras, em Lisboa. Daqueles que usam cilício para se mortificar. Mas nem sempre foi assim. Antes dos 52 anos, idade com que foi ordenado pela prelatura da Santa Cruz e Opus Dei, o padre Rui Rosas chegou a ser militante do PSD, jornalista e até esteve cinco anos sem “pôr os pés na missa”, o que terá levado a mãe a rezar a todos os santos.

Antes de avançar na história convém desfazer alguns mitos. O Opus Dei, que, literalmente, significa “Obra de Deus”, não é uma sociedade secreta ou uma “máfia santa”. Mas tem um clero e regras próprias – um plano de vida – e, por isso, acaba por funcionar como uma igreja dentro da própria igreja. Como acontece com outras organizações católicas: Movimento de Schoenstatt, Caminho Neocatecumenal, Focolares ou Comunhão e Libertação.
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Voltemos ao padre Rui Rosas. “A nossa vida tem um antes e um depois. No meu caso, antes de ser do Opus Dei e depois de ser do Opus Dei”, diz. O antes foi até aos 22 anos, era estudante de Filosofia, estávamos em 1963. O depois inclui ser professor de liceu e director – o primeiro – do Colégio Planalto, uma escola da obra só para rapazes (ver caixa). Aos 52 anos, Deus “perguntou-me se eu queria ser sacerdote e eu disse que sim. Cá estou”, conta.

Os sacerdotes provêm dos fiéis leigos do Opus Dei e são convidados pelo prelado a receber as ordens sagradas depois de anos de dedicação e formação. É muito normal no Opus Dei ser-se ordenado tarde. Com o padre Rui foi ordenado outro com 70 anos. “Não é uma vocação tardia, é servir a Deus de uma maneira diferente”, afirma.

É aqui que começa a zona cinzenta. O padre Rui foi incardinado pela prelatura do Opus Dei e está “à disposição da prelatura para tudo o que esta quiser”. Dentro do bom senso. “Tenho 74 anos, podem pedir-me para ir para a China, mas o mais normal é que não tarde vá para o Alto de São João”, graceja.

A partir de 2004 houve um acordo entre a prelatura e o patriarcado de Lisboa, até porque faltam vocações e os padres seculares (das dioceses) não chegam. Foi criada a paróquia de Telheiras e o padre Rui foi mandado para lá pelo Opus Dei. Mas já esteve em Coimbra, no Porto, em Viseu.

Este sacerdote, como os restantes da instituição, não é consagrado como os padres seculares: não fez os votos da obediência, da pobreza e da castidade. Embora os viva. O padre Rui Rosas é numerário, sempre viveu em celibato. Namorou? “Não namorei. Não tive tempo e não é que não tivesse pensado nisso, mas não calhou”. E vive a pobreza. “O que preciso, com fundamento, peço. E o que ganho entrego”. Quanto à obediência, primeiro ao prelado, mas sempre a Deus.

Se é assim, porque não servir a Deus sem intermediários? “A pessoa começa a sentir que deve entrar por um caminho determinado. O do Opus Dei foi o que me entusiasmou, pela ideia de poder servir a Deus no meio do mundo, fazendo bem o meu trabalho. Mas como leigo. Senti uma afinidade clara, uma realização que me agrada muito e noutro sítio não. Mas a obra nasceu para servir a Igreja como ela quer ser servida. Sempre procuramos trabalhar em harmonia com a hierarquia, não se começa a trabalhar institucionalmente num sítio sem autorização do outro”, esclarece.
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É fácil conversar com o padre Rui e o seu sorriso aberto. Mas impossível não reconhecer alguns tiques conservadores. E que não são necessariamente do Opus Dei mas da Igreja Católica em geral, como o próprio reconhece. Sobre o Papa Francisco diz que só tem de seguir o que ele diz. “Gosto imenso daquilo que oiço... Bem, é um argentino. Estamos habituados a um alemão, um italiano, um polaco, todos europeus. Este homem traz a alegria da América do Sul para a Igreja”.

Mas é mais fácil falar de umas alegrias do que de outras. O dinheiro, por exemplo, é uma questão fácil. “Tenho paroquianos importantes e paroquianos menos importantes. As pessoas é que gostam de julgar o todo pela parte. Alguns estão aflitos, vêm aqui pedir comida. Ainda agora acabámos de fazer uma distribuição de comida para as famílias mais desfavorecidas. Quem paga é a paróquia com dinheiro dos paroquianos que podem mais – não há cá dízimo, cada um dá o que quer e pode. E temos um roupeiro, com coisas que nos dão. Procuramos atender pessoas doentes e fizemos um acordo com uma farmácia local em que a paróquia oferece até um máximo de 50 euros por pessoa, desde que os medicamentos sejam comparticipados”.

Um acordo sobre os homossexuais na igreja, por exemplo, já é mais difícil. “Se uma pessoa tem essas tendências, tenho pena dela. Mas há uma coisa que se chama virtude da castidade. Não posso dizer a um homem que é mulherengo que pode fazer o que quer e ter outro discurso para um homossexual. Sei que há quem sofra muito com a homossexualidade e esta é uma forma de oferecer a Deus esse sacrifício”.

E voltamos à mortificação corporal. Não chega a oração e o arrependimento? “Minha cara amiga, é preciso a gente sacrificar-se. Mas é uma tradição da Igreja Católica, e não do Opus
Dei, que haja pessoas que, por espírito de sacrifício, de mortificação, usem uma coisa que as incomoda um bocado. É só isso, mais nada. Eu uso cilício [cinto áspero que se usa sobre a pele], mas vou comprá-los ao carmelo, não os fabrico”. Para os padres, e para este em particular, o objectivo da mortificação é o “amor a Deus, procurar obter graças para os outros ou para si e também ter controlo sobre si mesmo. Se vou a uma boda, as bodas de Caná, e bebo do vinho até não poder fazer o quatro… Tenho de ter uma série de limites. E o sacrifício é uma boa forma de arrependimento”.

José Rafael Espírito Santo. Vigário Regional (Portugal)  
"Disputar correligionários não faz parte do Opus Dei" 

Como aplica o seu carisma à Igreja de hoje?
A servir a Igreja de Cristo através de uma maneira peculiar de viver o encontro com Deus na família, no trabalho, no descanso. Isto traduz-se numa proposta formativa que não interfere com o cuidado pastoral realizado nas paróquias e nas dioceses, sem constituir um grupo à parte e pondo o seu carisma ao serviço da comunidade e dos outros.

O proselitismo do Opus Dei disputa território com a Igreja. Concorda? Esse tipo de proselitismo, criticado pelo Papa Francisco, que leva a disputar correligionários, não faz parte do Opus Dei. A missão do Opus Dei é a própria missão da Igreja, levar cada um a tomar a sério o projecto que Deus tem para si. Depois "cada caminhante siga o seu caminho", palavras de um poeta que S. Josemaria gostava de repetir.

Como vive os escândalos da Igreja?
São casos que envergonham qualquer cristão e a tolerância tem de ser zero. O sofrimento das vítimas e dos seus familiares deixa marcas profundas e o meu desejo é que não se afastem de Deus. Como cristão devo pedir perdão por essas condutas abomináveis. Ao mesmo tempo, como também o Papa Francisco tem afirmado, cada um de nós necessita de se converter.

O que pensa do projecto de reforma do Papa Francisco?
O Papa Francisco é um Papa providencial. Representa hoje a renovação que Deus tem imprimido à vida da Igreja nos últimos anos. Com o seu estilo e modo de ser muito próprios, vai dando passos que são sinal de esperança, neste mundo fechado em si mesmo que necessita de uma Igreja verdadeiramente missionária e fiel ao Evangelho em todas as suas estruturas.

* Uma notícia tenebrosa, os portugueses não ficaram esclarecidos quanto ao maquiavelismo da Obra.

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