12/02/2015

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431.
Senso d'hoje

   ALEXANDRE 


QUINTANILHA
CIENTISTA, CONCEITUADO
PROFESSOR UNIVERSITÁRIO
SOBRE SI E SOBRE O PAÍS


SOBRE SI
Casei-me com o Richard [Zimler] em Portugal. Algo impensável há dez anos. Os meus amigos lá fora ficaram espantadíssimos. Portugal evoluiu imenso. Há milhares de jovens que, por exemplo, vivem com outros jovens sem se casarem, têm filhos sem se casarem, seguem os seus sonhos contra a vontade dos pais. E há uma consequência curiosa do fim da ditadura: foi muito mais importante para as mulheres do que para os homens. Os homens ganharam liberdade política. As mulheres ganharam essa e muitas outras. Esta coisa de poderem viver com um homem sem estarem casadas, de morarem sozinhas, de decidirem não ter filhos, de viajar, de abrir uma conta no banco… As mulheres que viveram essa transição têm uma forma de estar totalmente distinta de há 20 ou 30 anos. E, portanto, o investimento na educação teve um impacto enormíssimo mesmo que por vezes seja difícil de medir. E um certo empowerment que as pessoas adoptaram, mas que infelizmente está a enfraquecer porque muitos não sabem se vale ou valeu a pena. As pessoas vêem que não há muitas oportunidades cá e esquecem--se que o mundo está aberto para elas. Consideramos agressivo sugerir que os jovens procurem emprego lá fora, mas foi isso mesmo que eu fiz quando saí de Moçambique. 

SOBRE O PAÍS
Houve vários governos de cores diferentes que apostaram no conhecimento e investiram no futuro dos jovens. Alguns dizem que se esqueceram de pensar no que fazer com esses jovens, mas todos nos lembramos do que aconteceu com demasiado planeamento nos países comunistas. Nem quero viver numa sociedade dessas. Se calhar não houve muita preocupação em planear o passo seguinte, mas é preciso ver que estávamos muito longe das metas europeias. E não se esqueça que continuamos a investir menos de 1% de dinheiro público na ciência. E se a gente acha que é o investimento no conhecimento que leva à inovação, gastar menos de 1% por ano é ridículo.  

Não podemos pretender que um país com 300 anos de inquisição, décadas de conflitos no fim da monarquia, muita instabilidade a seguir à república e, por fim, quase meio século de ditadura, comece de um momento para o outro a ser como a Alemanha ou os EUA. O que acho é que, havendo agora uma alteração na forma como se quer investir para começar a ter mais retorno, essa mudança não deveria ter sido abrupta como foi. O que vai acontecer é que muitos centros de investigação irão fechar. Há 40% dos investigadores que não têm condições para continuar. E o que me aflige ainda mais é a diminuição na aposta em ciências sociais e humanas. Todo esse emporwerment que resultou do enorme impacto do conhecimento nas áreas das ciências sociais, humanas. Percebo que gostaríamos de ver um impacto no lucro. Mas gostaria que tivesse havido uma alteração lenta deste processo. E, mais uma vez, questiono a forma abrupta como tudo isto está a ser feito. O número de bolsas foi reduzido para metade ou menos. Os concursos para projectos de investigação escasseiam, as instituições foram tão apertadas que muitas temeram nem conseguir chegar ao fim do ano. Foi quase como se chegassem agora uns iluminados que decidiram mudar dramaticamente tudo de cima para baixo sem conhecerem bem a realidade.  

“Melhorar a sociedade não é só fazer dinheiro"



* Excertos de uma importante entrevista ao jornal "i"

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