15/12/2014

RICARDO COSTA

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O problema não é o nome,
 é a dí­vida

 Uma das frases mais fortes do último congresso do PS assentava na ideia de que o problema do PSD não era de nomes, tanto podia ser Pedro como Rui como... Mas o problema é outro 
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O problema não é ser Pedro ou ser Rui. É uma questão de políticas. E para prosseguir estas políticas não contem connosco". Esta foi uma das frases que mais ecoaram depois do congresso do PS, com um duplo efeito: sublinhou que uma mudançaa de liderança no PSD depois de uma eventual derrota eleitoral seria indiferente e deu a ideia de que o PS terá sempre mais interesse em aliar-se com alguém à  sua esquerda, mesmo que seja difícil vislumbrar esse alguém. 
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A frase, em si, não tem nada de errado, e por isso é que foi tão repetida. Mas, no essencial, contorna a questão mais complexa de todas, aquela que està antes de qualquer nome ou de qualquer inflexão polí­tica: a dí­vida. 
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Um dos principais erros da esquerda depois da crise de 2008 foi ter-se entretido com o espetáculo degradante que alguns banqueiros e respetivos satélites nos ofereceram. Os sinais do capitalismo chegaram a um tal ponto de degradaão moral que toda a esquerda encontrou um campo argumentativo fabuloso e, ainda por cima, absolutamente merecido. 
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O problema é que essa crise financeira trouxe outra atrás, a das dí­vidas públicas e dos Estados sobreendividados. E foi aqui que tudo se complicou, como o PS bem sabe, quando viu o chão fugir-lhe debaixo dos pés no final de 2010 até se estatelar em 2011. 
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Três anos depois, o discurso do PS já não é o mesmo e, verdade seja dita, já não se veem tantas lágrimas a correr em nome do PEC 4. Mas há um salto de realidade que ainda não foi dado. E a ausência desse salto permite ao PSD fazer um discurso que soa sempre mais realista, mesmo quando prima pela absoluta falta de esperança e nem se esforça por traduzir um programa polí­tico.
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Reduzir a política ao peso da dí­vida é um erro primário. Mas não reconhecer que esse peso limita brutalmente as opiniões polí­ticas é  não querer ver o óbvio. Mais grave é incorrer novamente no risco de atrair os eleitores para um discurso que depois não se traduz em medidas práticas. 
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Após o que aconteceu em 2009 e em 2011, onde Sócrates e Passos Coelho, em situações dramaticamente diferentes, tiveram de fazer o contrário do que prometeram, é fundamental que isso não se repita. Como principal candidato em qualquer sondagem, o PS deve partir desse ponto. Não se trata de render-se à  dívida. Mas de a assumir como condiçao a qualquer política. O nome vem depois. 
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IN "EXPRESSO"
6/12/14


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