.
.
ESTA SEMANA NO
"EXPRESSO"
"EXPRESSO"
Governo rejeita "Google tax" em Portugal
Guerra dos direitos de autor mata Google News em Espanha. O motor de busca fechou o seu serviço de notícias espanhol por causa de uma lei que o obrigaria a pagar aos jornais, quer estes quisessem quer não. Em Portugal, esse caminho parece ainda longínquo.
Quem consultar o sítio Google News a partir da
próxima terça-feira não encontrará notícias de títulos como "El País",
"El Mundo" ou "ABC". O grande motor de busca americano decidiu retirar
do seu agregador de notícias todos os meios de comunicação espanhóis e
fechar o Google News em Espanha a partir de 16 de dezembro, na sequência
da aprovação da nova Lei de Propriedade Intelectual.
.
A legislação, que vigorará a partir de 1 de janeiro, obriga os agregadores de notícias a pagar uma "compensação equitativa" - ainda por quantificar - por cada conteúdo listado nos seus sítios. O montante em causa é "irrenunciável", o que distingue a lei espanhola da de países como a Alemanha ou a França, onde os meios de comunicação podem prescindir da taxa. Muitos fazem-no, aliás, por sentirem que beneficiam do tráfego gerado pelos agregadores de notícias.
.
A legislação, que vigorará a partir de 1 de janeiro, obriga os agregadores de notícias a pagar uma "compensação equitativa" - ainda por quantificar - por cada conteúdo listado nos seus sítios. O montante em causa é "irrenunciável", o que distingue a lei espanhola da de países como a Alemanha ou a França, onde os meios de comunicação podem prescindir da taxa. Muitos fazem-no, aliás, por sentirem que beneficiam do tráfego gerado pelos agregadores de notícias.
O diploma, aprovado em outubro com os votos do
Partido Popular (direita, no poder com maioria absoluta), especifica
que até "fragmentos não significativos de conteúdos" estão sujeitos à
nova taxa, popularmente conhecida como Google Tax. O seu caráter
"irrenunciável" gerou críticas da autoridade da concorrência espanhola,
para quem se está a limitar a liberdade das empresas.
O diretor do Google News, Paul Gringras,
explicou o fecho dizendo que, dado que o sítio "não faz dinheiro" (é
gratuito e não tem publicidade), "a nova abordagem não é, simplesmente,
sustentável". Criado em 2002, o serviço tem 70 edições internacionais em
35 idiomas, citando 50 mil fontes. A partir de terça-feira, serão 69,
após o primeiro encerramento da história do Google News. Num comunicado,
Gringras reivindicou as "tremendas oportunidades" que a Internet criou
para os meios de comunicação distribuírem os seus conteúdos. Segundo a
Google, o serviço - que tem um algoritmo diferente do do motor de busca
geral da Google - gera 10 mil milhões de cliques por mês.
Governo português exclui Google Tax
Poderia o mesmo acontecer em Portugal, onde empresários dos media como Francisco Pinto Balsemão (chairman do grupo Impresa, proprietário do Expresso) têm defendido que os motores de busca paguem conteúdos? O gabinete do ministro-adjunto Poiares Maduro, que tutela o setor, "não tem prevista qualquer iniciativa legislativa", mas formou um grupo de trabalho com várias partes interessadas, incluindo o Google. O objetivo é conseguir um acordo no primeiro trimestre de 2015. O debate nunca será, em todo o caso, "entre a gratuitidade total e a criação de um 'imposto sobre a Google'".
Governo português exclui Google Tax
Poderia o mesmo acontecer em Portugal, onde empresários dos media como Francisco Pinto Balsemão (chairman do grupo Impresa, proprietário do Expresso) têm defendido que os motores de busca paguem conteúdos? O gabinete do ministro-adjunto Poiares Maduro, que tutela o setor, "não tem prevista qualquer iniciativa legislativa", mas formou um grupo de trabalho com várias partes interessadas, incluindo o Google. O objetivo é conseguir um acordo no primeiro trimestre de 2015. O debate nunca será, em todo o caso, "entre a gratuitidade total e a criação de um 'imposto sobre a Google'".
Já Balsemão considera que a lei espanhola vai
"no bom caminho". Ressalvando que não leu o documento na totalidade,
defende a ideia de "obrigar os motores de busca, e especialmente o
Google, a pagarem pela utilização de conteúdos produzidos por outros". A
seu ver, o fecho do Google News em Espanha é a reação "típica de uma
multinacional superpoderosa, que entende poder-se colocar ao nível dos
Estados nas suas decisões".
Mais do que legislar como fez Madrid, todavia,
o Governo português diz pretender melhorar a informação sobre o mercado
de publicidade na Net, discutir a utilização de parte de conteúdos
noticiosos em agregadores e resultados de pesquisas e reforçar a
formação dos jornalistas, nomeadamente apostando nos MOOC (cursos
abertos online).
O gabinete de Maduro promete privilegiar ações
baseadas no "cumprimento voluntário de padrões de atuação económica" e
em "soluções consensuais entre agentes do setor", no que se distancia da
lei aprovada no país vizinho. Frisa que as soluções adotadas num país,
se não tiverem correspondência nos demais, serão de "duvidosa eficácia",
pelo que a discussão deveria realizar-se a nível europeu.
Bruxelas quer proteger direitos de autor
Em Bruxelas o assunto não passa despercebido. O comissário europeu responsável pela Economia e Sociedade Digital , o alemão Günther Oettinger, quer rever as leis comunitárias sobre direitos de autor no próximo ano. Admite a instauração de pagamentos ao estilo Google Tax (que, em rigor, não são taxas, pois revertem a favor das empresas de media e não do Estado). "Se a Google pega em propriedade intelectual da UE e trabalha com isso, então a UE pode proteger essa propriedade e exigir à Google que pague por isso", disse ao jornal alemão "Handelsblatt".
Bruxelas quer proteger direitos de autor
Em Bruxelas o assunto não passa despercebido. O comissário europeu responsável pela Economia e Sociedade Digital , o alemão Günther Oettinger, quer rever as leis comunitárias sobre direitos de autor no próximo ano. Admite a instauração de pagamentos ao estilo Google Tax (que, em rigor, não são taxas, pois revertem a favor das empresas de media e não do Estado). "Se a Google pega em propriedade intelectual da UE e trabalha com isso, então a UE pode proteger essa propriedade e exigir à Google que pague por isso", disse ao jornal alemão "Handelsblatt".
O argumento dos editores é que o Google e os
restantes agregadores lucram reproduzindo conteúdos que não produziram, e
que custam a produzir. No caso do Google News, a tarefa é feita sem
intervenção humana e atualiza-se a cada quarto de hora. A empresa
disponibiliza aos editores manuais sobre como conseguir que as suas
notícias apareçam bem posicionadas ou, pelo contrário, como impedir que
surjam no sítio. "A grande maioria escolhe ser incluída, e por bons
motivos. O Google News cria valor real para essas publicações, levando
as pessoas aos seus sítios, o que gera receitas publicitárias", sustenta
Gringras.
Os defensores das novas leis consideram
sustentável um modelo em que os agregadores deem um contributo e
sublinham a importância da independência da comunicação social, que não
se consegue sem meios económicos. Se a Google argumenta que o serviço
News não tem publicidade, Francisco Pinto Balsemão replica que a empresa
está a ignorar "a utilização de conteúdos dos media clássicos, que são
reproduzidos em snippets (fragmentos de 5, 6 linhas) e utilizados, com
inserção de publicidade, na resposta a iniciativas de busca por parte
dos utilizadores".
Os críticos das leis que têm vindo a ser
adotadas na Europa acusam os media de quererem sair da crise em que se
encontram à custa dos motores de busca e fazem notar que órgãos de
comunicação mais pequenos e recentes tendem a optar por ser incluídos
nos serviços de busca e agregação, ao contrário dos "velhos media".
Balsemão recorda que "os principais jornais brasileiros (154 jornais,
que representam 90% da circulação) já decidiram, há muito tempo, não
autorizar a publicação dos seus conteúdos no Google News". Foi uma
decisão da Associação Nacional de Jornais do Brasil que, afirma o também
ex-primeiro-ministro, "não motivou uma descida de tráfego".
O certo é que as possibilidades de êxito de
meios de comunicação na Net dependem muito da língua em que estão
escritos: inglês, espanhol ou mesmo português têm um público potencial
muito mais vasto do que alemão ou suaíli.
Outro aspeto que inquieta as instituições
europeias é o risco de criação de monopólio num mercado - o dos motores
de busca - em que a Google tem uma quota de 90% (contra 68% nos Estados
Unidos). No final de novembro o Parlamento Europeu aprovou mesmo uma
moção recomendando à Comissão Europeia a divisão da Google, separando o
motor de busca dos demais serviços. Dados os escassos poderes do PE, a
medida foi apenas simbólica, mas gerou reações de políticos e jornais
americanos. "The New York Times" falou em "ressentimento europeu". Já os
partidos Democrata e Republicano, que raramente chegam a acordo em
assuntos internos, uniram-se numa carta crítica para com o PE. Subscrita
por deputados e senadores de ambas as fações, afirma que "esta proposta
e outras semelhantes erguem muros em vez de pontes" e alerta para os
prejuízos potenciais para as relações comerciais transatlânticas.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário