Vergonha e esperança
No espaço de
dois dias, duas deputadas do PSD fizeram declarações sobre o último
acórdão do Tribunal Constitucional e o conflito institucional que o
Governo e alguns sectores do PSD pretendem criar.
No passado
domingo, Francisca Almeida, no Expresso, escreveu um artigo em que
critica a deliberação do TC duma forma equilibrada, sustentada, com
argumentos sérios e pertinentes, mas sem nunca pôr em causa a
instituição, nem o seu papel na arquitetura do nosso Estado de direito,
nem os juízes. No mesmo texto interpela o primeiro-ministro perguntando
"a quem serve e de que serve juntar aos constrangimentos da decisão
constitucional um conflito institucional?", põe em causa as
infelicíssimas declarações de Passos Coelho sobre a suposta falta de
legitimidade democrática dos juízes (dando-lhe uma lição sobre a forma
como são escolhidos), explica que certos princípios que estarão sempre
presentes em Constituições de países democráticos serão sempre alvo de
interpretação subjetiva e que a inclinação partidária não é,
evidentemente e felizmente, garantia de decisão neste ou naquele
sentido.
Na terça-feira, Teresa Leal Coelho, em entrevista ao
Público, faz o mais descabelado, ignorante e vergonhoso ataque ao TC de
que há memória.
A deputada, entre outros despropósitos, sugere
sanções jurídicas "para os casos em que os poderes que são distribuídos,
incluindo ao TC, são extravasados". Trocando por miúdos: Teresa Leal
Coelho quer sanções jurídicas ao TC, sempre que este não delibere
segundo a sua interpretação da Constituição ou sempre que ela pense que
exista usurpação de poderes - provavelmente a deputada não saberá, mas é
do que acusa o TC . Entretanto, esquece-se, claro está, de esclarecer
que tribunal julgaria o TC ou se ela mesmo se encarregaria dessa tarefa.
A senhora também lamenta que alguns juízes tenham iludido quem
os escolheu. Portanto, segundo a professora de direito Teresa Leal
Coelho, os malandros dos juízes iludiram os atuais responsáveis do PSD. A
prova disso é que até os designados com a sua ajuda não decidem segundo
a "visão filosófica-política que seria compatível com aquilo que é o
projeto reformista que temos para o País", diz a deputada. Em termos
simples: os bons juízes são os que respeitarem sempre as propostas
legislativas de quem os indicou. Isso do respeito pela Constituição,
pela lei, pela independência dos juízes serão detalhes, talvez mesmo
sinais de falta de "maturidade política", que segundo Teresa Leal Coelho
parece faltar aos senhores e senhoras do TC. Mas, se assim fosse, para
que serviria o TC? Punham--se uns fantoches no Palácio Ratton e estava o
assunto resolvido, até se poupava dinheiro.
Tivesse o PSD ao seu
leme gente que respeitasse o legado do partido e percebesse que acima
das lutas políticas conjunturais estão princípios básicos da democracia
liberal e do Estado de direito, e Teresa Leal Coelho seria imediatamente
destituída de vice-presidente do partido e não mais falaria pelo PSD.
Mas, claro está, quando é o próprio líder do partido e do Governo a pôr
em causa um pilar do Estado de direito, é de esperar ver acólitos, para
quem a fidelidade pessoal é mais importante que as responsabilidades com
a comunidade, a serem mais fundamentalistas que o chefe.
Declarações
do teor das da vice-presidente do PSD são indignas de alguém que é
representante do povo e devia pugnar pela defesa do Estado de direito
acima de tudo. Claramente, é essa a dimensão mais grave dos dislates que
proferiu. Mas são, por isso mesmo, também um insulto à história do PSD
e aos princípios que o partido sempre defendeu. Um partido defensor das
instituições, um partido reformador, não esta caricatura de movimento
revolucionário que se permite ter gente que cospe na herança e nos
contributos do partido para a evolução do País, como fez o inefável
Bruno Maçães, qual Trostski de trazer por casa, ou, agora, Teresa Leal
Coelho, qual nova Passionaria.
Francisca Almeida, com 31 anos de
idade e sem responsabilidades de monta no PSD, está mais consciente do
que deve ser a postura institucional dum Governo, mais alinhada com o
papel de defesa das instituições típica dum partido de centro-direita e
mais lembrada do conjunto de valores e princípios que o PSD sempre
defendeu do que uma vice-presidente do partido e do que o próprio
primeiro-ministro. Há, de facto, outro PSD que não este que não percebe o
Estado de direito e que não hesita em pôr em causa o equilíbrio
institucional por medíocres objetivos táticos. O PSD em que, estou
firmemente convicto, os seus eleitores tradicionais se reveem.
E não, os políticos não são todos iguais. Há políticos que envergonham esse nome e há outros que merecem esse tão nobre título.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
15/06/14
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2 comentários:
Ouvi dizer que a D. Teresa Coelho é professora de Direito. Tem condições (de sabedoria) para exercer essa profissão? Em que Faculdade? Onde se licenciou? Será doutorada? Por que Faculdade? Terá sido na Lusófona? À Relvas?
É que, pondo de lado as questões políticas, é caso para perguntar se ela entende de Direito?
Não foi ela que uma vez disse que se o tribunal Constitucional rejeitou um caminho para reduzir o déficit deveria ter indicado qual o que se deveria seguir?
São conhecidos casos de falsos médicos que conseguiram exercer medicina durante anos até serem descobertos? Estaremos na presença de uma falsa jurista?
As asneiras são em demasia e são primárias. Fazem desconfiar!!
Obrigado por ter comentado
Filantropo Onório
(em nome dos pensionistas)
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