Passos
não é o nosso paizão
O estado de emergência do país tem sido desculpa
para muitas medidas, para o governo cometer muitos erros, esquecendo que
os resultados rápidos não bastam para governar um país com eficiência.
Se
Passos Coelho tivesse lido Henry Hazlitt e a sua Economics in One
Lesson - uma introdução à economia de mercado, afinal, a economia do
nosso primeiro-ministro - teria ficado a saber que há uma regra básica: a
arte da economia consiste em olhar não apenas para o imediato, mas para
os efeitos mais longínquos de qualquer ato ou política.
Só esta
distração justifica que o governo continue a atirar certas medidas para
cima de todos nós. Isso e a urgência de fazer receita, de encaixar
dinheiro, rapidamente, que ajude a tapar o enorme buraco que é a dívida
pública.
Ao longo desta semana, foi avançada a hipótese de ser
lançado, em Portugal, o chamado imposto das batatas fritas, ou seja, um
imposto sobre produtos com elevadas taxas de gordura, sal ou açúcar.
Este
imposto, que existe em alguns países - há uns anos, em Nova Iorque,
proibiu-se a utilização dos tickets de refeição para comprar bebidas
açucaradas -, trará receitas fiscais imediatas, ajudará a suportar o
défice da Saúde, mas traduz também um Estado paternalista, faz de Passos
Coelho um verdadeiro paizão.
Uma situação no mínimo bizarra, já
que o primeiro-ministro passaria a ser, por um lado, o político liberal
que quer reformar o Estado e a Saúde em Portugal e, por outro, o
político paternal, que se compromete - sem poder cumprir - a cuidar da
nossa saúde, da nossa alimentação e, quem sabe o que virá a seguir, da
vida de todos os cidadãos.
Esta situação poderá gerar, inclusive,
alguma confusão sobre quem é o verdadeiro Passos Coelho. Se o político
liberal e frio, financeiro, empenhado em endireitar as contas do país,
se o pai de família, que se dedica de corpo e alma aos seus
semelhantes.
Volto ao início e à importância de pensar para além
dos efeitos imediatos de qualquer medida. E insisto no perigo do Estado
paternalista, pois recuar é, nestes casos, muito mais difícil.
IN "DINHEIRO VIVO"
26/04/14
.
Sem comentários:
Enviar um comentário