.
MULHERES NÃO SE IMPORTAM
.
JARDIM DAS PICHAS MURCHAS
Um
pequeno largo na Rua de S. Tomé, em Lisboa, ganhou um nome brejeiro.
Novos e velhos, homens e mulheres – todos gostam da designação. O
presidente da Junta acabou por aceitá-lo na toponímia oficial
Situado
na Freguesia lisboeta de S. Vicente, ao Castelo, o lugar é assim
conhecido por iniciativa de Carlos Vinagre, calceteiro da autarquia, que
a morte roubou prematuramente ao convívio de companheiros de paródia –
alguns deles co-autores da designação do largo.
José António, de 51 anos, polidor de metais de profissão e fadista amador nas horas vagas, foi companheiro de farra de António Vinagre. Também ele ‘filho’ da freguesia, recorda as longas noites vividas com o saudoso companheiro, iniciadas numa leitaria próxima, então pertencente a “Zé , o Patudo” (assim chamado pelo número invulgar que calçava). Ali, entre copos, nasceu a ideia de se reunirem aos velhotes que se encontravam no largo. Ainda por iniciativa do calceteiro, aos bancos vulgares de jardim juntaram-se mesas e cadeiras cedidas pela Junta de Freguesia, o que permite agora jogar a tradicional ‘sueca’.
Mas pela noite dentro, e até de madrugada, o tempo era de farra, animada pelos fados de José António, devidamente acompanhado à viola por Manuel Tomé, outro morador da freguesia. Adianta o fadista que em 1993, um ano depois de ser colocada a chapa com o nome do largo, ali houve tão grande festa que atraiu ao lugar agentes da PSP e da Judiciária. Inquiridos sobre o que se passava, esclareceram a Polícia, dizendo tratar-se de uma simples festa dos populares do bairro, ao que os agentes retorquiram: “Se é festa, então continuem”.
Por vontade expressa de Carlos Vinagre, amigos e vizinhos reuniram-se no próprio dia do seu enterro no jardim a que dera o nome, como forma de homenagem. E com certa ironia, José António sublinha que foi uma farra de ‘caixão à cova’. O fadista refere que o estranho nome do local, segundo a sua expressão, “já ultrapassou fronteiras”. Desta forma não é raro, garante, que turistas estrangeiros, informados da tradução do nome, se apressem a fotografar a placa toponímica.
Posta a questão se a brejeirice do nome não chocaria, por ventura, as senhoras mais idosas e conservadoras, José António não hesita: “Qual quê, até acham graça”. Tal atitude foi confirmada pelo presidente da Junta, Vítor Agostinho, o qual salienta que dadas as características populares do bairro, a vontade dos moradores impera.
Por recear que o nome pudesse ferir susceptibilidades, após a colocação da dita chapa, providenciou para que a mesma fosse retirada. Mas a reacção dos moradores, contrariando os receios do autarca, foi a de repor a “lápida toponímica”. E desta feita, lá ficou a placa.
José António, de 51 anos, polidor de metais de profissão e fadista amador nas horas vagas, foi companheiro de farra de António Vinagre. Também ele ‘filho’ da freguesia, recorda as longas noites vividas com o saudoso companheiro, iniciadas numa leitaria próxima, então pertencente a “Zé , o Patudo” (assim chamado pelo número invulgar que calçava). Ali, entre copos, nasceu a ideia de se reunirem aos velhotes que se encontravam no largo. Ainda por iniciativa do calceteiro, aos bancos vulgares de jardim juntaram-se mesas e cadeiras cedidas pela Junta de Freguesia, o que permite agora jogar a tradicional ‘sueca’.
Mas pela noite dentro, e até de madrugada, o tempo era de farra, animada pelos fados de José António, devidamente acompanhado à viola por Manuel Tomé, outro morador da freguesia. Adianta o fadista que em 1993, um ano depois de ser colocada a chapa com o nome do largo, ali houve tão grande festa que atraiu ao lugar agentes da PSP e da Judiciária. Inquiridos sobre o que se passava, esclareceram a Polícia, dizendo tratar-se de uma simples festa dos populares do bairro, ao que os agentes retorquiram: “Se é festa, então continuem”.
Por vontade expressa de Carlos Vinagre, amigos e vizinhos reuniram-se no próprio dia do seu enterro no jardim a que dera o nome, como forma de homenagem. E com certa ironia, José António sublinha que foi uma farra de ‘caixão à cova’. O fadista refere que o estranho nome do local, segundo a sua expressão, “já ultrapassou fronteiras”. Desta forma não é raro, garante, que turistas estrangeiros, informados da tradução do nome, se apressem a fotografar a placa toponímica.
Posta a questão se a brejeirice do nome não chocaria, por ventura, as senhoras mais idosas e conservadoras, José António não hesita: “Qual quê, até acham graça”. Tal atitude foi confirmada pelo presidente da Junta, Vítor Agostinho, o qual salienta que dadas as características populares do bairro, a vontade dos moradores impera.
Por recear que o nome pudesse ferir susceptibilidades, após a colocação da dita chapa, providenciou para que a mesma fosse retirada. Mas a reacção dos moradores, contrariando os receios do autarca, foi a de repor a “lápida toponímica”. E desta feita, lá ficou a placa.
MULHERES NÃO SE IMPORTAM
A confirmar a aceitação e
simpatia de tal nome fica o testemunho de D. Lúcia, proprietária de uma
mercearia fronteira ao largo e moradora no bairro há mais de 30 anos. A
popular explica que o local era ocupado por um velho prédio que, na
sequência de um tremor de terra, teve de ser demolido. Seguiu-se um
improvisado parque de estacionamento, até que a Junta transformou-o em
lugar de convívio para gente idosa.
Quanto ao nome do largo, corroborando as palavras do autarca, D. Lúcia garante que “não senhor; ninguém leva a mal e toda a gente acha graça”. Opinião de imediato confirmada pelas freguesas que se encontram na mercearia.
Apesar do dia friorento, ali encontrámos dois frequentadores habituais do já famoso recanto. Augusto Pereira, de 66 anos – residente no bairro há cerca de três décadas e reformado da Carris de Lisboa – assume-se como lídimo “representante” do lugar. E diz que é ali que a “velhada” se encontra, sempre que o tempo o permite. Malandro, ironiza: “A verdade é que aqui param muitas pichas murchas”.
Muitos frequentadores deste ‘local de culto’ passam o tempo a trocar recordações, mas outros há que se entretém a jogar a sua ‘cartada’. José Lopes, de 90 anos, diz que também ele ali vai para encontrar amigos. Os dois moradores contam ainda que o largo é também frequentado por muitos jovens, contrariando, um pouco, o nome posto por Carlos Vinagre. A terminar, recordam que de facto a Junta chegou a mandar retirar a placa. Mas já este ano, dois jovens – Pedro, mecânico, e Carlos Manuel, distribuidor de bolos – pintaram numa chapa o nome do jardim, devolvendo-lhe o carácter brejeiro tão do agrado dos moradores. Sejam eles velhos ou novos, mulheres ou homens.
Quanto ao nome do largo, corroborando as palavras do autarca, D. Lúcia garante que “não senhor; ninguém leva a mal e toda a gente acha graça”. Opinião de imediato confirmada pelas freguesas que se encontram na mercearia.
Apesar do dia friorento, ali encontrámos dois frequentadores habituais do já famoso recanto. Augusto Pereira, de 66 anos – residente no bairro há cerca de três décadas e reformado da Carris de Lisboa – assume-se como lídimo “representante” do lugar. E diz que é ali que a “velhada” se encontra, sempre que o tempo o permite. Malandro, ironiza: “A verdade é que aqui param muitas pichas murchas”.
Muitos frequentadores deste ‘local de culto’ passam o tempo a trocar recordações, mas outros há que se entretém a jogar a sua ‘cartada’. José Lopes, de 90 anos, diz que também ele ali vai para encontrar amigos. Os dois moradores contam ainda que o largo é também frequentado por muitos jovens, contrariando, um pouco, o nome posto por Carlos Vinagre. A terminar, recordam que de facto a Junta chegou a mandar retirar a placa. Mas já este ano, dois jovens – Pedro, mecânico, e Carlos Manuel, distribuidor de bolos – pintaram numa chapa o nome do jardim, devolvendo-lhe o carácter brejeiro tão do agrado dos moradores. Sejam eles velhos ou novos, mulheres ou homens.
Por:Barata Salgueiro
OBRIGADO JOPÊ
.
Sem comentários:
Enviar um comentário