24 de Abril, sempre.
Democracia nunca mais
Celebram-se este mês os 40 anos da morte do 25 de Abril. Ou talvez
não seja bem isto. Mas parece. Não se sabe ao certo como vão ser
comemoradas as quatro décadas de democracia. Suspeita-se apenas que a
cerimónia vai ser pobre, triste, e presidida por gente que não mexeu uma
palha para que a Revolução acontecesse. Os capitães de Abril não
estarão presentes. Durante o Estado Novo, as pessoas que fizeram o 25 de
Abril não podiam falar
na Assembleia da República. Ao fim de 40 anos de democracia, continuam a
não poder. Podem estar presentes, desde que seja só para enfeitar. Mas
não querem. É pena. Sugiro um friso de capitães de Abril feito de
fotografias em tamanho real, recortadas em cartão. Faz o mesmo efeito
que os organizadores da cerimónia pretendiam, e podem usar-se
fotografias dos tempos em que os capitães de Abril estavam mais novos e
mais magros. É uma maneira de termos um 25 de Abril ainda mais próximo
do original. E de plástico, que é mais barato.
Outra ideia, um pouco mais subversiva, mas igualmente respeitadora
da ordem e do silêncio: todos os democratas presentes na Assembleia para
a cerimónia comemorativa do 25 de Abril levam no bolso uma máscara do
Vasco Lourenço. E, quando a corja topa da tribuna do hemiciclo, põem a
máscara. Talvez pregue um susto suficiente para que alguns dos
organizadores da festa corram a comprar um bilhete para o Brasil. As
agências de viagens bem precisam de um incentivo destes.
Entretanto, e creio que já no âmbito das festividades, Durão Barroso
afirmou que, antes do 25 de Abril, "apesar de algumas liberdades
cortadas, havia na escola uma cultura de mérito, exigência, rigor,
disciplina e trabalho" que se perdeu. Realmente, havia algumas
liberdades cortadas. E algumas goelas, também. Mas, para o presidente da
União Europeia, o regime em que havia uma polícia política que prendia,
torturava e matava tinha um ensino muito bom. Parece que, na antiga
RDA, o desporto também era óptimo. Dizem que Jack, o Estripador, tinha
uma linda colecção de selos. E, como se sabe, os nazis tinham marchas
lindas.
De facto, e com muita pena minha, o ensino do Estado Novo era melhor e
mais exigente. Cito, por exemplo, o Livro de Leitura da 3.ª Classe, de
1958: "Com o Estado Novo abriu-se para Portugal uma época de
prosperidade e de grandeza, comparável às mais brilhantes de toda a sua
história. (...) Construíram-se muitas escolas, e hão-de construir-se as
que forem precisas para que todas as crianças em idade escolar tenham
onde educar-se e instruir-se." A prova de que o ensino era bom é que
Durão Barroso memorizou estas palavras do livro único e não mais as
esqueceu. É pena que, aparentemente, os primeiros-ministros que
governaram Portugal após o 25 de Abril não tenham conseguido manter este
nível de excelência nas nossas escolas. Não sei se Durão Barroso
conhece algum. Mas todos eles merecem uma palmatoada. E deviam decorar
os nomes dos rios e caminhos-de-ferro de Angola, para castigo.
IN "VISÃO"
24/04/14
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1 comentário:
Já tinha lido o RAP nas suas habituais e oportunas apreciações .
Haja quem os fustigue.
Abraços
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