O QUE NÓS
ACONSELHAMOS
De Filipe Nhussi aos cifrões da paz!
Estolano, amigo meu de infância, de vez em quando, vai mandando recados. Comenta. Pergunta. Tudo isto por sms,
porque por email, nem pensar. Não é dado a estas novas tecnologias.
Pelo celular é mais fácil, porque “de cada vez que recarrego, tenho não
sei quantas mensagens de borla”. A semana passada decidiu perguntar-me
de que lado vai estar o candidato da Frelimo às eleições de Outubro
deste ano, se eventualmente fôr o vencedor. Estolano acredita que Nhussi
vai ganhar, porque “a Frelimo tem máquina para isso”.
Agora, o
que é preciso saber é se ele (Nyussi) vai resgatar os princípios
defendidos por Samora, se vai governar como Chissano, ou se vai seguir
os passos de Guebuza? Respondi ao Estolano em mensagem curta e simples:
“Não sei”. Andarmos a fazer previsões (como os meteorologistas) é coisa
que nunca bate certo.
Estolano, sempre bem documentado, insistiu. “Se Nhussi fôr
Presidente da República, ele vai pertencer à Comissão Política, mas sem
direito a voto. É assim que reza o artigo 63, número 5, dos estatutos da
Frelimo. Como vai ser ?” Respondi-lhe de novo: “Não sei”. Não gosto
de fazer previsões. Isso é tarefa destes analistas políticos que
(quase) todas as noites vemos, devidamente engravatados, nos ecrãs dos
nossos aparelhos de televisão.
E continua a perguntar se Filipe Nhussy não se está a aproveitar da
Presidência Aberta para fazer campanha eleitoral? Estolano acredita que “isso é batota”. Respondo-lhe laconicamente: “Não sei”. E não sei porque já ouvi várias interpretações sobre isso.
Neste rol de mensagens que o Estolano me envia, veio à baila o
excessivo gasto feito pelos dois antigos presidentes do nosso órgão
legislador. Um foi presidente da Assembleia Popular, outro foi
presidente da Assembleia da República.
Rios de dinheiro para remodelar e mobilar duas residências é coisa
impensável num país onde as crianças para estudar são obrigadas a
sentar-se no chão porque não há carteiras suficientes, onde transporte
público não chega para as encomendas, onde os chapas e “my loves”
constituem a alternativa, ou onde medicamentos são coisa rara nos
hospitais públicos. Onde os buracos fazem das suas, deixando
automobilistas sem saber para que lado virar. Onde a chuva atrapalha e
provoca o caos, com semáforos sem funcionar, com engarrafamentos, filas
intermináveis e longas horas de espera. E quando tomba um camião na
auto-estrada Maputo – Matola ou vice-versa, então aí nem o S. Cristóvão,
o padroeiro dos transportes, nos salva. E nas recentes bátegas de água
que se abateram sobre várias cidades moçambicanas, (ainda vem mais por
aí até ao final deste mês de Março) ficou provado que moçambicano é
malabarista em matéria de conduzir automóvel. Vale tudo. Conduzir na
contramão, insultar, desrespeitar. E tudo isto nas barbas da polícia.
Não temos dinheiro para mandar cantar um cego, mas damo-nos ao luxo de
oferecer a determinados senhores todo o tipo de mordomias. Veja-se,
segundo relatos da imprensa, o que está a acontecer no Tribunal
Administrativo, particularmente no que a viaturas protocolares e
particulares diz respeito. E como se não bastasse, vamos têr que pagar
os salários a mais de duas mil pessoas, na sua maioria provenientes dos
partidos políticos, que vão trabalhar nos órgãos eleitorais, aos mais
variados níveis. Será que há dinheiro para isto tudo? Se não há, vai
haver. O “saco azul” está lá para isso.
Andamos diariamente a fazer apelos à contenção de despesas. Para quê?
Para na prática fazermos o inverso. Estamos a criar um ambiente
propício para “a instrumentalização despesista da paz”.
Engolimos a partidarização dos Órgãos Eleitorais. Agora vamos ter que
pagar por isso. É mais gente que vai ter mordomias inerentes aos cargos
que cada um vai ocupar. Com mais dois vice-presidentes (Comissão
Nacional das Eleições) e dois directores gerais adjuntos (Secretariado
Técnico da Administração Eleitoral) então vamos têr que comprar para
estes senhores mais 4 carros novinhos em folha, porque de segunda mão
isso é para os outros. Vamos têr de alugar casas a preços que certamente
ultrapassam os considerados normais para esses 4 senhores, porque
infelizmente neste País quanto maior fôr o cargo maior terá de ser a
mordomia.
E tudo isto com dinheiro deste “maravilhoso povo”, que
continua a dormir em casa precária de caniço ou de madeira e zinco, por
cima de colchão alagado, porque zinco furado deixa entrar chuva. Povo
que vende nas ruas, não interessa em que condições, para têr uns
trocados e consequentemente enganar a fome. Povo que quer levar uma vida
condigna e não pode, porque afinal “eles comem tudo”. E vão continuar a
comer, enquanto puderem mamar na teta da vaca.
PS: Embora tenha respondido directamente para o seu email pessoal,
não posso deixar de agradecer ao Sr. Carlos Aragão pelos contributos
dados relativamente à radiodifusão em Moçambique na sua carta-resposta
ao meu artigo intitulado “A Rádio é uma Arte”. Obrigado pelos seus
considerandos. Quantos mais vierem, melhor.
João de Sousa
26.03.2014
IN "http://bigslam.pt"
.
Sem comentários:
Enviar um comentário