Come e cala
"A pátria não se discute", dizia Salazar, e mandava prender; a
reestruturação da dívida não se discute, e Cavaco Silva exonera dois
consultores. Houve deslealdade? A liberdade de consciência não se
negoceia.
Faz amanhã 40 anos, os militares das Caldas tentaram derrubar o
regime. Foi um prenúncio falhado do 25 de Abril. O chefe e vice-chefe de
Estado-Maior das Forças Armadas foram exonerados. Eram Costa Gomes e
Spínola. Deviam ter avisado Américo Tomás que iam aderir à revolta
militar.
Regressavam um mês depois, com o 25 de Abril, foram presidentes
e morreram marechais.
Assiste-se agora a uma histeria contra o Manifesto dos 70, que vão de
Manuela Ferreira Leite a Bagão Félix, António Saraiva, presidente da
CIP, ou Francisco Louçã. Também estes cometeram o crime de
lesa-majestade de não pedir o visto prévio aos mercados.
Há momentos em que cidadãos com a importância destes colocam a sua
liberdade acima das conveniências. O poder desvairou com este consenso.
Tem outra opinião, é legítimo, mas não pode insultar. Não é o
guardião do interesse nacional e não pense que "nunca se engana e
raramente tem dúvidas".
Há 40 anos, com o jornalista sénior Pedro Alvim, do "Diário de
Lisboa", na altura era assim, bati à porta de Spínola. Atendeu-nos,
ouvia-se a rádio. Sabe do golpe das Caldas? Estou em casa, respondeu
educamente. O regime não acreditou na sua lealdade silenciosa.
PS: Quando oiço Eduardo Catroga forro-me de paciência chinesa.
Jornalista/advogada
IN "i"
15/03/14
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