HOJE NO
" PÚBLICO"
Cáritas Europa diz que a austeridade
não está a funcionar e que há
cada vez mais pobres
Relatório faz uma revisão de indicadores e estudos. Há mais pobreza e desemprego. Portugal é apontando como um dos países que correm vários riscos.
Há indicadores que devem “fazer soar os alarmes”, sobretudo para
países que estão a pensar cortar (ou a pensar cortar mais) nas despesas
sociais do Estado. Em Portugal, Grécia e Espanha “estão a acumular-se os
efeitos negativos” da austeridade “na saúde das pessoas”. Nos três,
lembra o relatório divulgado nesta quinta-feira pela Cáritas Europa, o
financiamento dos sistemas de saúde foi reduzido. E o aumento de
encargos pedido aos utentes pode sair caro a longo prazo, porque os mais
pobres estão simplesmente a adiar idas ao médico e tratamentos.
Portugal também é referido como um dos que correm mais risco de assistir
a momentos de “agitação social” e ao ressurgimento do fenómeno do
trabalho infantil.
É igualmente mencionado por ser o detentor da
terceira mais alta taxa de desemprego da União Europeia (UE). Por ter
uma taxa de pobreza que cresce, paulatinamente, e por ser cada vez mais
desigual no que diz respeito às diferenças de rendimentos entre os mais
ricos e os mais pobres — sendo que este relatório não reflecte números
da realidade portuguesa muito recentes que mostram um agravamento da
situação mais significativo do que o que foi tido em conta na análise.
Chama-se Consequências humanas da crise na Europa.
Foi feito com base em vários estudos já conhecidos, indicadores
estatísticos e dados recolhidos nas diferentes Cáritas da Europa (em
Portugal, num só ano, as famílias apoiadas organização duplicaram para
56 mil). Foi intencionalmente divulgado uma semana antes da reunião do
Conselho Ecofin (ministros das Finanças da UE).
A Cáritas quis
estudar, pela segunda vez, o impacto da crise e das medidas de
austeridade na vida das pessoas, com especial atenção ao caso de Chipre,
Grécia, Irlanda, Itália, Portugal, Roménia e Espanha. Primeira
conclusão: “A política de dar prioridade à austeridade não está a
funcionar.”
A apresentação do documento em Atenas com o
secretário-geral da Cáritas Europa, Jorge Nuño Mayer, e representantes
de várias Cáritas, como o presidente da Cáritas Portuguesa, Eugénio
Fonseca, acontece apenas dois dias depois de novos indicadores
sobre pobreza terem sido divulgados pelo Instituto Nacional de
Estatística português. E são estes: 27,4% da população portuguesa vivia,
em 2012, em risco de pobreza ou exclusão social. E 18,7% tinha
rendimentos abaixo do limiar de pobreza — desde 2005 que não eram
tantos.
“A pobreza em Portugal mina a dignidade das pessoas”,
disse Eugénio Fonseca, na apresentação da situação portuguesa na capital
grega. Os reflexos da crise estão “na saúde mental das pessoas”, no
aumento da violência no seio das famílias decorrente da pressão
sócio-económica, nos estudantes que desistem das universidades porque
não têm como pagar as propinas.
Quanto à questão dos cortes na
saúde, referidos no documento, Eugénio Fonseca diz que fez questão de
sublinhar que em Portugal até houve redução de preços de alguns
medicamentos. Contudo, isso não aconteceu na área da saúde mental, nem
para certas doenças crónicas. “E há pessoas que só estão a tratar
crises, não a fazer tratamentos continuados. O que agudiza os
problemas”, disse ao PÚBLICO.
Por outro lado, houve aumento das
taxas moderadores e, apesar de muitos grupos da população estarem
isentos, o procedimento para pedir essa isenção é tão complexo que
afasta muitos, explica.
"Nova estratégia" sugerida
Regresso
à análise da Cáritas Europa: o documento lembra que em Abril de 2013
bateu-se um recorde: 26,5 milhões de desempregados na UE. Grécia,
Espanha, Portugal e Chipre têm as taxas de desemprego mais altas. Em
relação, especificamente, ao desemprego jovem, Portugal tem a quarta
pior taxa (quase 40%).
“Cinco anos depois do início da crise, o
crescimento, se é que existe, ainda é ridiculamente baixo. O desemprego
continua a aumentar, bem como o número de pessoas em situação de
pobreza”, sintetiza a Cáritas Europa sobre a situação nos sete países.
“As falhas nos sistemas de protecção estão a deixar muitas pessoas em
situações abjectas” e “os cortes nos serviços públicos afectam de forma
desproporcionada os grupos com menores rendimentos”. Isto não é o
“crescimento inclusivo” com que a Europa se tinha comprometido na
chamada Estratégia Europa 2020, lembra ainda a Cáritas.
Não quer dizer que não se façam reformas estruturais, “não é isso que
se está a discutir neste relatório”, lê-se. Mas há provas de que a
austeridade “exacerbou os problemas causados pelas crises económicas”,
prossegue.
“É preciso uma nova estratégia, urgentemente” que
passa, sugere-se, por exemplo, por uma maior “monitorização social”, por
uma melhor utilização dos fundos estruturais, por um aumento da
transparência relativamente à intervenção da troika nos países intervencionados e por mais fundos europeus para combater o desemprego jovem.
* Os actuais mecanismos de austeridade apenas faz que os ricos fiquem cada vez mais ricos e os pobres se tornem candidatos a morrer de fome. Uma infãmia que as ONG tentam combater.
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