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HOJE NO
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Atlas genético inédito.
À caça da história no ADN
Investigadores europeus desenvolveram método que permite mapear cruzamentos genéticos na história recente. Mapa já está online
É
uma novidade para espreitar em dia de S. Valentim, mas Garret
Hellenthal, um dos investigadores por detrás do primeiro atlas das
misturas genéticas à escala global, divulgado ontem ao final do dia,
admite que alguns cruzamentos como os que resultaram das invasões terão
sido pouco românticos. "Esperamos que tenha havido histórias de amor mas
em alguns casos é pouco provável."
Em causa está um mapa produzido por cientistas do Instituto Max
Planck, na Alemanha, e das Universidades de Oxford e College London, no
Reino Unido, com base num software que permite vasculhar no ADN à
procura de segmentos que resultaram do cruzamento de grupos
populacionais distintos, identificando as origens e as datas dos
primeiros acasalamentos. Desta forma, e num processo que dizem ser
relativamente simples, torna- -se possível verificar no ADN aquilo que
vem nos livros de história. Mas mais que uma revisão da matéria,
explicam na revista "Science", um dos objectivos é aprofundar resultados
e perceber se podem ajudar a compreender algumas doenças e se é
vantajoso incluir populações distantes nos estudos clínicos.
"Definitivamente é andar à caça da história no ADN", explicou ao i
Hellenthal, investigador em Londres. A ideia do software partiu de
estudos em que mostraram ser possível distinguir indivíduos de
diferentes países com base em alguns trechos do ADN. "Começámos a pensar
se isto poderia ser aplicado ao passado para perceber como é que
diferentes grupos se cruzaram para formar as actuais populações e quando
é que isso aconteceu."
É isso que consegue fazer Globetrotter, que para já analisou amostras
de ADN de 1490 indivíduos de 95 populações, o que permitiu datar
cruzamentos nos últimos 4500 anos ou 160 gerações. No mapa disponível em
admixturemap.paintmychromosomes.com Portugal não aparece e o
investigador do College London diz que não foi por esquecimento mas por
não haver dados comparáveis. "Infelizmente não conseguimos obter
amostras de portugueses com as mesmas variantes que usámos", justifica.
Para encontrar marcas dos cruzamentos, os cientistas não usam todo o
genoma mas 474 491 marcadores genéticos, ou segmentos de letras de ADN. A
boa notícia é que o atlas não ficará encerrado com este trabalho.
"Seria interessante incluir populações de outros países, como Portugal, e
como planeamos disponibilizar gratuitamente o software poderemos ser
nós a fazê-lo ou outros."
Um dos resultados mais surpreendentes por agora foi descobrir como a
expansão do império mongol é visível no ADN de populações: não só dos
paquistaneses hazara, como já tinha sido demonstrado - aliás um dos
factóides da genética é que 0,5% da população mundial será descendente
do líder mongol Gengiscão - mas em seis outras populações, a mais
distante na Turquia, com marcadores que sugerem enlaces na altura em que
Gengiscão mandava na Eurásia. Outra foi a conclusão de que o povo tu,
na China moderna, terá resultado do encontro entre chineses e europeus
antepassados dos gregos, que coincide com viagens pela rota da seda no
século ii.
Em matéria de saúde, as doenças raras são as que geram mais
interesse, já que se pensa que terão uma origem recente, explica o
investigador. "Podem ter sido particularmente afectadas pelo tipo de
cruzamentos que identificámos."
* VIVA A CIÊNCIA
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