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"JORNAL DE NOTÍCIAS"
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ONU alerta Portugal para riscos das escolas de toureio para crianças
Portugal tem 12 escolas onde crianças
aprendem a tourear, nalguns casos também a matar touros, segundo um
relatório da organização Franz Weber, que motivou uma recomendação da
ONU para que se protejam os menores da violência das touradas.
O Comité dos Direitos das Crianças
das Nações Unidas aconselhou, esta semana, Portugal a criar legislação
que restrinja a presença de crianças em touradas, quer como
participantes quer como espetadores, mostrando preocupação com os
efeitos na saúde física e mental dos menores.
Na base desta decisão esteve um relatório da organização
não-governamental Franz Weber, a que a Lusa teve acesso, que traça o
primeiro retrato desta realidade no país.
"Em Portugal há 12 escolas de toureio conhecidas onde
as crianças recebem aulas teóricas e práticas com gado vivo, pondo em
risco a sua integridade física e mental", refere o documento.
Segundo a investigação da Fundação Franz Weber,
que decorreu durante cerca de um ano, as crianças aprendem toureio a pé
e são ensinadas a lutar usando capa e espada. Os treinos práticos
passam também por espetar bandarilhas em animais.
Apesar de a morte de touros em público estar proibida em Portugal desde 1928, as crianças que frequentam algumas destas escolas são treinadas como matadores, sendo realizadas deslocações a Espanha para que os menores possam experimentar a sensação de matar um animal.
A organização Franz Weber denuncia ainda no seu relatório a realização
de toureio com crianças em quintas privadas, onde se torna difícil
controlar ou fiscalizar a idade dos participantes e o tipo de
atividades.
Ausência de legislação sobre escolas taurinas
A legislação portuguesa prevê que só os maiores de seis anos possam
assistir a touradas enquanto espetadores e que os maiores de 12 anos
possam participar em atividades de toureio.
Apesar disso, segundo o relatório que serviu de base à ONU, há escolas
em Portugal que aceitam crianças a partir dos três anos e outras que
permitem a frequência a partir dos seis.
A Fundação Franz Weber alerta para a ausência de legislação que regule
as escolas taurinas em Portugal, que são geralmente registadas como
associações culturais.
Segundo dados da Inspeção-Geral das Atividades Culturais (IGAC) citados
por elementos da FFW, há atualmente cerca de uma centena de alunos
nestas escolas.
O Comité dos Direitos da Crianças sugere o aumento da idade mínima para
treino ou frequência de escolas de tauromaquia e para assistir a
espetáculos com touros. Mesmo sem definir uma idade concreta, "se
Portugal quiser cumprir a Convenção dos Direitos das Crianças terá de
definir os 18 anos como idade mínima para estas atividades", segundo
disse à agência Lusa Anna Mulà, advogada da FFW.
"Uma decisão histórica"
As recomendações das Nações Unidas foram feitas durante a avaliação regular a Portugal relativa à aplicação da Convenção.
Embora não exista um prazo estipulado para cumprir estas indicações, o
país será novamente avaliado dentro de cinco anos. Mas, segundo a
Fundação, as medidas devem "ser tomadas quanto antes para garantir a
efetiva proteção das crianças".
"Trata-se de uma decisão histórica. Foi a primeira vez que o Comité teve
oportunidade de se pronunciar sobre o tema e fê-lo logo de forma tão
contundente", afirmou Sérgio Caetano, representante português da FFW.
A Fundação acredita que a recomendação da ONU feita agora a Portugal
será repetida nas avaliações aos restantes sete países onde as crianças
participam em touradas: Espanha, França, Equador, México, Venezuela,
Peru e Colômbia.
O relatório detalha ainda casos de acidentes com touros que foram presenciados ou protagonizados por menores de 18 anos.
Sérgio Caetano acredita que muitos mais acidentes envolvendo crianças e
touros ocorram, nomeadamente nas largadas, adiantando que muitos casos
não chegam ao conhecimento público.
"Existem muitas crianças a ser expostas a este tipo de violência, com
consequências, com vítimas.
Uma situação que é muitas vezes desconhecida
porque os próprios responsáveis pelas atividades tauromáquicas têm
consciência do prejuízo que esta informação tem para a atividade",
declarou à Lusa este ativista.
* Escolas ensinam crianças a matar, mesmo que sejam touros? Sórdido!
.
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