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IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
04/02/14
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De dívida em dívida,
rumo ao abismo
Tivemos as colónias, fundos estruturais…, mas tudo
se esvaiu por entre os dedos, encontrando-nos hoje a vender os "anéis"
do país, numa situação deplorável de quem não é capaz de se sustentar a
si próprio, com o que produz. Tivemos as nozes nas mãos, mas não
soubemos parti-las.
"Cada cavadela cada minhoca" é um velho provérbio popular, que
me vem à memória sempre que folheio um jornal ou ouço os noticiários –
défices e dívidas.
Começando pela energia,
produzimos pouco, desperdiçamos muito em energia e, consequentemente,
poluímos mais. O indicador de eficiência energética, a "intensidade
energética", obtida do quociente entre o consumo de energia e o PIB, é
superior à média da UE27.
Os números são
inquietantes, pois a previsível escassez dos recursos fósseis e o maior
consumo à escala global, agravará a fatura energética, colocando em
causa a tão necessária competitividade da nossa economia e criação de
riqueza. Em 2012, ano hidrologicamente seco, o saldo importador de
produtos energéticos aumentou 4,2% face a 2011, cifrando-se em €7,1 mil
milhões. Segundo a Direção-geral de Energia e Geologia, para este saldo
importador contribuíram, negativamente, o acréscimo das importações de
determinados produtos energéticos face a 2011 (petróleo bruto, energia
elétrica e hulha), quer em termos de quantidades quer em termos do valor
em euros.
Política à parte, há a registar a grande
aposta do anterior Governo nas energias renováveis, diminuindo de 90
para cerca de 80% a dependência energética de Portugal face ao exterior,
nos últimos 10 anos. Ao "virar de página", deparamos com uma outra – a
dívida tarifária. Esta existe pelo facto de o custo de produção de
energia elétrica ser superior ao valor cobrado pelo seu consumo. O
pagamento de parte dos custos é diferido no tempo, como forma de
suavizar o aumento nas tarifas suportadas pela generalidade dos
consumidores finais de eletricidade. Tratou-se de uma medida política,
no sentido de ajudar a promover as energias renováveis (sobretudo eólica
e fotovoltaica) e a cogeração. No final de 2013, a dívida tarifária
atingiu €3,7 mil milhões, prevendo-se que em finais de 2014 ultrapasse
os €4,4 mil milhões, que, mais tarde ou mais cedo, acabará por se
refletir na fatura mensal de eletricidade a pagar pelos consumidores.
Da
fatura mensal de eletricidade que nos chega a casa, apenas cerca de
metade diz respeito à energia efetivamente consumida, o restante são os
chamados custos da "política energética e ambiental". Custos que, por
uma questão de equidade, deviam ser suportados também pelos operadores
não sendo colocado todo o ónus nos consumidores. Pois, chegou-se à
situação de celebração de contratos com preços garantidos e acima dos
preços a que é possível produzir pelos processos tradicionais (por
exemplo, a eólica tem de ser paga aos produtores, quer seja consumida ou
não).
Outra dívida que continua e continuará por
muito tempo na ordem do dia – a dívida pública. Segundo estimativas do
Boletim Económico de Inverno do Banco de Portugal, o total da dívida das
administrações públicas corresponde a 127.8% do PIB no final de 2013.
Temos
ainda um elevado défice de responsabilidade cívica e moral, que parece
não incomodar os portugueses em geral: compadrios, encobrimentos,
corrupção… Tivemos as colónias, fundos estruturais …, mas tudo se esvaiu
por entre os dedos, encontrando-nos hoje a vender os "anéis" do país,
numa situação deplorável de quem não é capaz de se sustentar a si
próprio, com o que produz. Tivemos as nozes nas mãos, mas não soubemos
parti-las.
Triste legado que iremos deixar às gerações vindouras!
Docente da Faculdade de Economia e Gestão da Católica Porto
IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
04/02/14
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