Passos e Marcelo
1-Passos Coelho
não estava a referir-se a Marcelo Rebelo de Sousa (MRS) na definição do
perfil para o candidato do partido às próximas presidenciais, contido na
moção ao próximo congresso do PSD. E Passos Coelho também não teve nada
a ver com a proposta de referendo à coadoção apresentado pela JSD, a
qual interrompeu, por agora, um processo legislativo iniciado pela
aprovação de alguns deputados do partido.
Estes dois episódios
podem ter sido uma casualidade. Provavelmente radicam numa nova atitude
do PSD e do seu líder, agora mais confiantes com alguns indicadores
económicos e sociais e no que eles podem representar na preparação das
próximas eleições. Mas encerram um grande perigo político.
Explico.
Pedro
Passos Coelho foi sempre visto até agora, por parte significativa da
opinião pública, mesmo no auge da contestação às convicções com que tem
guiado o Governo, como um homem capaz de olhar a direito e dizer o que
pensa sem subterfúgios. Depois daquela fase inicial, em que rompeu com
promessas da campanha e se desdisse em vários temas (o que infelizmente é
comum em Portugal depois de se ganhar eleições), o primeiro-ministro
sempre se esforçou por ser visto como um homem sem medo de assumir as
suas ideias e preferências, capaz de olhar em frente e dizer o que
pensa, sem subterfúgios. Em certa medida conseguiu esse objetivo.
Ora o que Passos Coelho fez esta semana foi começar a delapidar este património de frontalidade e coragem política.
Para
toda a gente resultou claro que a carapuça presidencial era, pelo
menos, para MRS (pode ser para mais comentadores...). E só os crentes
podem acreditar que numa matéria social tão fraturante como a da
coadoção, com um congresso (de reeleição) à vista, o líder e
primeiro-ministro não tivesse dado o aval à ação de Hugo Soares e da
JSD.
Se continuar assim, rapidamente vai ser um político "como os
outros" - que, como esses outros, obviamente não desdenha exercitar a
hipocrisia.
2-É óbvio que o perfil traçado na moção ao congresso
pretende identificar MRS e exclui-lo da corrida presidencial (assim como
parece esperar por Durão Barroso ou... Rui Rio). Outra coisa é MRS
voltar-se para trás e reconhecer que aquelas palavras não só o pretendem
definir como, retirando-lhe o eventual apoio do PSD, excluem
liminarmente as suas ambições tantas vezes percebidas.
De uma só
vez, para se colocar no centro das atenções, MRS enfiou o barrete e
abdicou da vontade própria que um candidato a presidente da República
deve possuir. No passado, Mário Soares, Jorge Sampaio e Cavaco Silva não
deixaram de marcar o terreno perante os respetivos partidos. Primeiro
avançaram. O partido definiu-se depois.
Desse ponto de vista, MRS
cometeu um erro. Tantas vezes no passado exerceu a sua capacidade
crítica em relação à atividade governativa e do partido para acabar
nesta posição disciplinada de funcionário que espera uma bênção? Não faz
sentido.
Mas também Passos Coelho pode vir a arrepender-se desta
pequena vingança em relação a uma voz que tem, às vezes, sido crítica.
Se, no futuro, precisar de recuperar MRS, porque mais ninguém (nem
Durão) venha a querer afrontar umas eleições favoráveis à esquerda, vai
ter de engolir um sapo.
Quanto a MRS, tudo é mais simples. Voltar
atrás na palavra é coisa que não o atrapalha especialmente. Por ele,
Cristo pode vir até cá mais uma vez...
Finalmente, nesta
legislatura, Portugal cumpre um défice. Pagámo-lo todos, com os
impostos. Resta saber como, no futuro, o Governo devolverá todas as
contribuições especiais sem prejudicar as contas públicas. Só pode ser
com crescimento económico e uma verdadeira reforma do Estado. Esse
desafio falta ganhar.
Director
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
25/01/14
.
Sem comentários:
Enviar um comentário