O consumo da
"nova" televisão
Um
estudo divulgado esta semana pela Netflix nos Estados Unidos dá conta
de que mais de 60% dos espectadores veem televisao online de forma
maciça (binge watching). O padrão de comportamento não é exatamente uma
novidade, confirma, antes, uma tendência já detetada em trabalhos
universitários nos últimos anos.
A Netflix trabalhou com o antropólogo
cultural Grant McCraken que acompanhou o estudo nas salas de estar ou
noutros locais com acesso ao computador ou ao tablet, que são
basicamente todos. O principal argumento usado pelos consumidores é o
"controlo do que estão a ver e quando estão a ver", sendo que a maioria
também revelou "preferir ter à sua disposição uma temporada inteira de
uma determinada série do que esperar, como acontecia no passado, pelo
ritmo semanal dos episódios".
Este estudo devolveu-me, por instantes, à
realidade portuguesa, onde existem, pelo menos, dois factos que ou
despertaram a minha memória ou merecem reflexão. O primeiro é a
sofisticação dos equipamentos das nossas operadoras de televisão paga -
em particular ZON e MEO - que têm um conjunto de mecanismos que permitem
já hoje ao espectador criar, de facto, a sua própria grelha.
Não se
trata de uma realidade exclusivamente portuguesa, mas é bom sublinhar
que Portugal esta muito dedesenvolvido do ponto de vista tecnológico e
que apresenta serviços que encontramos em poucos sítios do planeta. O
outro caso acompanhei-o de perto e foi o que se chama um sucesso de
audiências. Há talvez cinco ou seis anos a RTP2, na altura liderada por
Jorge Wemans e Bruno Santos (um hoje na prateleira e outro na TVI)
programou verdadeiras maratonas da série 24. Eram fins de semana
inteiros que permitiam ver toda a temporada num único fôlego.
O que a
Netflix constatou agora com o seu estudo verificou-se nessa altura.
Sobre a Netflix vale ainda a pena dizer que na América o seu papel na
transformação do consumo de televisão foi significativo e que está a
alargar a sua influência. Em breve estará em Espanha e muito
provavelmente a seguir em Portugal.
1918-Forever
Acompanhar
as cerimónias do adeus a Mandela foi um raro privilégio. A mobilização
de meios dos canais de televisão nacionais e internacionais, o número de
equipas operacionais e de jornalistas, deram a este acontecimento um
carácter global sem precedentes na história. A partida de Mandela foi
também um momento de exceção para o jornalismo com notáveis peças
incluindo as dos enviados portugueses. Pela sua simplicidade, encontrei
no Star sul-africano a mais bela despedida. Numa página inteira de
fundo negro lia-se: Nelson Mandela - 1918-Forever.
Um país adiado
Longe
da televisão portuguesa, não sei como tratou a RTP o caso dos
refugiados sírios (?) que nos apareceram de surpresa em Lisboa. Acredito
que tenha tratado o melhor possível fazendo jornalismo, como, aliás, é
marca da empresa. Isso terá acontecido nas redações em Lisboa e no Porto
e também na Delegação em Bissau, onde os profissionais locais se
esforçam diariamente para produzir um trabalho digno que consiga
refletir um país sem ponta por onde se lhe pegue. Resolver Bissau é um
problema para Portugal e, noutro plano, para a RTP.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
15/12/13
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