O que podem esperar
os investidores em 2014?
À medida que o ano de 2013 se aproxima do fim, os investidores
começam a encarar o Ano Novo com um misto de entusiasmo e apreensão. O
entusiasmo advém de uma conjuntura mais favorável ao crescimento
económico na Europa e nos Estados Unidos e da melhoria das perspectivas
de crescimento dos lucros das empresas, que deverá sustentar os mercados
de acções dos países desenvolvidos. A apreensão radica, de forma
igualmente importante, nas preocupações sobre a forma como os mercados
de obrigações irão reagir quando a Reserva Federal decidir reduzir o seu
programa de flexibilização quantitativa.
Atendendo a estes factores, David Lebovitz, Estratego de
Mercado Global da JP Morgan Asset Management, analisa os principais
temas de investimento que os investidores deverão considerar nas suas
estratégias para 2014.
A rentabilidade das obrigações vai continuar a subir
Um
assunto que, muito provavelmente, irá transitar de 2013 tem que ver com
o aumento gradual das taxas de juro a longo prazo e com a necessidade
de obter rendimentos de outras fontes que não as obrigações de elevada
qualidade a longo prazo.
Ao longo de 2013, os investidores têm especulado sobre a altura
em que a Reserva Federal poderá começar a descontinuar progressivamente
as compras de obrigações. Na altura em que estamos a escrever este
artigo, o processo ainda não teve início. No entanto, as rentabilidades
dos títulos do Tesouro a 10 anos são cerca de 1% superiores às que se
verificavam no início de 2013. Apesar disso, continuam muito baixas em
termos históricos e poderão muito bem apresentar um valor semelhante em
2014, à medida que a Reserva Federal for reduzindo as compras de
obrigações, acompanhando o ritmo de consolidação da economia dos Estados
Unidos.
Quer isto dizer que os investidores poderão preferir manter uma
posição subponderada de rendimento fixo na sua alocação estratégica a
longo prazo e privilegiar as obrigações de curto prazo em detrimento das
de longo prazo. Poderão igualmente preferir privilegiar sectores dos
mercados de crédito, tais como o elevado rendimento, dado que o maior
valor do cupão destes títulos deverá ajudar a compensar as quedas de
preços devidas ao aumento das taxas de juro.
Ligeira aceleração do crescimento dos Estados Unidos
Outro
assunto que deverá transitar para 2014 tem que ver com uma posição
sobreponderada em acções norte-americanas. Continua a haver sérias
perspectivas de crescimento dos lucros, melhorou o panorama relativo ao
crescimento económico, e diminuíram muitos "riscos de cauda", como a
turbulência orçamental dos Estados Unidos, as tensões no Oriente Médio e
os problemas da Zona Euro. No entanto, um forte ganho de dois dígitos
das acções norte-americanas em 2013 significa que o mercado deixou de
ser barato em termos absolutos, e é provável que consiga propiciar
retornos médios anuais de apenas um dígito ao longo dos próximos anos.
A economia dos Estados Unidos deverá apresentar em 2014 um
crescimento ligeiramente superior ao de 2013, traduzido num aumento do
PIB entre 2,5% e 3,0%, devido a: (1) diminuição das restrições
orçamentais; (2) significativas restrições na procura de automóveis,
imobiliário e equipamentos empresariais; (3) desfasamento entre o
aumento da riqueza e o seu efeito no consumo privado; e (4) papel do
fortalecimento da economia global no estímulo às exportações
norte-americanas. Esta maior dinâmica económica deverá continuar a fazer
baixar a taxa de desemprego, a qual, por sua vez, deverá levar a
Reserva Federal a descontinuar totalmente as compras de obrigações em
2014, embora de forma progressiva.
Estamos em crer que o défice do orçamento federal irá cair de
4,1% do PIB, valor apresentado no ano fiscal de 2013, para cerca de 3,3%
do PIB no ano fiscal de 2014, reflectindo o impacto do aumento das
taxas de juro verificado em Janeiro deste ano, bem como o forte
rendimento dos investimentos. Embora isso signifique que a economia dos
Estados Unidos ainda estará a braços com certas restrições orçamentais, o
seu impacto não deverá ser tão significativo como em anos anteriores.
Não prevemos acordos políticos de grande relevância, dado que Washington
estará com as baterias apontadas para as eleições intercalares a
realizar em 2014.
A Europa deverá continuar a melhorar
Apesar
de a taxa de desemprego da Zona Euro se manter acima dos 12%, a região
parece ter saído da recessão e apresenta agora um crescimento económico
ligeiramente positivo, que, a nosso ver, poderá aumentar. Esta evolução
poderá representar uma importante oportunidade de investimento. As
bolsas europeias estão mais baratas com base nos ganhos actuais do que
as norte-americanas, e os lucros poderão ter maior potencial de
crescimento do que nos Estados Unidos, pois a Europa tem mais espaço
para crescer antes de chegar a uma situação de pleno emprego.
Os investidores deverão observar o comportamento do Banco Central
Europeu (BCE), enquanto este mantiver a extrema flexibilidade da sua
política monetária. O BCE reduziu as taxas de juro em Novembro, e os
investidores começam a interrogar-se quais serão as próximas medidas do
banco central para tentar estimular o crescimento económico e conter a
queda da inflação.
Os mercados emergentes continuam atraentes
À
medida que aumenta a procura agregada de curto prazo na economia global,
os investidores poderão apontar baterias para as regiões do mundo
dotadas de maior potencial de crescimento económico a longo prazo. A
resposta reside claramente nos mercados emergentes, sobretudo fora da
China. Embora o crescimento estrutural a longo prazo continue a ser uma
realidade, será importante mantermo-nos conscientes das adversidades
económicas e políticas que essas economias em desenvolvimento terão de
enfrentar no próximo ano.
As negociações com o Irão poderão ser positivas, mas atenção à China
Qualquer
progresso nas relações entre os Estados Unidos e o Irão teria um efeito
positivo inesperado nos mercados. Embora o regime iraniano não tenha
mudado com a eleição de Hassan Rouhani, parece evidente que o povo e o
governo iranianos gostariam de encontrar uma forma de intermediar algum
tipo de acordo nuclear que resultasse no levantamento das sanções. Um
acordo deste género, caso fosse alcançado, poderia reduzir as tensões no
Oriente Médio e aumentar a oferta mundial de petróleo, de que
resultaria uma importante redução de impostos, devido à queda dos preços
dos combustíveis.
A China, no entanto, poderá perturbar os mercados. Até ao
momento, o governo chinês não foi capaz de conter uma forte onda de
especulação imobiliária nem o aumento da dívida de particulares e
empresas. Embora as reformas estabelecidas durante o Terceiro Pleno
constituam um bom começo para alcançar a estabilidade económica a longo
prazo, a um eventual fracasso na sua implementação poderia seguir-se uma
crise financeira no seio da própria China.
Senior Sales Executive do JPMorganAM
IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
23/12/13
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