A longa depressão
A imagem que acompanha esta crónica apareceu no blogue do economista
Paul Krugman e representa uma comparação entre a quebra na produção
industrial nos anos 30 e na atual crise. De caminho, permite responder a
uma pergunta: estamos pior ou “melhor” (menos pior) do que na Grande
Depressão? A resposta é: nem uma coisa nem outra, estamos mais ou menos
igualmente mal. E há mais tempo.
Na Europa durante a Grande
Depressão, a produção industrial caiu muito de uma vez só, durante cerca
de dois anos. Mas depois melhorou de forma contínua. Na nossa crise de
agora, o início foi ainda pior. Como o gráfico mostra, a produção
industrial caiu de um penhasco abaixo no primeiro ano da crise, a seguir
ao quase-colapso financeiro de setembro de 2008. Mas as coisas
melhoraram muito a seguir, e bem mais cedo do que na Grande Depressão.
Não por acaso, foi na fase em que os governos da União Europeia
enveredaram por políticas “keynesianas”, ou seja, quando se iniciaram
grandes programas de investimento público para compensar a contração
económica.
A partir de 2011, porém, a recuperação parou. Os países
mais fracos bateram na parede dos juros dívida e não puderam gastar
mais. Os países mais fortes não deixaram que a União prolongasse as
políticas keynesianas nos países onde elas tiveram de ser interrompidas.
E a recuperação parou.
A partir daí a linha torna-se menos clara:
pequenas subidas, pequenas descidas, uma tendência geral recessiva, mas
nenhum sinal de retoma. E agora passamos a estar pior do que estava a
Europa no mesmo momento da Grande Depressão, ou seja, cinco anos depois
do início da crise.
A continuar assim, a nossa será a Longa Depressão. Não tão má quanto a
dos anos 30 no sentido em que não se desceu tão baixo. Pior do que a
Grande Depressão porque nos arriscamos a ficar nela muito mais tempo.
As
consequências disto são importantíssimas, do ponto de vista económico e
social, é claro, mas também do ponto de vista político, em Portugal e
na Europa. Significa que nos podemos manter prolongadamente nos limites
do tolerável. Significa também que não há nenhum ponto de viragem à
vista.
Talvez as redes de proteção social de que a Europa se dotou
na segunda metade do século XX nos ajudem a prevenir o pior. Mas a
Longa Depressão ainda se arrisca a trocar as voltas a toda a gente.
Todas as previsões falham no curto prazo. Nem o euro colapsa, nem a
Europa se reforma. Continuamos apenas numa longa agonia.
A
política terá de se adaptar a esta realidade, substituindo o taticismo
por uma estratégia consistente de construção de uma maioria social
progressista, em Portugal e na Europa, capaz de sustentar as mudanças
que finalmente ponham a União no caminho certo para sair da Longa
Depressão.
IN "PÚBLICO"
18/11/13
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