Energia positiva
Talvez não muito elucidados, mas cheios da
inspiração que estes lugares místicos nos despertam, os quadros meditam
sobre como colocar a empresa no coração dos seus empregados e prometem
regressar com outras perguntas igualmente elusivas.
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Uma das expressões mais em voga na
China desde 2012 e que está sendo disseminada por todo o país ao longo
de 2013 é "energia positiva" a que se juntou o desafio lançado pelo novo
presidente Xi Jiping no início do seu mandato de que a China precisa de
construir o "sonho chinês". E o que é isso de "energia positiva" e da
construção do "sonho chinês"? Muito dados a excessos logo os chineses se
multiplicaram em discursos, programas de televisão e debates procurando
as mais diversas interpretações para o significado destas expressões
algo místicas. E, para já, com a habitual aptidão para o negócio que
todos lhes reconhecemos, logo dispararam as vendas "on-line" – o local
de compra favorito dos chineses – com inúmeros produtos desde chás
especiais a braceletes e pendentes todos prometendo "energia positiva" e
um vasto caminho para o sonho.
Uma das atividades que mais floresceram neste ambiente é a
dos templos budistas onde particulares e empresas procuram respostas
para as suas muitas interrogações. Os mais famosos destes templos podem
ser bastante caros e oferecem pacotes para todos os gostos. Sei de pelo
menos uma empresa multinacional que regularmente faz deslocar os seus
quadros a centenas de quilómetros de distância para um templo em Fujian
onde durante uns breves dias ou num fim de semana interrogam o Mestre e
refletem sobre as suas enigmáticas respostas. "Mestre, por que razão
pagamos tão bem aos nossos empregados e ainda assim eles nos abandonam?"
"Isso é porque não trazem a empresa no coração" responde
contemplativamente o Mestre, numa clara concorrência com qualquer
consultora de Recursos Humanos à qual ganha por certo em concisão.
Talvez não muito elucidados, mas cheios da inspiração que estes lugares
místicos nos despertam, os quadros meditam sobre como colocar a empresa
no coração dos seus empregados e prometem regressar com outras perguntas
igualmente elusivas.
Tão comuns e procurados se
tornaram estes lugares que começaram a pulular inúmeras anedotas com
situações mais ou menos representativas do contexto chinês porque uma
das características mais fascinantes deste povo é o seu sentido de humor
e a capacidade que os chineses têm de se rirem de si próprios. Uma
destas anedotas recentemente reproduzida no "China Daily" fala-nos de um
homem muito rico em consulta num templo budista: "Mestre, sou rico, mas
infeliz. Qual o caminho da felicidade?" ao que o Mestre respondeu: "E o
que é a riqueza?". Algo perturbado com a misteriosa singeleza da
resposta o homem explicou que tinha três apartamentos na zona mais cara
de Pequim e que a sua conta bancária tinha mais de 8 dígitos, seria isso
a riqueza? O Mestre nada disse, mas estendeu uma mão. "Quer isso dizer
que eu devo ser agradecido?" perguntou o homem. Com uma súbita voz
tímida o Mestre respondeu: "Não, quer simplesmente dizer que gostaria de
ser seu amigo".
Enquanto os chineses procuram por
todas as formas o caminho da "energia positiva" e do "sonho chinês" o
certo é que, agora mesmo, como reconheceu Rui Xiaowu diretor-geral da
China Electronic Corporation, se houvesse uma falha de eletricidade em
Shenzhen – a região contígua a Hong Kong – e arredores, isso causaria
flutuações nos preços dos produtos electrónicos em todo o mundo. É
também certo que, contra todas as expectativas, o PIB chinês cresceu
mais do que esperado no terceiro trimestre deste ano. Quem precisa de
energia positiva?
* Professora no ISCTE Business School e INDEG-IUL ISCTE Executive Education
IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
28/10/13
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