O QUE NÓS
APRENDEMOS!
TEXTO DO DISCURSO
Portugal não é a Grécia e eu estou desempregado, um actor desempregado.
Em Novembro volto à labuta. À bilheteira e sem direitos, que é para não
pensar que desaperto o cinto das calças. Os humanos não passam sem pão e
água e os países não existem sem Cultura. O Coelho gosta da Nini e do
Lá Féria, o Costa dá praças ao Tony. Na Ajuda o cacilheiro está sempre
primeiro. Portugal embarcado e emigrado. Portugal afundado e eu continuo
desempregado.
De Bragança até Faro: corta na saúde, corta na educação, corta na
cultura, corta na dança, corta no cinema, corta no teatro. E depois?
Depois privatiza, privatiza filho. O Teatro S.Carlos Santander Totta
apresenta! O Teatro Sonae S.João vai estrear! O D.Maria II BPN
orgulha-se de apresentar: Duarte e Loureiro a caminho da
Carregueira!...há coisas que só mesmo no teatro...
"Artigo 78.º, Fruição e criação cultural, ponto 1: Todos têm direito à
fruição e criação cultural, bem como o dever de preservar, defender e
valorizar o património cultural." Porra para a constituição...o que é
que a constituição já fez por ti hoje? O que é que a porra da
constituição já fez por ti alguma vez na vida? Queime-se a constituição,
queime-se o código do trabalho, glória ao pai, ao filho e ao trabalho
temporário!
Portugal não é a Grécia e eu estou desempregado.
E quero ainda dizer, que isto aqui, que isto aqui, é uma cambada de
activistas, uma cambada de sindicalistas e uma cambada de lambões! Vão
trabalhar, porra! Vão p'rá estiva 80 horas por semana, vão lavar escadas
às 5h da manhã, vão ter dois empregos que é bom p'rá tosse, vão chapar
massa em cima de andaimes, trabalham e ainda vêem a vista, vão servir às
mesas, ficam com varizes, mas trabalham os gémeos, estão desempregados?
Apanhem o cacilheiro gondoleiro. E a Luísa? Continua a subir a
calçada...
Deus no céu, Soares dos Santos na terra. Pingo Doce, venha cá! Venha cá
ver como se destrói a produção nacional, venha cá ver como se faz uma
fundação instrumental. Pingo Doce: um litro de vinho aliena e
estupidifica um milhão de portugueses. O Pingo é mais doce com a sede na
Holanda, o Pingo quer ir ser ainda mais doce para o meio da Colômbia, o
Pingo já é doce na Polónia do Wojtila. Pingo Doce: erva, coca, igreja e
exploração, e tudo sem custos de produção.
Portugal não é a Grécia e eu estou desempregado.
E queria chamar para junto de mim Isaltino Afonso de Morais! E queria
chamar para junto de mim Alberto João Jardim! E queria chamar para junto
de mim Avelino Ferreira Torres! E queria chamar para junto de mim
Valentim Loureiro! E queria chamar para junto de mim Oliveira e Costa! E
queria chamar para junto de mim Alves dos Reis! E queria chamar para
junto de mim Al Capone!>
"Artigo 20.º, Acesso ao direito e tutela jurisdicional efectiva, ponto1:
A todos é assegurado o acesso ao direito e aos tribunais para defesa
dos seus direitos e interesses legalmente protegidos, não podendo a
justiça ser denegada por insuficiência de meios económicos." Alguém tire
a venda à Justiça, por amor da Constituição.
"Artigo 74.º, Ensino, ponto 1: Todos têm direito ao ensino com garantia
do direito à igualdade de oportunidades de acesso e êxito escolar.
Artigo 75.º, Ensino público, particular e cooperativo, ponto 1: O Estado
criará uma rede de estabelecimentos públicos de ensino que cubra as
necessidades de toda a população. Artigo 64.º, Saúde, ponto 1: Todos têm
direito à protecção da saúde e o dever de a defender e promover. Ponto
2: O direito à protecção da saúde é realizado: alínea a) Através de um
serviço nacional de saúde universal e geral e, tendo em conta as
condições económicas e sociais dos cidadãos, tendencialmente gratuito."
Ah, maldito tendencialmente! À venda neste leilão temos também um artigo
de grande valor económico, um maravilhoso contrato swap dirigido à sua
PPP de estimação, esqueça a lei fundamental do seu país e governe-se com
artigos financeiros do mais tóxicos que há. Sabe qual é o preço certo?
Portugal não é a Grécia e eu estou desempregado.
“Faz-me um bocadinho de impressão que 15 pessoas por mais eminentes que
sejam tenham o poder de condicionar a vida de milhões de pessoas da
forma como têm”(1), a saber: O
Ulrich dos aguentas, o Catroga dos pintelhos, o Ferreira do Amaral das
pontes, o Luís e o Nuno Amado dos bancos, o Ulrich dos aguentas, o
Salgado dos espíritos santos, o Belmiro dos carnavais, o Durão dos
caldos entornados, o Pires de Lima das cautelas, o Seguro do qual é a
pressa, o Ulrich dos aguentas, o Moedas dos especialistas adolescentes, o
Portas dos submarinos e dos vices, o Passos Coelho das enxadinhas para
trabalhar, o Cavaco dos muito, muito, muito, muito, muito, muito,
muito...e as pistolas do Buiça? Emigraram com ele para a Suíça. Foi ao
Campo Pequeno não havia viv'alma, no Terreiro do Paço estavam umas
pessoas a correr patrocinadas pela telefonia, pegou na mulher e nos
filhos e toca de zarpar. Já não teve de dar o salto, mas as lágrimas
caíram-lhe na mesma.
"O que é que não temos? Satisfação! O que é que nós queremos? Revolução!"(2)
Hoje é outra vez o primeiro dia do resto das nossas vidas, temos todos e
todas um brilhozinho nos olhos. A austeridade não é inevitável. O
pensamento não é único. Eu cruzei a ponte. Pára o porto, pára Coimbra,
pára Braga, pára Viseu, pára o Funchal, pára Vila Real, pára Évora, pára
tudo! O Alentejo é nosso outra vez. "A paz, o pão, habitação, saúde,
educação. Só há liberdade a sério quando houver liberdade de mudar e
decidir, quando pertencer ao povo o que o povo produzir."(3)
"Não nos venham com cantigas, não cantamos para esquecer, nós cantamos
para lembrar que só muda esta vida, quando tiver o poder o que vive a
trabalhar."(4) Se o ataque é
brutal, a greve é geral. Salários e pensões não pagam dívidas, o
empobrecimento não paga dívidas, a exploração não paga dívidas.
Trabalhadores e trabalhadoras em luta contra a carestia de vida. A
troika cheira mal dos pés, a troika é burra, morra a troika, morra pum! A
troika é a velha, mas nós não somos nêsperas.
Spartacus morreu na cruz, a Revolução Francesa morreu na cruz, o 25 de Abril ainda está na cruz, é tempo de o resgatarmos.
"Artigo 1.º, República Portuguesa, Portugal é uma República soberana,
baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular, e empenhada
na construção de uma sociedade livre, justa e solidária."
Liberdade, igualdade, fraternidade. Eu sou Spartacus. O povo, quando estiver unido, jamais será vencido.
"Artigo 21.º, Direito de resistência: Todos têm o direito de resistir a
qualquer ordem que ofenda os seus direitos, liberdades e garantias e de
repelir pela força qualquer agressão, quando não seja possível recorrer à
autoridade pública." A austeridade ofende os meus direitos, as minha
liberdades e as minhas garantias.
Liberdade, igualdade, fraternidade. Eu sou Spartacus. Portugal não é a
Grécia e eu estou desempregado, mas resisto. A maré vai-se levantar. Eu
cruzei a ponte. Não há becos sem saída. O Povo contra-ataca. Nós ou a
troika?
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