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Há 30 milhões de escravos no mundo
Primeiro estudo realizado à escala global revela que metade das pessoas em situação extrema de exploração vivem na Índia. Mauritânia é o país com maior fatia da população escravizada.
Há 30 milhões de pessoas a viver em condições de escravatura em todo o
mundo, segundo o primeiro estudo realizado à escala global sobre este
flagelo. Quase metade vive na Índia, onde a pobreza e o sistema de
castas atiram milhões para uma engrenagem da qual poucos conseguem sair.
Os dados constam do Índice
Global de Escravidão, o primeiro estudo a nível mundial sobre um
fenómeno que “muitas pessoas ficam surpreendidas por ainda existir”, mas
que “continua a ser um estigma em todos os continentes”, explicou à AFP
Nick Grono, director-geral da Walk Free, organização criada na
Austrália para denunciar a prevalência da escravatura, mais de um século
depois de ter sido abolida. “As leis já existem, mas faltam os meios,
os recursos e a vontade política”, diz Grono, esperando que este
trabalho sirva como um alerta.
O índice, admite o responsável, é o
resultado de um exercício difícil, quer porque se trata de “um crime
escondido” – “é quase como tentar medir a violência conjugal ou o
tráfico de drogas”, diz –, quer porque a escravatura moderna é mais
complexa do que o comércio de seres humanos durante o período colonial.
Abrange situações “em que as pessoas estão reféns da violência, são
obrigadas a aceitar um emprego, mas também outras situações em que são
economicamente exploradas, em que não são pagas ou recebem o mínimo para
sobreviver e não são livres de partir”. As vítimas de tráfego humano,
as mulheres forçadas a casar ou as crianças exploradas em situações de
guerra entram também nesta definição.
É dessa soma que a Ásia
surge como o continente onde há mais pessoas escravizadas – quase dois
terços do total contabilizado a nível mundial. Só na Índia são perto de
14 milhões de pessoas, mas as estimativas apontam também para 2,9
milhões de seres humanos escravizados na China e mais de dois milhões no
Paquistão.
Na Índia, há milhares que já nascem escravos, presos
pelo sistema de castas que embora ilegal se mantém enraizado, ou
forçados a trabalhar a vida inteira para pagar dívidas, muitas vezes
contraídas por antepassados. No fabrico de tijolos, na construção ou nas
minas a céu aberto este “vínculo para a vida” arrasta famílias inteiras
e rouba milhões de crianças à escola. O flagelo estende-se também ao
lar, com jovens forçadas pelos pais a casar e depois escravizadas pelos
maridos e as suas famílias, ou de crianças obrigadas desde muito
pequenas a mendigar ou a prostituir-se.
Mais de dois terços das
pessoas exploradas em todo o mundo vivem em dez países (22 dos 29,3
milhões), mas o índice é liderado por um pequeno país, que não constam
sequer desta lista: na Mauritânia quatro por cento da população vive
escravizada, incluindo milhares de crianças que nasceram a ser vistos
como propriedade de alguém. O segundo lugar é ocupado pelo Haiti, onde
centenas de milhares de crianças de aldeias pobres são enviadas para
trabalhar em casas na cidade, ficando muitas vezes sujeitas a todo o
tipo de abusos.
Portugal surge neste índice a par da Espanha, no
147º lugar entre 162 países, calculando-se que haja entre 1300 a 1400
pessoas forçadas a trabalhar em situações de exploração. A Islândia
surge como o mais bem cotado de todos os países da lista, com menos de
cem pessoas em situação de escravatura, seguida da Irlanda e Reino
Unido.
* Quando estivemos na Índia dizia-nos um orgulhoso guia que estávamos na maior democracia do mundo, perguntei-lhe com pena se tinha um sono sossegado enquanto mais de um milhar de milhão de indianos não tinham durante a vida uma torneira que fosse sua. Emudeceu.
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