HOJE NO
" RECORD"
Mário Santos:
«Não saio por incompatibilidade»
Mário Santos admitiu esta quinta-feira que voltará ao dirigismo
desportivo "assim que tenha disponibilidade", reiterando a sua vontade
de "servir" a canoagem e o desporto português, nos quais nunca foi
remunerado em nove anos em distintas funções.
"As realidades
vão-se alterando. Não vou fazer prognósticos, mas estou certo de que,
assim que tenha disponibilidade, irei voltar ao desporto, sempre por via
da canoagem, a minha segunda casa. Estarei disponível. Não estou para
cumprir ambição pessoal, mas, dentro do possível, servir", disse o
dirigente à agência Lusa.
Um dia após ter anunciado que vai
deixar a presidência da federação de canoagem, a vice-presidência do
Comité Olímpico de Portugal e a chefia de missão portuguesa ao Rio'2016,
Mário Santos admite "muita mágoa, mas também coerência" por ter de
abdicar de funções, revelando que o desporto lhe devolveu "em dobro"
tudo o que fez por ele.
"Não era isto que queria ou
ambicionava, mas a vida é feita de decisões difíceis e esta é das mais
difíceis que tive de tomar", explicou, após justificar a sua saída com
"incompatibilidade das exigências crescentes" com a sua "vida pessoal e
profissional". "Nunca vou deixar o desporto, nem que seja como
praticante. Exerço-o com paixão e sem qualquer tipo de desgaste. Veremos
o que o futuro vai proporcionar. Aprendi a não dizer nunca. Não saio
por incompatibilidade com a modalidade, mas por questões pessoais. Não
saio com remorsos ou pedra no sapato, pelo contrário. Foi uma decisão
ponderada com a qual já venho a debater-me e a lidar há alguns meses",
revelou.
Mário Santos refuta qualquer desgaste adicional pelos
casos de Fernando Pimenta e Teresa Portela - por motivos distintos,
recusaram-se a representar a seleção nos mundiais - considerando-os
"normais na vida desportiva". "Foi um momento menos bom da canoagem, mas
temos de os encarar com naturalidade. Teve impacto devido aos
resultados e mediatismo da canoagem. Fiquei triste por ter chegado a
esse limite, mas tudo o que envolve as duas situações é normal no
desporto. Lido com naturalidade, mas era melhor que não tivessem
acontecido", admite, considerando que "os atletas foram quem mais
perdeu".
Mário Santos afiança que a modalidade pouco sofreu
com estas ausências e acrescenta que "as 13 medalhas obtidas este ano,
entre Europeus e Mundiais, demonstram que o caminho da canoagem é o
correto, bem como as opções tomadas", sublinhando que "o sucesso é fruto
do trabalho de muita gente e grande superação de todos". "Deu-se muito
mais tempo de antena ao caso Fernando Pimenta do que à valorização da
essência do desporto e dos nossos muitos êxitos. Isso só demonstra que
ainda temos um longo caminho a percorrer para que se valorize o que é o
alto rendimento", frisou, lembrando que Emanuel Silva até tem "melhor
currículo e mal foi ouvido neste processo".
"COP tem equipa alargada, competente e experiente"
Mário
Santos recusou a ideia de que a sua saída do COP enfraqueça a
capacidade da instituição, enaltecendo a "equipa alargada, competente e
experiente" do organismo.
"Esta decisão não me agrada nem aos
muitos que comigo trabalharam, mas o COP tem uma equipa alargada, com
pessoas competentes e experientes na qual era apenas mais um. Estou
certo de que sobra competência para que a resposta seja dada. Por não
estar presente formalmente, não deixo de estar disponível em tarefas
para as quais possa ajudar", disse à agência Lusa.
Mário
Santos mostra-se "disponível" para ajudar a encontrar a "melhor solução"
para preparar os Jogos Olímpicos e defende a profissionalização do seu
sucessor. "Deve ter organização, ser um líder e ter disponibilidade. O
exercício da chefia de missão em sucessivas organizações e competições
assim o obriga. É uma tarefa cada vez mais executiva, que obriga a
aquisição conhecimentos e disponibilidade e que, como em muitos países, é
realizada por um profissional", elucidou.
O dirigente
promete "todo o auxílio exequível": "Tentarei transmitir a minha
experiência e ajudar no que possa ser possível, uma vez que entendo que é
minha obrigação contribuir, já que a experiência que adquiri é uma
mais-valia que não quero guardar para mim".
Mário Santos
defende que o COP tem estado a "evoluir" nestes seis meses de mandato
sob a liderança de José Manuel Constantino, mas adverte que "não é fácil
concretizar grandes mudanças". "Há um caminho a trilhar, mas não é
fácil concretizar grandes mudanças, pois obriga a alterações
estruturais, com custos, também financeiros, com os quais é difícil
batermo-nos. O caminho precisa de passos que estão a ser dados",
considerou.
O ex-dirigente também sossega os canoístas que
revelaram apreensão pela sua saída, relembrando-lhes que "são fortes e
sabem que muito do sucesso da sua carreira desportiva individual depende
eles", recordando as 76 medalhas em Europeus e Mundiais conquistadas
sob a sua égide por "dezenas de atletas".
Mário Santos
demarca-se da seleção do futuro presidente afirmando que "a modalidade
vai escolher", mas deixa o alerta: "É consensual que o rigor, definição
de objetivos e trabalho humilde e sem deslumbramento é o caminho a
seguir e nunca esquecendo a história da canoagem, em que facilitismo e
atalhos nos levaram ao insucesso".
"A canoagem portuguesa é o
exemplo de que é possível fazer muito com pouco. Exemplo que os
portugueses podem ter capacidade de superação nos momentos certos.
Conseguimos ser bons, os melhores. Que muitos consigam fazer isso nas
suas vertentes na vida", concluiu.
* Faz falta.
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