Erro sistémico
A esperança média de vida em Portugal é de 80 anos de idade. Aqueles que iniciam hoje a reforma com 65 anos, irão viver, pelo menos mais 15 anos.
Daqui a 30 anos, em 2040, o Eurostat estima
que cerca de 48% da população portuguesa terá mais de 65 anos de idade.
Ou seja, Portugal tem uma população bastante envelhecida e que vai, nos
próximos 30 anos, exercer um peso significativo ao nível das pensões e
das despesas de saúde. Com o incentivo que tem existido em estimular a
emigração dos jovens de valor acrescentado, e que irão produzir riqueza e
realizar descontos noutros países, está criado o cenário para se
compreender que o Estado irá ter no futuro graves problemas em assegurar
as prestações sociais necessárias ao bom funcionamento de uma economia
com estas características.
A título de curiosidade não resisto partilhar uma situação que vivi
em 2000 aquando de uma entrevista que tive no Banco de Portugal. Uma das
perguntas que me fizeram foi "Qual é o maior problema que vê na
economia portuguesa?". Eu respondi "As pensões futuras e a inexistência
de um mercado privado de pensões". Foi uma entrevista ao mais alto nível
para o departamento de estudos, e a resposta de um dos entrevistadores
foi "Não vejo qual é a relação entre a pergunta e a resposta". Existiam
três vagas e dois candidatos. Eu não entrei.
Não antecipar os problemas, não compreender a realidade sistémica em
que vivemos, origina respostas imediatas, injustas, erradas e
possivelmente inconstitucionais. Não faz sentido portanto quebrar o
acordo social que o Estado estabeleceu com aqueles que decidiram, no
passado, trabalhar para ele. Faz sentido sim, criar-se novas regras para
o futura e que possam incidir sobre a geração que hoje tem 40 anos, e
que pode assim adaptar-se, em tempo útil, a uma realidade futura ao
nível das pensões. Não é correcto incentivar o conflito de gerações, e
muito menos o conflito entre o mundo "privado" e "publico". A política, a
meu ver, não deve encorajar o conflito da população. Deve sim,
respeitá-la e valoriza-la.
IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
13/09/13
.
Sem comentários:
Enviar um comentário