HOJE NO
"PÚBLICO"
Tribunal decide que chamar "incompetentes" e "ladrões"
aos serviços fiscais não é crime
O Tribunal da Relação do Porto considerou que expressões como “abaixo
estes ladrões” ou “incompetentes” dirigidas a um serviço de Finanças
não podem ser consideradas um “crime de ofensa a organismo, serviço ou
pessoa colectiva”. A decisão é a resposta a um recurso apresentado por
um contribuinte, que tinha sido condenado ao pagamento de uma multa por
ofensa aos serviços fiscais.
A 30 de Março de 2010, um contribuinte enviou um email
às Finanças de Gaia a pedir explicações sobre a cessação de benefícios
fiscais a que teria direito. Na mensagem, os serviços fiscais são
considerados “incompetentes de merda” por não responderem à reclamação
do contribuinte. A 5 de Abril é enviado um outro email, mais
uma vez a alegar a falta de resposta por parte das Finanças. “Abaixo
estes ladrões” foi a forma encontrada pelo contribuinte para manifestar a
sua indignação.
As Finanças levaram o caso a tribunal e o 3.º
Juízo Criminal de Vila Nova de Gaia decidiu condenar o contribuinte a
uma pena de 70 dias de multa, à taxa diária de sete euros, num total de
490 euros, bem como ao pagamento das custas do processo. O condenado
recorreu da decisão e o Tribunal da Relação do Porto decidiu este mês a
favor do queixoso.
Segundo o acórdão do Tribunal da Relação do
Porto, apesar de “difamatórias” para com “as pessoas concretas que têm
tido intervenção nos processos que o arguido tem pendentes nesse serviço
[Finanças de Gaia]”, as expressões utilizadas não representam um “crime
de ofensa a organismo, serviço ou pessoa colectiva”. O tribunal indica
que este tipo de crime “supõe a imputação de factos inverídicos, não a
formulação de juízos”.
O tribunal considera que a expressão
“abaixo estes ladrões” pode “ofender a honra e consideração de uma
pessoa singular, mas não o crédito, o prestígio ou a confiança de uma
pessoa colectiva”. Neste caso, para haver uma possível condenação, a
queixa deveria ter partido dos funcionários a quem o contribuinte
atribui incompetência e não à instituição onde trabalham, as Finanças de
Gaia.
* As teias da justiça faz com que esta pareça uma tarântula.
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